sábado, 25 de agosto de 2012

Já passado tanto tempo, tendo que aguentar os que me diziam como ser feliz, sem  que prestassem atenção melhor à possibilidade de comigo compartilhar  felicidades,  fiquei farto dos imperativos.Parece que todo mundo tem solução...de almanaque, não de reflexão.Porque, se refletir mesmo, vão concluir que muita coisa não tem solução.Inclusive a solução fácil para a tal felicidade, esse objeto abstrato menos palpável que espíritos, duendes, fadas, essas coisa que nos parecem mais reais, pelo menos na imaginação.Até parece que os que nos acusam de falharmos na busca da felicidade, querem mais se refestelarem com o  sentimento de culpa que pode se instalar no nosso interior.Céus, que existem formas  sutis de sadismo na nossa cultura.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Não adianta , por mais que queiramos: sentimos sozinhos e não coletivamente.O que ocorre é que compartilhamos coisas coletivas, sentimentos vivenciados coletivamente.E nisso nos sentimos fazendo de uma parte maior, de um todo que nos envolve e do qual nos sentimos distantes e carentes.O que dizemos sentir coletivamente, é reflexo interativo do exterior no  nosso interior.Por isso, não passa de presunção alguém nos dizer "eu sei o que você está sentindo".Isso é impossível: o sentimento é experiência única, individualizada, não pode ser expresso em dados ou formas simbólicas matemáticas ou linguísticas de precisão lógica( a linguagem do sentimento sempre é imprecisa) e em sua integridade não pode ser completamente comunicado, o que é uma pena, ao mesmo tempo que um alívio, pois seria perigoso uma massa acéfala  coordenada, em princípios emotivos, por interesses individuais.O coletivo, o viver coletivo, existe para fazer coabitarem, dentro dos limites possíveis, essa infinidade de sentimentos e personalidades, cada uma diferente da outra; ainda que a política e a propaganda lutem contra isso.O grande problema  que se põe é até onde pode sobreviver o individual dentro do coletivo.A humanidade é uma coisa só porque, no fundo, ela só tem sentido se for algo uno e voltado para  a integridade individual(com direitos, deveres e necessidades), sem essas idiotices de patriotismo, moral, costumes e preconceitos, todas essas coisas que nos afastam de nossos destinos de "deuses", essas fantasias criadas pela nossa vontade de potência.Talvez por isso seja a fraternidade sempre um sonho de idealistas, não podendo ser imposta na marra por nacionalismos ou credos religiosos(em sua maior parte, por sinal, pouco fraternais).Não adianta:o que penso que o outro  pensa do que sinto não passa de um sentimento vago de um pensar impreciso sobre o sentimento.Daí que viver parece ser uma luta inglória pela comunicação entre os seres.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Toda manifestação de desejo  é um impulso de origem desconhecida, de modo que vivemos como navegantes num oceano turvo e sem bússola segura.Todo desejo organizado(reprimido, em última instância) funciona como orientação para outros desejos, os quais normalmente se manifestam como fluxo de vitalidade humana.A organização disso tudo será uma forma de nos colocar em contato com a realidade exterior ao nosso ego, realidade esta sempre hostil e invasiva;daí a infelicidade(leia-se:frustração do prazer) ser a constante nesse evento que chamamos de vida.Mantendo um distanciamento dos impulsos e das febres de desejo, temos um pouco mais de controle sobre nossa interação com vida- ou ,pelo menos, imaginamos ter alguma forma de controle- e suas circunstâncias.Mas, do ponto de vista social e econômico atual, isso é praticamente impossível.Exceto, quem sabe, no interior de certos estabelecimentos que executam a guarda de pessoas pouco adaptadas.

Apenas a astúcia nos mantém o chicote na mão.Bem, pelo menos no que tange àquele que deseja usá-lo.Os impulsos cegos farão com que a mão fraqueje, seja por hesitação, medo ou fúria.O que se dizer então daquele pensamento de Nietzsche, esse pobre e hiper-sensível misógino, que tanto devia temer as mulheres:"quando for encontrar uma mulher, não esqueça de levar o chicote".Pobre Nietzsche! Tenho certeza de que, parafraseando outro filósofo, a cada dez mulheres que encontrasse, nove lhe arrancariam o chicote da mão.Ainda que ele reunisse o máximo de astúcia que lhe fosse possível, por meio de sua poderosa inteligência.

