sábado, 4 de maio de 2013

Divação 4/5

     A vida é um conto sem enredo.Na verdade, ela me parece mais um conto atmosférico, por assim dizer; um conjunto de ações, narrações e percepções de sensibilidade mergulhados numa bruma envolvente de silêncio e indefinição.Pode ser que, em algum momento, uma ação dramática se desenlace dissolvendo as névoas que nos envolvem, mas mesmo assim permanece a incerteza sobre as paisagens que nos circundam, pouca clareza sobre o céu ou (des)firmamento que vislumbramos ao longe.Andamos no passo dos vermes, isso se nosso referencial for mais distante, mais ou menos o correspondente a outro planeta ou galáxia.As palavras e símbolos brotam em nossa mente, saem facilmente pela boca, ficam dependurados em nossos lábios, breves inflexões sobre a indefinição.Definimos trajetórias cotidianas mas, sem saber, somos enganados por tudo, por nossos referenciais apegados a nossos egos, limitados que são em realidade, ilimitados em imaginação. E, pela imaginação, essa realidade aparente que no fundo é da mesma matéria da névoa que nos envolve, conseguimos suportar melhor as coisas, matéria fútil e plasmada de  devaneios, o inverso do que somos se transformando na face aparentemente clara das definições do pensamento.Ainda que a maior parte do que somos permaneça submersa nas dimensões inatingíveis de nosso inconsciente, essa outra estranha matéria tão enevoada quanto as maiores névoas ou poeira cósmica que paira no espaço, continuamos a nos apegar a certezas criadas pela necessidade de viver e sentir.Porém, se tudo o que não for sentir for morte, então, sem que saibamos , já somos essa névoa que nos envolve, a aparência sendo a essência, a essência uma presença de outra coisa diferente que, no fundo, somos nós mesmos.
     Ainda que me pergunte isso , diariamente, ainda que algum sopro de deuses ou de intuições me afirme que me iludo com a ilusão que forjo a partir da névoa que nos envolve, eu continuo a me sentir flutuando na indefinição de pouca densidade dos fatos, esperando que tudo se adense de forma perene, esperando as horas, os tempos, as presenças, as pessoas, os amores e todo esse turbilhão que não passa da parte vazia de um cheio que me complementa.

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