quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Por um sentido na vida

Einstein achava que a vida não tem sentido.No fim da vida, em suas últimas conversas, Freud achava o mesmo.O existencialismo, os personagens de Camus ou Sartre, não enxergam tampouco sentido algum nas coisas.Penso nisso desde minha juventude, concluindo que, afora dentro de uma estrutura lógica causal, mal tem sentido usar, subjetivamente, o conceito de sentido da vida.Russell achava ruim, maléfico até, não ver sentido algum nas coisas, algo que poderia nos guiar ao niilismo.Mesmo que não consigamos enxergar uma lógica ordenatória do universo, a sabedoria de "um olho que tudo vê", sem muleta religiosa- para mim, claro; visto que não é mole viver sem acreditar em transcendência além dessa vida- ou algo parecido para nos aliviar do peso da existência, não é necessário viver dentro dessa angústia apreensiva sobre o sentido ou não sentido do universo.A morte bate em nossa porta e corremos logo para a porta dos fundos, em busca do sol do quintal, o sol da vida.Toda ausência de dor ou privação já é uma dádiva.Sísifo necessita mesmo de imaginação.Ou seja, nas pequenas coisas podemos ter a construção de um sentido, imaginário que seja, para a própria vida.Não estar morto é o sentido da vida.A vida se mantém vida pela nossa transpessoalidade, pelos legados aos semelhantes, mesmo em dúvida sobre tudo.A dúvida é um sentido.Isto já não é pouca coisa.Se, na jornada curta da existência, deixarmos alguns rastros, isto já é uma conquista.Talvez seja mesmo manter o amor aceso dentro de nós o próprio sentido, talvez o único sentido da vida.Venha ele como vier, como puder, da forma que ocorrer.Não é tarefa fácil, é sacrifício de Sísifo.Como dizia Russell, " o amor é sábio, o ódio é sempre tolo".O sentido é manter a civilização viva, desde nosso minúsculo cotidiano até o universo mais amplo, silencioso e quase inexpugnável aos nossos olhos.Mesmo que não possamos alcançar esses céus tão distantes do poder de nossos curtos braços, pelo menos podemos buscar algum céu dentro de nós.

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Esses mortos(poema)

Choremos hoje nossos mortos
Eles se despedem silentes
como se viajassem sem prometer mensagens
a nós, aqui
nessa estranha dimensão de não morte
ensaiando o encontro indefinido
sempre pressentido, nunca esperado
da eterna desesperada, nada superado
do reencontro indeferido, deveras saturado
de ver no coração a lembrança deles
 desses nossos mortos, mortos do mundo, daqui
d'além, afora as coisas fúteis e sem sentido
dessa vida vida louca, perdida no sublime e abjeto
enquanto eu...ai, que me sinto arrependido
nem sei do que, talvez daquele último e falho projeto.
Nossos mortos que não morrem, apenas dormitam
nesse peito nosso adornado de plumas desejosas
a reviverem a cada dia nosso o espaço deles onde transitam
nessa nossa miséria e glória de existir, meio sem saber.
Enquanto vagam,sombras de nosso passado
em que estranho canto se escondem,  os sapecas?
Esses nossos mortos que não morrem nunca...