sábado, 11 de agosto de 2012

  Pensamento Pessimista(?) do dia , ainda que não tão pensado assim

Não consigo ser pessimista, talvez um problema de caráter meu.Para alguma coisa serviu o treinamento no campo do raciocínio científico(posteriormente esquecido para o produzir artístico), a forma ponderada e lógica de refletir, algo complexo demais  para um fulano tão "desponderado" como eu. Por trás de todos os dados e elementos que apresentam possibilidades funestas, ainda resiste um certo grito de caráter "cândido".Estou numa fase da vida em que os vícios parecem criar mais corpo que as virtudes.Difícil contrabalançar as partes, mais difícil discernir o certo do errado e vice-versa.O bom humor é difícil de manter e, durante boa parte do tempo, fico imaginando qual será a próxima jogada da velha senhora, nesse tabuleiro de absurdos por onde passeamos.Até mesmo ando me pegando, ultimamente, a ver um lado otimista na morte, ainda que esta me apavore, confesso, e me leve a um extremo de consciência vazia, de sensação de vazio e estiagem de emoções.Ficar livre de tanto desejo e frustração não pode, afinal, ser de todo ruim.Sem contar que é pouco provável que haja mais chatos que nessa dimensão aquém-morte.
Não importa o quanto fazemos ou imaginamos; dentro do campo de possibilidades que a vida nos impõe, a incerteza sempre será a marca principal.Não podemos matematizar a existência, essa sim pautada por coisas que nos assemelham como verdades matemáticas.Contudo, aquilo que chamamos de intuição é sempre uma arguição, entre o possível e a possibilidade criável.As soluções finais, essas sim, nunca serão perfeitamente matemáticas ou sensíveis.Desde que aquilo que chamamos de sensibilidade vá além dos impulsos cegos que nos toldam qualquer visão de futuro, por simplesmente não viverem de futuro e sim apenas de presente.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Esse negócio de esporte é muito interessante.Assim como a arte, não tem utilidade prática; ou seja, a humanidade não dependeria dessas atividades para sobrevivência.Creio que tanto a arte como os esportes e suas práticas pertencem ao reino do imaginário lúdico, daí ser possível fazer-se uma ponte com o estético(é só pensarmos nas crônicas futebolística de Nelson Rodrigues, pouco tendo a ver com o jogo em si mesmo: mais vale a lenda que a realidade, nesse caso).Como tudo na vida envolve uma certa indeterminação, não deixa de ser um constante jogo o próprio existir.Acompanhamos os jogos esportivos, envolvendo-os numa áurea de drama e tragédia que, sem dúvida, pouco têm a ver com a realidade mesma da prática acompanhada.É o lúdico, o catártico, como ocorre no êxtase religioso ou estético.Uma interessante continuidade simbólica do imaginário guerreiro.Daí o uso(indevido, frise-se) do termo "herói", banalizando o termo em si: afinal, herói se sacrifica por uma causa, a própria vida, uma expansão de despojamento.De certa maneira, o esporte é mais próximo do religioso, nesse caso, sob o viés neurótico e sexual ;uma pena Dr.Freud não ter tido tempo de vida para analisar as psicogêneses neuróticas dos sentimentos de torcedores.Bertrand Russell tinha um grande amigo sábio e filósofo que encerrava qualquer discussão entre os dois, por mais complexa e urgente que fosse, se ela calhasse com o horário do jogo de beisebol de seu time do coração.Imagino a cara do Russell , na hora.Tenho amigos que ficam simplesmente alucinados pelos seus times.Já fui assim, perdi o toque faz tempo, ainda gosto do futebol(não o praticado atualmente aqui na terrinha) mas não consigo mais sentir a tal catarse que dura pouco(aliás, pouco a pouco, vão diminuindo minhas catarses ,a não ser as ligadas ao estético artístico: amadurecimento ou fenecimento?),  longe do encanto provado na infância ou adolescência.Enfim: não consigo mais me irmanar na histeria coletiva do gosto da vitória.Gosto mais dos aspectos técnicos envolvidos nos esportes, do treinamento e do uso da razão na preparação do atleta.Mas ainda me sensibilizo bastante com os derrotados, sempre em maior quantidade.Na era do capitalismo triunfante e competitivo, não levo muito a sério o lero-lero de que"o importante é competir"; isso é mais aplicável a quem não tem chance de ganhar.E já houve época em que ganhar era ganhar uma guerra, no caso.O fato é que , assim como na mercantilização artística, o esporte pode mexer com muito dinheiro.Mas a essência, talvez, tanto do esporte como da arte, tem pouco a ver com a imagem que se faz deles pelos poderes do capital e seus agentes de propaganda e consumo.Como tudo na vida, sempre temos que nos distanciar para melhor apreciar.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012


