domingo, 26 de fevereiro de 2012

pensamentos de fevereiro de 2012

O problema dos relacionamentos reside no fato de que a mulher pensa que pode mudar o homem, enquanto o homem imagina que a mulher não vai mudar nunca.Bem, aí a  equação não fecha e sobrevém a trombada.Isso porque nossos egos cismam em não enxergar que se relacionam com outros egos.E egos são estruturas resistentes à perda de autonomia.Quando isso ocorre, a trombada vira “doença”.Pode ser que essa “doença” não passe de “normalidade”.E o desentendimento a única forma de comunicação.Uma comunicação que não se dá por meio de arrazoados.

Balzac escreveu que “ainda que não seja filósofo, qualquer um pode compreender a força que adquirem as paixões na solidão”.Eu acrescentaria que, ainda que não seja um solitário, qualquer um pode compreender a força que adquire a solidão por causa de uma paixão.Para muita coisa de pouco serve a filosofia, incluindo nisso paixão.Claro, ceticismo, estoicismo ou  outras convicções podem ajudar, mas não se tem certeza sobre solução.Porque a filosofia está para a paixão  como a física das partículas e seus mega-aceleradores estão para  elas, partículas: apenas cercam seu comportamento, não podendo chegar a seus cernes últimos.

  Ainda que, parafraseando o grande poeta mineiro,  possamos ter  no coração todo o sentimento do mundo  mas apenas duas mãos, a vontade de utilizá-las só cessa mesmo com nossa morte.Nessa “imperfeição” que chamamos vida, como no verso de Pessoa, “se ainda há vida, ainda não é finda”.

 Se pensarmos um pouco, não é difícil concluir a bobagem sobre o papo de “quinze minutos de fama”.Chega uma hora, na vida, em que sabemos que quinze minutos a mais  de vida já é um lucro que não imaginávamos. Ou seja: de nada nos vale a fama depois de mortos.

Inútil tentar descrever a beleza de certas mulheres, assim como de certas paisagens.Mais fácil tentar descrever a beleza que a beleza delas faz nascer em nós.Porque, em si, a beleza é inacessível, é sempre um espanto(Baudelaire dizia isto).E que labor louco descrever um espanto!

Nossa alma é como um vitral multicor: cada área dele faz em nós chegar diferentemente a mesma luz que banha o todo.Da mesma forma, um mesmo fato nos faz reagir diferentemente de acordo com a maneira que o vemos.Nossa integridade, no fundo e tal como um vitral, é feita de desintegração.

Pensamento homogeneizado sempre vira alguma forma de homogeneidade totalitária.Dificilmente Orwell ou Aldous Huxley aguentariam viver nos dias de hoje.O primeiro se mataria( principalmente depois de ver que, mesmo com o fim da União Soviética, o Grande Irmão continua solto por aí, de outras formas); o segundo faria uma viagem alucinógena  da qual , provavelmente , não retornaria.Pensar diferente é sempre algo meio corajoso, em qualquer época ou momento, principalmente quando se defronta com uma totalidade meio bestializada.Convivência implica em respeito físico e mental entre os semelhantes, convivência esta vista como necessidade de sobrevivência da espécie.Quando se busca apenas a anuência cega(políticos e publicitários sabem bem o que é isso), aposta-se mais na demência.Sem esquecermos, claro, que falar uma idiotice também pode ser uma forma de pensar diferente...

