segunda-feira, 24 de setembro de 2012


    Fico pensando se o pessimismo não tem alguma origem genética.Filosoficamente é uma forma de pensar muito antiga, de ver as coisas sobre o prisma do “quanto pior puder , pior será”.Assim como o otimista, vejo o pessimista como inconveniente em algumas situações.Dialogamos com as duas partes em nosso interior; diálogo confuso, cacofônico, sempre inconcluso e cheio de estridências.Ontem estava vendo o filme Melancolia, daquele diretor nórdico famoso e com freqüência acusado de fascista, Lass von Trier.Aliás, o pensamento fascista é sempre acusado de ser pessimista, o que não tem consistência filosófica como juízo de valor, pelo menos para quem se interessa em pesquisar o interior das carnes ocultas do fascismo(fenômeno universal e cósmico ,segundo o Jorge Mautner).Por exemplo: os nazistas sempre acreditaram que podiam ganhar a guerra, mesmo quando essa já estava perdida.Haja otimismo!Mas sabem como é : em termos de Europa, acima da Normandia , quanto mais próximo do círculo polar,as coisas já começam a ficar cinzentas.É só pensarmos no gênio Bergman.O filme que vi tem imagens muito bonitas e é bem construído, nos personagens, nas falas, nos ritmos.Sim, com efeito é um porre de pessimismo.Mas na arte o pessimismo funciona, não faz mal.Na vida real não adianta muito porque atrapalha o cotidiano, tanto quanto o otimismo ingênuo e cegante.Em termos reais, mais fácil seria trabalharmos em termos estatísticos e, com isso, muita coisa ganharia consistência, até mesmo o amor sendo uma possibilidade estatística, apesar desse mundo.Mas enquanto um planeta Melancolia não nos vem livrar desse outro lado, d’aquém morte, a gente ainda vai continuar olhar para o céu buscando alguma estrela nova.Queira-se ou não.A vida é um troço muito teimoso...

sábado, 22 de setembro de 2012

Um velho ditado italiano diz que "prima di vivere insieme, bisogna consumare un sacco de sale"(antes de viver juntos, é preciso consumir uma saca de sa)l.Em resumo, quer dizer que é preciso de experiência de convivência para tolerância, sem a qual relacionamento algum dura.Mas onde está a tolerância nos dias de hoje, em meio à ansiedade do supérfluo e do passageiro?Na verdade não quer dizer que se deve esperar o tempo passar para melhor conhecer o outro e sim, em verdade, se acostumar ao outro.Porque conhecer, no duro mesmo, você pode passar a vida toda e não sabe ao certo  quem é aquele que  está ao seu lado.Ou pode-se iludir, imaginando que realmente sabe.Nunca vi presunção maior do que ouvir a frase: conheço você tão bem como a mim mesmo.Quem realmente se conhece tão bem assim?

sábado, 1 de setembro de 2012

Cézanne era um temperamento difícil, mais difícil ainda de se relacionar, mas tinha uma sensibilidade extraordinária, fora do comum.Um pensamento seu é fundamental:" é preciso que sejamos humildes com a natureza".Por sinal, isso já foi endossado por muitos grandes artistas.Como existe hoje uma dissociação maior entre homem e natureza nos dias atuais, natural que essa forma de pensar seja um tanto ausente em meio ao intelectualismo que infesta a contemporaneidade, haja visto a quantidade de "bulas" explicativas em eventos como uma bienal.O quadro de Cézanne, especificamente a paisagem, na mostra dos impressionistas agora na cidade , demonstra bem sua angústia em tentar apreender pela visão o que seria a essência de uma paisagem.Esforço que ele sabia ser inútil, já que a natureza, em si, é mesmo inapreensível, sendo a arte um vão esforço de se aproximar do  coração da vida, quando muito do calor desse coração.E seus quadros, tanto os da vida como os de Cézanne, sempre me produzem inquietação, me perturbam por me revelarem o quanto tenho limites para enxergar o que vejo ou ver o que enxergo.