segunda-feira, 26 de setembro de 2016

pensamentos 26/9

Assim como não se banha duas vezes na mesma água do rio, não se encontra duas vezes a mesma pessoa no mesmo caminho, não se faz duas vezes a mesma coisa na mesma situação.No fundo, desde os gregos pré-socráticos até os dias de hoje, permeia-se nossa atitude entre ver tudo em movimento ou tudo se repetindo.Desde nossa vida individual até os eventos históricos e coletivos em que estamos envolvidos, sempre uma opção entre atuar dentro de um movimento em ação ou se encontrar um barranco para, recostado, ver tudo passando e voltando a ser o que, aparentemente, sempre foi.Por mais determinismos que nos impulsionem, sempre há a possibilidade de fazer algo por nossa vontade e deliberação, mesmo que isso implique em dar com os burros na água.Essa mesma água que nunca está parada, mesmo numa poça, já que ela, simplesmente, com nada a  se fazer, tem como destino...evaporar.

Sempre é mais fácil capitalizar o ódio do que o amor.O ódio tende à destruição, à anulação do que é vivo e expansivo, ao nada, à imobilidade ou inércia sem vida, à inorganicidade.Sua vocação é desligar antes que ligar, para, enfim, evitar a multiplicidade..O amor é naturalmente expansivo, orgânico e tende naturalmente a ligar.O ódio desenvolve forças dinâmicas, físicas, químicas e energéticas que, soltas e sem aproveitamento pelo amor, apenas resultam em vazio e silêncio,Administrar o ódio é a única forma de amar.Inocência nossa acreditar que não há ódio dentro de nós, assim como há células ou micro-organismos lutando pela desagregação de nosso próprio corpo.A nossa luta não é para morrer- já que o fim é inevitável- mas para se continuar vivo.O que ocorre nesse nosso estranho e silencioso mundo interior também ocorre no exterior, na vida pessoal, social, entre povos, grupos, classes, famílias ou nações.O amor é entrópico, o ódio é entálpico, para quem se interessa por física e termodinâmica. Homens e formigas são bichos estranhos, parecem agir contra as leis cósmicas que conhecemos.O grande mistério não é a irracionalidade mas sim o seu contrário, a racionalidade, a única coisa que pode nos salvar.Se é que podemos ou queremos nos salvar.Mas, no fim, tudo é mistério.

A gente sempre corre o risco de se acomodar com a repressão externa(política, cultural, social e outras) assim como fazemos com nossas mediocridades.Aí deixamos de buscar os extremos, ficando apenas no médio.E no médio a mediocridade se refestela.Para gaudio dos políticos, especialmente os reacionários.

Sobre a forma de ser hiena


      Cada um tem o direito de se refestelar com a carniça que lhe convém.Nem preciso me atualizar porque já estou velho demais e há muito, muito tempo que não suporto como nos conformamos com pouco por aqui, nesta porcaria de trágica ascendência histórica...Há hienas ilustradas, sofisticadas ou simplesmente toscas, para todos os gostos; inclusive vegetarianas, pós-modernas, metidas a descoladas, alternativas, mas no fundo tendo a mesma origem animal, fedendo um bocado(tanto faz se física ou moralmente)se adaptando à podridão nossa de cada dia..No fundo, o fedor é universal, apenas o perfume desodorante dos modos ou forma de mentir alivia o ar.Apenas surgiram do fundo das savanas tropicais brasílicas umas mais ferozes, mais sedentas de sangue, mais vorazes..A mesma irracionalidade animal de sempre.Enfim, os grandes predadores sempre dominarão savanas ou florestas.Pelo menos até que elas acabem.Aliás, consultando manuais de zoologia(assim como de história) percebemos que há diferenciações entre elas, hienas, por base genética.Mas as hienas originais, não as nossas, têm importância e função na natureza.As nossas são inúteis, o mundo e a natureza não se ressentiriam de sua ausência súbita.Não se deve caçar hienas.As africanas, bem dito..As brasileiras, apenas as desprezo.Sem diferenciar, não me preocupo em caçar o que desprezo.O tempo se encarrega de fazer com que tudo vire carcaça.