     De marginais a sociedade nunca vai se livrar, ainda que quisesse isso, ainda que a maioria da população manifeste horror ou nojo deles.Sendo apenas parasitários  são suportados se não oferecerem grandes riscos, recusados  apenas com rejeição; agressivos, com repressão(prisão, asilo de loucos).Isolamento psicológico ou erradicação física do sistema; assim, esse se mantém.O medo de Orwell do estado totalitário  não levava em conta que o problema é mais embaixo: na civilização.Podemos nos livrar dos totalitarismos de estado, mas nunca daqueles comportamentos autoritários embutidos na própria sociedade, sempre escorados pela maioria silenciosa, emocionalmente frágil e manipulável, pronta para por as garras de fora ao primeiro aceno de símbolo religioso ou espada. Aqueles homens de falas enfadonhas e legalistas, bigodinhos ridículos e altos(?) escrúpulos morais, muitos detestando a própria humanidade mas nunca assumindo isto, fatalistas de soluções violentas...Podemos viver com  mais ou menos repressão.Melhor então seria fazer a cabeça das pessoas, um pouco na lógica do pão e circo para as massas, coisa que funciona bem desde a época daqueles romanos de franjinha e que os políticos de todas as eras nunca esqueceram?E daí, talvez, se explique porque as pesquisas sempre indicam que o grosso das massas apóiam ações truculentas, imediatas, descrendo da capacidade de educação, apoiando-se mais na segurança da repressão.Na ditadura das massas, não deixa um pouco de ser um heroísmo(não o romântico, mas o trágico) assumir alguma forma de marginalidade.

   No fundo, impossível descrever a beleza de uma paisagem ou de uma mulher.Sempre faltará algo.Quando muito, descreveremos a beleza da beleza.Mulheres e paisagens belas têm algo em comum: impossível prendê-las,  possível apenas apreendê-las.Apreender delas sua beleza, a qual pode nos banhar  por um momento ou por toda uma vida.As duas podem ser vistas de relance, freqüentadas ou não, reconhecidas, jamais esquecidas.Por mais que sejam freqüentadas, seja em sonho ou realidade, com ou sem distância, jamais deciframos o porque misterioso disso nos encher de plenitude.Sempre serão um espanto renovado.

Nossa vida é como uma linha de desenho:infinitos pontos juntos definindo uma melodia, sinuosa ou não, que nos define em meio ao nada branco da existência.Sempre um momento impreciso aquele em que o lápis se descola do papel, aquele em que a natureza da linha pára em seu fluxo.E eis nossa vida: uma linha no branco de um papel levado pelo vento.Mesmo apagada, algum sulco deixa alguma passagem de esforço humano feito no branco.Sem sabermos para onde o vento leva a folha...

  Acho perfeitamente aceitável que não se admita a falta de polidez, mesmo em coisas como facebook.Afinal de contas, com maior ou menor velocidade nesse mundo de relações feéricas, não podemos esquecer que aquilo que não é refletido acaba sendo defletido.E nem toda deflexão tem direção previsível.Daí a possibilidade de se falar besteira é sempre maior do que a de falar algo aproveitável.É uma questão estatística.Ou, para se usar um pouco de física, mais especificamente a óptica, uma questão de usar a inteligência como uma superfície refletora: é sempre preferível uma reflexão especular e não difusa; a não ser em salas de cinema, onde a segunda é imprescindível(não falo de críticos de cinema, porque esses parecem mais dedicados a confundir do que refletir).Apenas acho que, às vezes, um pouco de reflexão nos “comentários” pode ajudar numa nova conexão.A comunicação humana é sempre o sedimento estético mais primário em nossa personalidade.Por isso nunca deixará de ser uma forma de arte.

Há povos que nunca passaram por revoluções(verdadeiras), assim como há pessoas que não experimentaram paixões(verdadeiras).Podemos comparar revoluções com paixões amorosas; nem um pouco inadequado, haja visto que na política predomina o emocional sobre o racional.Nas revoluções, assim como nas paixões amorosas,temos sinergias de forças que produzem uma busca de liberação, emancipação; são incontroláveis, inevitáveis.O problema é que sempre surge um grupo, partido ou instituição moral ou jurídica para coordenar e, posteriormente, podar esse acréscimo  de entropia humana.Sucumbem então, tanto a revolução quanto a paixão,  à burocracia de oportunismo ou à monotonia do comodismo.Tal como a vida é.Somente sonhadores continuam sempre revolucionários ou apaixonados.É como uma doença que fere a norma e o “bom senso”(?) dominante; seu destino é o marginalismo.Revoluções devoram seus príncipes e filhos pródigos; as paixões ,a sanidade através do eterno desejo.

