domingo, 28 de agosto de 2016

Para lugar nenhum

  Credo, que esse ano de 2016 já é algo que gostaria de retirar do histórico dessa minha pobre e porca vida.Nada a comemorar, exceto realizações de fundo psicológico e pessoal por si só  não compartilháveis, infelizmente. Mas já houve anos mais sinistros na história, claro.O que não parece  claro é nosso futuro.Político, principalmente.Entre realista e pessimista, acredito que as coisas andam muito, muito devagar por aqui.Por isso é que quando alguém, grupo ou partido chega ao poder  diz que precisa de vinte, trinta(!) anos para realizar seus planos. Aí eu me lembro de revoluções ou guerras que mudam tudo em poucos anos.Mas por aqui seguimos o ritmo das longas e intermináveis noites tropicais, sob o estranho calor que amortece nossos dinamismos luciféricos que por vezes nos trazem a luz.Ou as trevas, dependendo do contexto.
     Parece que a democracia chegou por aqui há pouco tempo.Se é que chegou.Mais e mais, largo certos idealismos de ordem filosófica metafísica, coisas derivadas um pouco de categorias abstratas sem base nas conquistas da ciência e de nosso domínio do mundo material que nos cerca desde que descemos das árvores, as mesmas árvores onde subimos quando há deslize de censura ou repressão. Afinal, todos somos um pouco de nossos primos símios, não é mesmo?Mas lanço a pergunta: quais as condições para se viver mais harmoniosamente num país gigante, sem cultura e com conteúdos atávicos profundamente autoritários, mantendo justiça e princípios democráticos?Quando é que fugimos da figura do pai que nos cerca e nos indica o caminho?No fundo, o país ainda é uma grande Casa Grande e Senzala.Mudam-se os administradores ou a qualidade da ração(angu) para que se mantenha sempre o chicote à vista.Talvez uma tragédia de genética histórica.O Brasil cordial é uma grande mentira, tão grande quando a tal da tolerância e integração de raças e classes.Misturam-se as bases culturais.Cultura é um conjunto de nexos, símbolos, imagens e mitos que penetram a interioridade do ser.Algo mais difícil de ser contido.Parece resistir, junto com a arte que é produto seu, mais do que muitos estados, nações, povos ou convicções.O antigo Egito ou a Grécia clássica que o digam.
    E me pergunto de novo: o El Dorado tapuia será eterno?Temo, certeza plena, que não terei tempo para ver.
   E agora esse momento Temerário em que não podemos ter a mínima certeza de nada, a não ser que a impunidade dos maiores bandidos e criminosos continuará.E quem me contradiz nisso?Infelizmente.
   E essa palhaçada de impeachment, outra farsa( a primeira foi a do Collor, mas nesse caso nem a mãe dele mais o aguentava no poder) desenvolvida a partir das relações de poder e das necessidades básicas de remuneração do capital.Fica-se discutindo semântica, se é golpe ou não.Para mim, apenas atesta que democracia formal por aqui não funciona.Mas, claro, ditadura nenhuma funciona.Ditadura atua contra leis básicas da física, é uma violação do princípio de entropia aplicado ao social.Contudo, o caos não nos leva a nada.Exceto no amor( com ressalvas) e na arte  a anarquia funciona.

 Ora, política institucional é teatro mesmo. Quem sabe já se imaginam, os políticos de sempre em suas tertúlias a apresentações públicas,  em alguma novela ou série de tv.Já tivemos até presidente da mais poderosa nação que era ator.Por sinal, um terrível canastrão.Mas para o burlesco do congresso brazuca funciona até coisa pior.O pior mesmo é que o dito pela senadora petista  é verdade: o senado não tem moral.Como também o resto do congresso.Como a maioria esmagadora dos partidos .Acrescentaria nisso o resto da população, alienada politicamente e que nem sabe em quem votou, na grande maioria, seja para senador ou deputado. Veja-se o nível dos líderes na corrida para prefeito nas duas maiores cidades do país.Não me surpreende que o usurpador governo atual corte programas de alfabetização.A ignorância é mais fácil de se manipular. Assim como o analfabetismo político instigado pelos poderes, pelos partidos e suas lideranças.Coerência é coisa rara, qualidade desconhecida na terra do Currupira e da Iara.A televisão que diga como se vale desses atributos de nossa cultura..O grande circo em que se transformou a nação- no fundo, o toldo nunca foi desmontado- virou uma opereta bufa de má qualidade musical e enredo pífio.Como convivi com o habitat dessa gente que chafurda pelos corredores do poder, posso afirmar que na política há a aglutinação do que de pior é gerado pela espécie humana.A política sempre foi e será um mal necessário, dado o fato de que o poder ´tem que ser administrado. Sócrates- aquele mesmo das calendas gregas- já nos tinha dado a deixa.Mas às custas do nosso estômago, para a dor de nossa consciência é que tal se realiza..Evidente é que democracia( pelo menos essa tradicional, moderna e burguesa) sem cultura básica não funciona, ou funciona aos trancos como no nosso caso, com palhaçadas ou farsas, como esse ridículo processo de impeachment, rumo a colocar no cargo uma figura ridícula que é o espelho de nossa falta de senso do ridículo. Sem que qualquer vontade popular democrática seja respeitada.Mas povo, quem se importa com ele ou coisas populares.Impopular é não ser populista por aqui.Somos todos palhaços e nem ao menos sabemos fazer direito um nariz de palhaço.Que sorte que não sou mais jovem.