domingo, 5 de maio de 2013

um rosto desenhado

Não, quem desenha sabe do que falo.Talvez o mesmo aconteça ao se descrever algo por palavras.Quando se conhece a pessoa, cai-nos um espanto; quando não, o mesmo acontece.Pode ser que nunca venhamos a conhecer a pessoa, mesmo que essa seja a nossa própria, descrita num auto-retrato.Mas, salvo se o narcisismo for além do imponderável, no auto-retrato busca-se menos a própria beleza que se vê do que o interior da alma que se des-vê.Mas o que se falar de um rosto que se desenha, apenas porque o achamos belo?Pode-se desenhar um rosto belo por vários motivos.Mas e a sensação de beleza a que ele nos conduz, como descrever?Repentinamente nos vemos batendo nas portas da alma do retratado.Mas , se as nossas próprias parecem cerradas...É sempre um esforço vão, tenha-se ou não talento.São apenas pistas a que corremos atrás com a sensação da inutilidade do esforço.


             Um Rosto Desenhado

     Nem sei de onde és, para onde vais
Por tua face deslizo minha imaginação
por entre os ninhos de dúvida
que o tempo fez em pedra na mente.

Ah, demente!
Atrás das formas inatingíveis da inexistente beleza
a beleza que não existe ou resiste
apenas insiste, abrasiva.... persiste
em bater na alma pelas portas do olhar.

Pensar: quem és, de onde és, o que pensas?

Apenas linhas no desalinho de minha vida,

todo  rosto esconde algo que não é
deixa ver o que é por trás dos detalhes.

Quem sabe o olhar irônico, a sobrancelha arqueada,

um pássaro volteando na planície de seu rosto.



E eu, em desgosto, na plenitude franqueada

de pensar  a linha, o lápis devorando a ansiedade do branco

no vão esforço de querer dizer algo que não se pode.

A beleza passa, mal sei o que é
não sei se o vulto que espanta, encanta
não sei se um momento de estranheza.
Sei
ficaria melhor no mergulho de meu interior
mas as aves de dentro batem as asas, as mãos, antes desvividas
agora revividas pela vontade antes gasta
querem os céus, esses céus que passam com o encanto
o mistério do rosto da moça que passa, devasta
todo o silêncio mórbido que empedrava o coração.

Mais que vulto, insulto à minha coerência desvalida
essa muleta com que tento levar a vida
mas pouco me revela, desvalida
a fragilidade minha à beleza perdida.

Ela, vindo e passando, distante
silhueta cantante, um sol penetrando a noite...

Nos traços finos e escuros violando o branco
um rosto  surge em meio ao que sou
da lembrança do que vi, sobra o espanto.
A moça que passa é um suave
encanto.
Por trás do papel, apenas o silêncio do canto.

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