quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Meu exílio aqui(pequeno poema)

Aqui cavei com asas inexistentes
este exílio no céu de meus sonhos e prazeres
longe do mundo em que não reconheço

desconheço

em todos esses loucos afazeres
um sentido a dar ar à minha alma

feneço

no inferno descortinado desses dias
cadáver infenso e suspenso no átrio
em que me erigi ao pé do mundo

vagabundo

nesse jeito de estar que não desfaço
indo pouco, fundo, imundo
na mentira em que me forjo

Pouco faz a mim que o mundo me veja morto

absorto

já em meu destino de sempre torto
para esse mundo creio já estar morto.




(em lembrança de um lied de Mahler)  14 de janeiro 2014


quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Carta ao meu amigo apocalíptico

 Meu caro,

solidarizo-me com sua preocupação a respeito do interesse, por parte das grandes potências e interesses comerciais, de ocultar do grande público os efeitos das radiações.Contudo, sabemos que muito noticiário científico é pautado por certos alarmismo que visam despertar os interesses gerais sobre o próprio noticiário.Mas convém não acharmos que o mundo já está acabando.Não queremos isto, nem para nós, nem para o mundo.Tal interesse demonstra a manifestação dos instintos de vida.Todavia, posar de Zé do Apocalipse pode virar algo caricato.
     Acho que o efeito dessa canícula que atropela a cidade, essa falta de ar em meio a um tórrido sol, está despertando um certo alarmismo.Aliás, você sempre demonstrou alarmismo em tudo.Acho o pessimismo tão perigoso quanto o otimismo.O negócio é ver além das transparências.
     Você parece não ver futuro em nada, já que parece crer que não resistiremos ao aumento da radiação, a qual, inclusive, matará o funcionamento do bráulio(dito: pênis).Interessante essa preocupação com o funcionamento do bráulio.Eu me preocuparia com outras funções de saúde.Mas nós homens somos assim: a primeira preocupação que surge é com o funcionamento de nosso "apêndice" com complexo de superioridade, ah,ah,ah.Eu relevei que talvez pudéssemos viver em cavernas, como foi sugerido pelo Doutor Fantástico, daquele fantástico filme , em caso de catástrofe atômica.No caso, em função de catástrofe cósmico-radioativa.Você ironizou e me disse: de que adianta, viver em caverna e não ter aquele troço funcionando.Esqueceu de rins, coração, pâncreas, etc.
   No futuro, se houver, no espaço teremos que criar gerações de humanos
mais resistentes à radiação.Se passar um cometa imprevisível por aqui,
também pode acabar com tudo.Tudo é frágil.Mas eu entendo sua
preocupação.Essencialmente voltada a isso em função de morte
recente de ente querido Por que negar?E por que não chorar?Minha mãe morre, morre o mundo, que morra o mundo, então, pela minha imaginação apocalíptica!Estranho não? Nosso ego individual nunca se liga a um ego coletivo?Superego é que não falta.Isso, eu não nego.
    .Não adianta a gente vir com o papo de medo pelo futuro da
humanidade.Temos medo de nossa própria morte.Quem sabe criem-se formas
artificiais de bráulios ou sexo no futuro, seja ele próximo ou distante.A questão é resistir, dentro de nossas limitações aos influxos de negativismo e da vontade de morrer.Sim: acredito na existência disso dentro de nós; e precisamos, todo dia, a todo momento , lutar contra esses impulsos de destruição e auto-destruição..A humanidade age como força geológica,
mexe na atmosfera, mexe em tudo.Quem vai sobreviver?Considero-me
morto. Revivo em alguns momentos.Em todos os momentos em que me conscientizo de que estou vivo.Não gosto muito de falar isso em
público porque atrapalha os relacionamentos sociais, os poucos que
ainda mantenho. Nosso negativismo pode pegar mais fácil nos outros do que gripe.Quando desperto do sono- que me parece ser uma forma
alternativa de morte curta- sinto como se tivesse ressuscitado.Não dá
mais para me envolver em discursos apocalípticos.É sempre um dia após
o outro.Importante se alertar sobre os riscos, inclusive da radiação que pode produzir mais câncer do que se imaginava.Sombra e gelo na cabeça, para esfriar as idéias.Ou em partes mais baixas, em momentos inadequados...
     Mais milagre do que sobreviver às radiações é a humanidade ter
resistido às suas formas de auto destruição com guerras. Ou eu ao meu casamento, ah,ah,ah.Vai que
aparece uma peste negra, uma super-bactéria.E se tivermos que viver em
cavernas?E se eu tiver que viver numa cadeira de rodas por causa de um
avc?O homem é uma anomalia da natureza?Não sei,Vejo em internet e
outros meios vários assuntos de como a humanidade ruma à sua própria
destruição, desde o uso indevido de dietas até a destruição de
cinturões protetores, com a criação de cinturões destruidores.O cinema
americano usa muito isso. Lá pelo início dos anos oitenta, imaginava
que o mundo podia cair numa guerra nuclear.Hoje sabemos que o negócio
quase melou de vez na crise dos mísseis em Cuba.Mas nada nos impede de
sair por aí, placas na mão alardeando o apocalipse.Dou toda a
força.Afinal, qualquer atitude que não colabore para as forças de
extinção da vida merece meu apoio.E se o braulio não funcionar
mais?Bem, teremos que usar um pouco mais de imaginação.Se sobrar
instinto para tal.Mas eu não avacalho, não, como você me acusou.Coloco apenas meu ceticismo
acima de tudo.E de todos.Inclusive dos seus alarmismos.A morte virá mais hora , menos hora.A questão é aproveitar o momento.Externa ou internamente ao mundo.O universo existe dentro e fora de nós.

domingo, 5 de janeiro de 2014

O mistério dos pelos

Pelos, por que tê-los?Pobres mulheres!Tenho ouvido depoimentos horríveis sobre sessões de depilação, alguns dignos de evocar os relatos de tortura, quando atuei no comitê do Tortura Nunca Mais.Claro, exagero.Contudo, não há como negar que elas sofrem um bocado com isso.E o negócio caiu na radicalidade, não deixam sobrar nada.Que aflição.Questão de moda, costumes, coisas que podem e ir e vir. Como tatuagens.Mas estas são mais difíceis de sair, mais complicado do que deixar ou cortas as penugens.Até o início do século passado as mulheres pouco se depilavam.A moda francesa de vestidos mais cavados começou por imputar maldição aos pelos de axilas.Houve uma certa onda naturalista, com a qual convivi, lá pelos anos oitenta, com moças se depilando menos.Agora, parece que a moda galinácea pegou no breu, pelos menos em termos de galinha depenada.Imagino que todas as mulheres devem se sentir umas galinhas....depenadas, após uma drástica depilação.Parece que pelo virou sinônimo de anti-higiênico.Pelo que sei, anti-higiênico é falta de higiene.Depilação entre mulheres de esquimó não deve funcionar, imagino; deve dar alergia.
Como amo pintura, especialmente os nus de Modigiliani, observei como o grande pintor dava uma harmoniosa participação dos pelos de axilas em suas composições, com uma sutileza de mancha que fazia parte do ritmo plástico da figura.Praticamente todas suas figuras têm pelos nas axilas e cabeleiras variadas em torno do maior mistério do mundo, depois do amor e da morte; por sinal, a fonte primária de ambos. Impossível imaginar esses nus sem os pelos.Acredito que o famoso quadro de Courbet, O Nascimento do Mundo, não seria o mesmo depois de uma depilação moderna.Sem dúvida, seria menos intrigante.Seria o Fim do Mundo!