terça-feira, 28 de junho de 2016

Tristeza e felicidade.As duas faces da mesma moeda

Somos como uma construção, cujos alicerces são nossas derrotas e decepções. Somos erigidos a partir de frustrações e sonhos, em sua maior parte irrealizados. Vivemos querendo e , não podendo realizar o constante querer, vivemos sofrendo.E, por sofrer tanto, lutamos para não sofrer.Com isso continua-se vivo.Logo o sofrimento pode ser visto sob um ponto de vista positivo.Felicidade é instante, qualidade, ilusão sobrevalorizada.Logo, não podemos viver felizes o tempo todo.Isso seria idiotia, transformaria o que chamamos de felicidade num sentimento doentio, negativo.Seria o mesmo que ficar o tempo todo drogado, uma variante de idiotia.E idiotice porque a saúde e a vida são muito frágeis.Ilusão de invulnerabilidade juvenil. Lidar com isso tudo e se manter vivo, manter a vontade de estar vivo não é fácil; mas eu diria que é quase um impulso biológico.E talvez a vitória que mais nos orgulhe não seja aquela que deu resultado, mas sim o esforço para que houvesse resultado.No fundo, tal como diz Camus no final de seu livro O Mito de Sísifo, o importante seja imaginar a felicidade no meio da tarefa inglória.
     Se, como dizia o poeta” nessa vida ,morrer não é difícil, difícil é a vida e seu ofício”, temos sempre que considerar que a vida em si implica administrar sofrimentos.Venham eles do exterior( a natureza e os outros, sempre uma extensão do inferno existencial sartreano) ou do interior(nosso corpo sujeito a doenças ou nossos traumas adquiridos).Como manter a calma e o equilíbrio exige muita perspicácia vital.O mundo não é feito para nos satisfazer, não somos o umbigo do mundo, ainda que a cultura, a educação e o interesse de vender “felicidades” artificiais imponham-nos a falácia existencial da felicidade.O prazer do guerreiro vem da luta, daí que se honre tanto o derrotado oponente.No fundo, sempre nos resta resistir.E existir.Fora disso, tudo é mistério.
   Nossa cultura de felicidade comprável nunca resolverá os grandes dilemas da existência.Por isso a dimensão estética é tão vital, tanto do ponto criativo como contemplativo, seja para artistas ou admiradores de artistas.Afinal, só a arte fica, além de crenças, nações ou ideologias.

     .Tudo é transitório, inclusive qualquer forma de êxtase.O qual nunca existe sem agonia.Ou como diz  a linda canção de Vinícius: tristeza não tem fim.E não tem mesmo.Só mesmo na morte.Essa chega como mistério, apenas acrescentando tons a mais na complexa composição pictórica da existência de qualquer um.Tristeza e felicidade são as duas faces da mesma moeda.E nem ao menos temos certeza de quem a joga, se é que realmente a joga.Seja ou não um jogo de cartas marcadas.