A me fiar no que disse Baudelaire , que só é possível levar essa vida na base da embriaguez – seja de bebida, poesia ou virtude-, por limitação de caráter ou de talento ,será que só me restará o copo, acompanhado de um resto de fígado?

Se tomarmos como método que o fim justifica os meios, corremos o risco de perder de vista que os meios determinam os fins por nós almejados.E com isso  podemos nos perder nos meios, sem que cheguemos a qualquer fim.Não precisamos concluir isso a partir da observação, por exemplo, de jacobinos e revolução francesa.Shakespeare já nós basta para isso.
 Tudo nessa vida é fantasia.Os homens - creio que as mulheres também - constroem suas afetividades através de fantasias, principalmente as amorosas.Particularmente, para mim, as mulheres aparecem como identidade plástica e afetiva diferenciada do que sou.Sou suspeito para falar, haja visto ser um idólatra da forma, envolvendo nisso, sabe-se lá que mistura inconsciente de sexualidade ou afetos e instintos múltiplos.Ainda bem que existe arte para resolver esses problemas que, para mim, são insolúveis.Mas para mim todo mundo é estranho, tanto homem como mulher, como minha própria imagem no espelho.Acho mais fácil o contato intelectual do que o emocional, com mulheres.O emocional exige mais tato, mais subjetivismo, embora a maior parte dos homens, provavelmente, desconsidere isso(e, pelo que vejo, as mulheres também).Tudo o que mexe com o irracional é mais difícil, sem controle.Também acho que a tendência, na espécie humana, é o fim dos gêneros, sendo que as características mais aproximadas do que se chama de masculino serão as primeiras a desaparecer.Por serem, obviamente, desnecessárias à continuidade da espécie ; a qual será, provavelmente, promovida por meios artificiais.Assumo meu obsoletismo vivente-básico-primário.Talvez , quem sabe, um pouco de meu conteúdo mental continue, com mais chance que o genético.Essas coisas de homem e mulher, tais como vivemos hoje, são estertores de um comportamento civilizacional.Salvo se uma catástrofe natural não nos devolver às cavernas; coisa que teria seus inconvenientes, claro.Somos viventes pré-arqueologizados na forma como nos relacionamos.E eu me considero já um ser extinto, um dinossauro ambulante de cachimbo e bons modos.Felizmente não sobreviverei para ver esse admirável mundo novo!
Acho curiosa essa declaração, proveniente principalmente de mulheres, de ter como projeto se apaixonar.Ora, não se arbitra sobre paixão, e sim o contrário.Não se projeta “se apaixonar”, somos sim é projeção do que a paixão produz.O livre arbítrio não chegou a tanto, não somos tão controladores de tudo; em verdade, controla-se muito pouco, muito menos paixão ou outros instintos incontroláveis.Uma antiga professora de estética me dizia que você não abraça a arte e sim é abraçado por ela.Infelizmente, nossas intencionalidades são limitadas pelo contexto, salvo se a gente acredita em algum tipo de feitiço ou macumba.Isso faz a festa dos mistificadores e das “encomendas amorosas”.Amor envolve treva e luz; em seu aspecto fraternal pode iluminar o relacionamento entre todos os humanos.Mas o lado oculto da Lua continua um mistério, apesar de muita nave espacial já ter passado por lá.A treva também faz parte do amor, não se sabendo bem qual sua porcentagem; mergulhar nela pode ser uma viagem sem retorno, qualquer que seja o assunto envolvido: sexo, arte, sonho ou ideal.Problema maior é o amor que se frustra e vira ódio; daí tanto ressentimento, amargor, homicídio, suicídio nesse mundão afora.Porque para toda luz que nos ilumina há sempre uma sombra projetada.

Nem sempre quem se desvia necessita de um rumo certo.Porque, afinal, tivesse ele um rumo certo, não se desviaria...Caso fosse tão certo assim.E, em meio a toda essa incerteza que a vida é, construímos nossos rumos por sucessivos desvios.Que podem, inclusive, não nos levar a lugar algum, exceto a algum precipício imprevisto, destino inevitável de muitos.Isso sim é que é certo.





sábado, 18 de fevereiro de 2012

Viver sem mulher?