Por que teria de engolir tanto embuste por aí, se nem ao menos me submeto aos embustes que a mim mesmo imponho?Podemos ou não reconhecer os filistinismos e covardias que praticamos, sem que nos rebaixemos por isso.Fui educado para as “pavonices”  que todo mundo aprende, mas não tenho mais vontade de sustentar as penas, prefiro ficar como galo depenado sem peias por aí.O narcisismo é perfeitamente natural, já que os distúrbios de instintos e libidos favorecem-no, o capitalismo o agradece.Mas chega hora em que o enjôo dele, narcisismo, vai além daquela náusea existencial.De tanto viver um personagem, acaba-se por não mais distingui-lo da realidade.Vivemos no mundo da imagem, mas o que vemos dificilmente é o que enxergamos, porque muita coisa é filtrada pelo preconceito e pela ausência de juízo crítico.A comunicação é fácil, o contato expressivo e profundo sempre mais  difícil.Mal temos controle sobre as caricaturas que forjamos para nós mesmos, apenas para satisfazer o reconhecimento social.Mas será que isso vale a pena mesmo?
Por que teria de engolir tanto embuste por aí, se nem ao menos me submeto aos embustes que a mim mesmo imponho?Podemos ou não reconhecer os filistinismos e covardias que praticamos, sem que nos rebaixemos por isso.Fui educado para as “pavonices”  que todo mundo aprende, mas não tenho mais vontade de sustentar as penas, prefiro ficar como galo depenado sem peias por aí.O narcisismo é perfeitamente natural, já que os distúrbios de instintos e libidos favorecem-no, o capitalismo o agradece.Mas chega hora em que o enjôo dele, narcisismo, vai além daquela náusea existencial.De tanto viver um personagem, acaba-se por não mais distingui-lo da realidade.Vivemos no mundo da imagem, mas o que vemos dificilmente é o que enxergamos, porque muita coisa é filtrada pelo preconceito e pela ausência de juízo crítico.A comunicação é fácil, o contato expressivo e profundo sempre mais  difícil.Mal temos controle sobre as caricaturas que forjamos para nós mesmos, apenas para satisfazer o reconhecimento social.Mas será que isso vale a pena mesmo?

     ARTE,SUCESSO,ILUSÃO....
Já faz tempo que dou aula de artes.Lembro-me com clareza de me defrontar, quase que diariamente, com alunos com pretensões nem um pouco pequenas.Por sinal, torna-se interessante esse cotidiano de contato frequente com tanta ambição, muito comum em artes plásticas.De certa forma tem a ver com a cultura educativa nessa área, como já observou de certa feita o estudioso e famoso crítico de arte Herbert Read.Curiosamente,  tal contexto de ambição  e sucesso fácil  é algo incompatível com a realidade econômica e o processo de circulação de mercadoria e capital dentro do que se chama de “sistema de artes”, um jogo com cartas marcadas e dependente de coisas que vão além do simples talento ou esforço individual.Muito do sucesso do capitalismo moderno depende de que a maioria não saiba realmente como ele funciona, incluindo aí todos os estratos sociais e culturais, artistas incluídos.Às vezes , em sala de aula, parece  que ninguém por ali está preocupado em se aperfeiçoar apenas em função do próprio aperfeiçoamento; sempre há um mirar distante, visando a glória e, por que não, a fortuna.Vivemos num mundo de exaltação da celebridade, ainda que essa dure poucos minutos.É difícil para um professor, no caso, instilar valores de ceticismo e realidade sem quebrar esse castelo de sonho, forjado em ambição de glória, fortuna ou sucesso.No fundo, nada disso tem a ver com a arte.Porque, em realidade, toda glória acaba sendo vã, o sucesso não traz necessariamente a felicidade e a tal da imortalidade, aparentemente, não pode ser fruída além de nossa dimensão de mortalidade.Como dizia a Tarsila, o importante é fazer as coisas com amor e dedicação, com o máximo de aplicação  e concentração de energias; o resto, sucesso e reconhecimento incluídos, não passa de acaso.Sempre como cartas enviadas sem expectativa de resposta.É tudo mais ou menos como felicidade amorosa – se é que ela realmente existe, ainda que eu não possa servir de referência – que não se expande ao infinito, reside em momentos de felicidade pelos influxos de vida que se manifestam na vida.O mesmo se dá na arte.
   Daí que é difícil  falar àquele jovenzinho ou jovenzinha que o mais importante, pelo menos em arte, é se esforçar, estudar, aperfeiçoar-se no sentido de crescer enquanto humano individual.Muito mais importante do que a glória ou sucesso, porque esses  serão sempre transitoriedades como a vida de qualquer um.Sempre o acaso envolve tudo, na corda bamba entre a vida e a morte, não se podendo ter certeza quanto a nada, inclusive sobre o resultado de nossos esforços.
     Podemos dizer que, se não nos trouxer felicidade, isso pelo menos nos fará um pouco menos infelizes.Por isso, queira-se ou não, talvez as dores dos grandes e dos pequenos artistas sejam as mesmas.E tanto um quanto outro, como me disse um querido e valoroso artista já morto, merecem respeito por isso: por fazerem o que gostam.Rodin também frisava esse papel do artista na sociedade.Afinal, todo esforço humano , animado pelo amor e norteado pela sabedoria e razão humanas, merece respeito.