O semi-analfabeto político

Fala-se muito sobre o analfabeto político.Mas o que dizer então do semi-analfabeto político?.Aquele que, tentando se despir de emocionalismo de momento ou de influência de propaganda ou ilusão, procura refletir sobre uma posição a tomar, mas vai só até....a página 2.Não consegue ir mais a fundo, a complexidade o ameaça e à sua auto suficiência, não logrando com isso descortinar o tecido de interesses que manipulam os poderes aos quais, ele, por vezes bem intencionado, se submete mesmo sem perceber. Com frequência adere ao discurso oficial autoritário e autorizado com viés democrático e elucidador.Daí que, mesmo posando de anti-sectário ou tolerante, aparentemente demonstrando mais consciência que o pleno analfabeto, já estabeleceu dentro de si, dentro dos limites de sua auto-reflexão, uma barreira que o impede de ver além das sombras que se projetam na caverna.O analfabeto nem ao menos tem interesse ou coragem de entrar na caverna.Ou as portas da mesma para ele estão cerradas.O semi toma as sombras que lá dentro vê pela corporeidade que em verdade as produziu.No final, pode não passar, como os demais ,de mais uma vítima de efeitos especiais. Como alguém que fala a língua mas não consegue descrevê-la em símbolos gráficos. E, como sempre, os limites entre ingenuidade e estultice são muito, muito tênues.

Quando não se tem nada, exceto a razão, tudo nos impele para algo além da própria razão.

O homem racional sempre será uma irracionalidade domesticada.
Há gente que diz não acreditar no inconsciente.Normalmente, são as  pessoas mais confusas na consciência.Por acreditarem demais na própria consciência.

Entre um pássaro na mão e dois voando, prefiro não inventar nenhuma forma de gaiola artificial

Então, numa conversa com uma amiga, aparentemente anti-convencional e anti-burguesa, ela me vem com o papo de que o que mulher mais aprecia num homem é seu poder ou prestígio.Aí fico na minha, já que poder, para mim, sempre se relacionou mais com algo de mim para mim mesmo, necessidades de meu interior, mais importantes do que a forma como meu interior se impõe ao exterior.E prestígio?Sempre o considerei um acaso e uma prisão para quem o define como estratégia de vida.Logo, é espantoso  que eu tenha atraído algumas mulheres. Pelo menos algumas que, definitivamente, pelo menos em algum momento de suas vidas, não deviam pensar como essa minha amiga.Se é que uma pessoa assim de fato pode ser minha amiga.Ou merece sê-lo.

O mundo é feito de ilusão?Talvez estejamos entrando no nível do onírico tecnológico.Aí a ilusão vira uma realidade.Medida financeiramente.


Se pensarmos demais na sexualidade, talvez sejamos

instados a desistir de exercê-la.Malgrada nossa vontade.



O espelho tem sido meu melhor confidente.O problema é sua indiscrição : todo dia a me lembrar o lento trabalho que a morte faz.Essa morte que está sempre dentro da gente, apenas não a percebemos.Porque acreditamos no tempo.

domingo, 25 de setembro de 2016

Alguns poemas 26/9

Posso olhar as árvores, mas nunca as terei.
Tenho-as em meus olhos, sempre as sonhei.
Falo delas como de belas mulheres floreando no mundo
Louvá-las  todas me resta, no mistério delas me infundo.
Vejo suas copas floridas, os galhos arqueados em flor
Mas são árvores, comigo não falam nunca - ah, que dor!
Falassem comigo e não seriam árvores, outra coisa sim
basta-me o olhá-las, a mim um segredo de marfim.
E as belas mulheres que olho e venero, não insisto
basta-me vê-las , observá-las, fingir que existo.
Porque nesta vida nada se tem, seja árvore, seja mulher

senão sua beleza ,seja da forma  ou jeito que  vier.


Esses cabelos flutuam ao vento
além do vago sonho pensamento
suaves tais adornos de lamento
emolduram mistério a esse rosto
nesse olhar  de menina ou mulher
inquestionável , posto que é posto
além desse vento que varre o desgosto
Ah!   beleza pura que é uma verdade!
Oh, meu coração, tenha lá piedade!
Única verdade que a si se encerra
Única coisa a valer nessa pobre terra


Choremos hoje nossos mortos
Eles se despedem silentes
como se viajassem sem prometer mensagens
a nós, aqui
nessa estranha dimensão de não morte
ensaiando o encontro indefinido
sempre pressentido, nunca esperado
da eterna desesperada, nada superado
do reencontro indeferido, deveras saturado
de ver no coração a lembrança deles
 desses nossos mortos, mortos do mundo, daqui
d'além, afora as coisas fúteis e sem sentido
dessa vida vida louca, perdida no sublime e abjeto
enquanto eu...ai, que me sinto arrependido
nem sei do que, talvez daquele último e falho projeto.
Nossos mortos que não morrem, apenas dormitam
nesse peito nosso adornado de plumas desejosas
a reviverem a cada dia nosso o espaço deles onde transitam
nessa nossa miséria e glória de existir, meio sem saber.
Enquanto vagam,sombras de nosso passado
em que estranho canto se escondem,  os sapecas?
Esses nossos mortos que não morrem nunca...