 Viver sem mulher é como conviver com uma espécie de morte em nossas vidas.Mas em alguns momentos é preciso algum tipo de renascimento sem que haja crucificação.Em essência somos mais primitivos do que imaginamos.Mas entre a cultura e o instinto há tanta distância quanto entre o indivíduo e a sociedade.O mundo mudou e todos os papéis foram , aparentemente, subvertidos.Contudo, o desencanto continua a fazer parte da espinha dorsal de nosso cotidiano.Viver é sempre uma tarefa que se renova a cada despertar; é um milagre acordar, olhar para o espelho e ver que ainda respiramos.Pequenas mortes se insinuam no dia a dia, em nosso corpo, em nossa alma.A craca que envolve a personalidade vai crescendo, dia a dia, enquanto a nau vai singrando o oceano vago da existência.Cada porrada é uma nova couraça escura que fende qualquer luz de esperança.As esperanças se alimentam pelos êxtases, temporários ou permanentes, coisa que o consumo vulgar não substitui, coisa que só o corpo em plenitude consegue apreender.Esgueiramo-nos da morte num passo a passo em direção ao mistério de se continuar vivo.A beleza feminina, até mesmo sua fragilidade-ainda que imersa em feiúra – é uma comoção que, se não satisfaz plenamente, pelo menos alivia a mente da obrigatoriedade de servidão aos instintos.Mas os tempos mudam, e essa masculinidade anacrônica não se encontra direito no mundo, ainda que a vida queira sua continuidade.Se fôssemos apenas células, estaríamos contentes em nos duplicar e morrer.Mas como somos um agregado mais complexo de células e processos físico-químicos, criamos a mitologia da individualidade que, em instância superior, vira cultura, civilização...e guerra, barbárie.
     Olho ao redor e vejo essa multidão de formas e curvas que se espraiam em carnes e obséquios falsos, em trejeitos e falas indecisas e agudas e dizem-me que tais fenômenos da percepção se chamam mulheres.
     Ao primeiro mau humor tenho vontade de matar um fulano, algo encarado com naturalidade, e me dizem que tal aparência fenomenológica atende pelo nome de homem.Como conciliar essas realidades de antípodas?Que função nesse mundo se mal sabemos realmente do que vem a ser feita aquilo que se chama de existência?Ereções e humores líquidos regendo a humanidade?A natureza é sombria e gosta de exercer um senso de humor duvidoso.Mas as descobertas de um acelerador de partículas de vinte e sete quilômetros pode quem sabe revelar alguma palavra divina.Mas o “olho que tudo vê” precisa de uma operação de catarata.Ou, quem sabe, não passe de um olho que pouco se importa em ver.Quanto a mim, restrinjo-me ao que meus olhos me revelam, nas formas imprecisas e sinuosas esquecidas no horizonte de um campo, de uma praia ou de um torso daquela misteriosa percepção fenomenológica- que continua a agudar a emissão sonora- que o condicionamento lingüístico me faz identificar como mulher.O resto é teoria.Mas como dizia um poeta: cinzenta é a teoria, verde é a árvore da vida.


Desassossegos

Uma amiga agora deu para ler o livro do Desassossego do Pessoa.Acho que ela deve agora estar enfrentando problemas de insônia.Uma grande característica de Pessoa é virar nossa alma pelo avesso.Ou seria  pelo avesso do avesso, segundo a música de Caetano?Para alguns , as palavras são seu inferno, porque o inferno é a verdade.Ela,  verdade,tão associada às planícies celestes, está tão indissociavelmente ligada aos tremores inquietantes das incertezas metafísicas que, queiramos ou não, nos afasta e nos aproxima de tudo, naquela tensão que faz a essência da vida, coisa que o cotidiano sempre procura elidir.Na incerteza de saber que não sabendo fazemos parte de alguma sabedoria indevida ou incriada, temos uma parte certa do que somos e do que podemos ser.Servindo ou não a busca da verdade, estamos inseridos nesse desassossego maior que faz a ilusão desse presente que se fez de passado projetado ao futuro que não existe ainda...Pelo menos para nós.