Vi imagens de execuções públicas no Irã, por enforcamento.Será que o falastrão-mor do governo de lá vai falar que aquilo também são efeitos especiais de cinema americano?Mais ou menos como ele diz ocorrer nas imagens de campos da segunda guerra.Só na China se executa mais do que no Irã.As execuções no Irã são toscas, usando um guindaste e um tambor de combustível como patíbulo(o carrasco empurra o tambor para o corpo cair).Provavelmente, com essa tecnologia menos "humana" que a guilhotina, a maior parte dos executados morrer mesmo por asfixia.Desumano?Sim, como desumano também é matar por injeção letal.Não existe assepsia perfeita no matar, porque a morte, em si, não tem nada de asséptica.Seja no Irã, Estados Unidos ou China, tanto faz.A pena de morte apenas serve para maquiar, por meio de leis e instrumentação pseudo-moral, a animalidade escondida em cada um de nós.Uma forma de disfarçar a vergonha pela nossa vocação para degradar as coisas ou as pessoas.Imaginem um expediente desse num país como o nosso, com leis não levadas a sério ou de forma confusa, falta de educação e cultura , oportunistas sequiosos de barbárie e sensacionalismo.Ou, por acaso, seríamos os bárbaros de boa índole?

Penso que eloqüência é a capacidade de dizer tudo que é preciso e somente o preciso.A tagarelice é imprecisa por precisar do que não é preciso.A profundidade precisa de ser precisa.Mas nossa época, cultura e economia primam por precisar da imprecisão.



Há um determinado momento na vida em que já não se perde tempo, um momento onde cada tempo vivido é tempo ganho porque ele, tempo, já está se esgotando.Tempo perdido é luxo de juventude.O que seria se nosso referencial de tempo  fosse de orientação decrescente e não crescente?Vivemos sempre dentro da perspectiva de tempo aberto, quando na verdade tudo sempre conspira para nos fechar.

Como, na verdade, sempre somos mais fracos do que nos imaginamos, não falta o momento oportuno para que nossa fraqueza se manifeste tripudiando sobre a fraqueza alheia.Aqueles sórdidos momentos em que a solidariedade humana vai pro buraco.Do qual, por sinal, muita gente imagina  jamais ela ter saído...

Eu me lembro de que, quando comecei a frequentar estádios e o mundo do futebol, lá pelos agora distantes anos 60, havia hostilidades leves e provocações entre as torcidas.Nada que se compare à baixaria generalizada de hoje; a qual, por sinal, não custa em descambar em violência quando há cultura baixa e ignorância.Pior: nem mulheres escapando disso, desse festival de descortesias(para se usar eufemismo!) e vulgaridades televisíveis.Talvez porque isso tudo agora  seja inerente ao futebol.Ou talvez, parafraseando um pensador francês, assim como " a hipocrisia é uma homenagem que o vício rende à virtude", o futebol não passe  do mau gosto e grosseria rendendo tributo aos bons modos.É como sempre digo: o importante mesmo é a arte, os artistas um "mero detalhe" que a viabiliza.Por isso é mais fácil gostar do jogo(não essa coisa que se anda praticando no país...) do que do resto que o envolve; difícil mesmo é suportar a tranqueira do torcedor com sua inquietação "decibéica" extrovertida.Talvez porque se grite muito em televisão, hoje em dia.Mas, enfim, eu sei que tudo isso é idealismo de minha parte.Afinal, onde penso que estou vivendo?O problema é que, por aqui, parece que vemos política com a mesma óptica do locutor de jogo...Muito "graúdo" e líder carismático já entendeu isso faz tempo!

Elaborei uma nova grandeza psicofísica: a quantidade de movimento existencial.Produto de nossa massa inercial(incluindo aí o conformismo) pela velocidade de atuação social(escalar e vetorial).A força de atuação vital seria então a derivação  dessa velocidade em relação ao nosso tempo de vida, o que implicaria na possibilidade de se andar para trás ou simplesmente ser ponto zero(morto) no quadro social de conjunção de partículas humanas.