Apenas Contemplar-te

Deixa-me contemplar-te na beleza que és
Deixa-me contemplar-te no que imagino que és.
Deixa-me perder nas formas que és
Deixa-me perder-me nelas como quem mergulha no oceano e não volta para esse mundo de castelos frustrados.
Como quem se esquece sob os ruídos estranhos, castrados,
que surgem das florestas, da noite misteriosa,
seja ela a noite física ou a noite da alma.
 Para, na esperança tola de uma calma,
sorver-te na luz obscura do sonho pensado,
jamais imaginado, cingido entre a multidão de sombras e sobras,
por seres em ti o reflexo das auroras que não terei
e imaginarei,
eu, pobre devoto da geometria misteriosa de tuas carnes,
imerso nos aromas oceânicos de teu sexo,
o qual, como tudo em ti. não tocarei, apenas contemplarei,
resignado e prostrado, vassalo de ti a contemplar-te
sem possuir-te,  nessa vida em que nada se possui além da certeza da morte.
Apenas olhando, como quem se lança ao silêncio de uma paisagem.
Para no final, a ti romper em soluço meu peito,
tu, metade estranha e igual ao que sou,
apenas, quem sabe, uma forma distinta de outra face da moeda,
tu, estranha forma de eletricidade de polos opostos ao meu,
distinguir-te como algo que já tive, não terei,
sombra florescente onde sempre morrer sonhei.
Deixa-me contemplar-te, apenas, sem tocar-te,
no mundo em que solidões e silêncios confraternizam,
para, de alguma forma e só simplesmente amar-te.

sábado, 10 de setembro de 2016

A LUTA SEMPRE CONTINUA

NO FUNDO, A LUTA NUNCA DEIXOU DE CONTINUAR
A resistência sempre acaba sendo uma obrigação moral
Na França invadida e dominada pelos nazistas na segunda guerra, contando com um governo colaboracionista(Vichy), com a impossibilidade de se combater esse poder com a força, restou a toda inteligência consciente, fosse intelectual ou não,fosse nacional, patriótica ou simplesmente humanística, que não compactuava nem aceitava aquele estado de coisas, assumir uma posição frente aos fatos.Colocava-se a questão: compactuar ou não?Há momentos em que nossa dignidade impõe a intransigência.Era o caso: impossível aceitar ou compactuar com os nazis.Daí surgiu o espírito da resistência, em todas as frentes.Inicialmente, apenas no plano ideológico, procurando fazer com que um número menor de cabeças aderisse ao status quo de poder e organização invasora das forças de Hitler.Os alemães procuravam "ganhar" a cabeça das pessoas, fosse com a imprensa oficial e propaganda, fosse com a intimidação, com aparentes benesses de invasor "tolerante", fosse usando a gestapo ou a polícia francesa colaboracionista.Fisicamente, a expulsão dos alemães só poderia se dar em outro contexto de forças, com uma futura invasão aliada, com o desmoronamento do Reich.
Assim são as coisas na vida e na história.Por vezes, o primeiro passo é a intransigência, contra ditaduras, arbítrios e ilegalidades, contra os variados golpes de força que procuram retirar a capacidade de discernir nas pessoas.O mundo moderno conta com recursos admiráveis de lavagem cerebral e idiotia, ética ou política..
O velho mote , ainda dos tempos em que a ditadura estava ruindo por aqui no início dos anos oitenta, nunca deixou de ter validade: a luta sempre continua.Sempre continuou, nunca deixou de continuar.Só ingênuos acreditariam que fadas do destino colocariam o país por inércia no caminho democrático moderno,seja pelo messianismo ou pela fortuna, com tanta cultura e etos atrasado, num país em que a escrivadão acabou, grosso modo, ontem. Dentro e fora da cabeça das pessoas é uma luta constante por modernidade e senso democrático, informação real ou cultura.O país ainda é um mar de preconceitos banhado por um vasto céu de incultura..A peste sempre está dentro e fora do organismo que ela destrói.