Para quem se queixa de que "mulher custa caro, de uma forma ou de outra", vejam só o que se gastou para se achar a tal "partícula de Deus"(título que desagradava o próprio Higgs cujo nome é usado na mesma); sendo que essa partícula, materialmente falando, nem ao menos existe(de acordo com o senso comum, o qual não trabalha com a abstração de modelos matemáticos), como todas as demais inapreensível, sendo apenas a captação de emanações físico-detectáveis cuja essência não podemos nunca precisar.Aliás, mais ou menos como as próprias mulheres.

Outro dia fui convidado a entrar numa associação de ateus e agnósticos.Agradeci o convite, ainda que me considere agnóstico(apesar de toda doutrinação religiosa pela qual  passei na infância), mas o achei desnecessário para minhas convicções.Não quero fazer proselitismo de nada e respeito o direito de qualquer um acreditar em qualquer coisas, desde ets até espíritos adejando por aí.Sou vítima, por assim dizer, da crença em minhas limitações sensório-cognitivas.Aceito o fato que viver sem deus, deuses ou coisas transcendentes é mesmo "barra", não é para qualquer um.Aceitar o nada não é nada fácil, sem trocadilho.Desde que uma coisa não me seja imposta ou imposta à sociedade, sem consenso democrático,  tudo bem.Tem muita coisa nesse mundo que não gosto, não compartilho, me marginaliza, causa muito sofrimento, mas acabo por respeitar por ainda ser um ser social.Essa Humanidade ainda é a única que tenho, salvo se alguma  nave me abdusir para algum turismo intergalático.Mas acho que só a ciência e a arte nos libertam."Guiados pelo conhecimento, inspirados pelo amor", como dizia o conceito de virtude de Bertrand Russell(agnóstico declarado, desde a infância).A religiosidade e a metafísica funcionam bem, têm até um papel construtivo, não nego, na arte.Mas na ciência e na vida prática, para mim, são um horror.Prefiro terapias mais dentro da minha dimensão dessa espacialização de campos agora compostos de partículas de deus que chamamos de realidade.

Considero-me um cara sem ilusões.Será que é porque li Freud muito jovem?Em todo caso, é preciso ter coragem para assumir isso; pelo que vejo, ainda não reuni o suficiente para isso.No espelho, confesso, sinto sempre algo de admiração e repulsa ao mesmo tempo.Vejo as pessoas mais novas enveredando pelos mesmos problemas e erros de sempre, apenas numa velocidade mais rápida, compatível com a era da informática.Mas não creio que o mundo seja uma roda sempre girando em torno do mesmo centro.O universo ainda se expande, a espiral que se abre é  o ritmo que vejo nas coisas, a lei da entropia ainda vale e o bóson de Higgs não nos trará a tal palavra divina.Apenas nos revelará que conhecemos quase nada sobre tudo, seja física quântica, relações humanas, amor, arte, etc...

     Em seu famoso texto sobre o Método de Leonardo da Vinci, Paul Valéry diz que “uma obra de arte deveria ensinar-nos sempre que não havíamos visto o que vemos.A educação profunda consiste em desfazer a educação primitiva”.Isso poderíamos chamar de distanciamento involuntário ou espanto(Baudelaire) que o contato com a grande arte produz.O que nos afasta involuntariamente nos seduz e atrás, assim como aquilo que nos desperta temor.Ainda que feita por pessoas, contudo, a arte  não é como as pessoas.Dessas enjoamos mais facilmente.A arte ruim , que é a maior parte da produzida, é mais ou menos como a maioria das pessoas: fica tudo no invólucro e na superfície e acabamos por não ser atraídos para profundidades maiores de suas essências.Mas esse é o reino da normalidade; o contrário seria o reino do estético.Como diria o mesmo Valéry, “ a essência é contra a vida”.

Estou proibido de fumar cachimbo ou charuto.Isto se quiser ainda manter a língua ou  não a ter  em fogo constantemente, ainda que eu já a tenha queimado várias vezes por outros motivos que não a fumaça.Mais um de meus poucos prazeres e regalias  roubados de mim pela vida.A continuar assim vai me sobrar mesmo o desenho, a pintura, ouvir, música e olhar mulheres bonitas; isto enquanto houver ainda olhos e ouvidos funcionando, se um acaso biológico não evitar de  pedalar, rabiscar ou outras atividades de psicomotricidade(voluntárias ou não, nunca saberei...).Mas ela, vida, é assim mesmo: pouco a pouco vai nos roubando as coisas, até o ponto em que ela própria se nos rouba sem a menor formalidade.