terça-feira, 6 de dezembro de 2016

João Dória, nosso prefeito higienista

Ah, nosso prefeito engomadinho recém eleito acha que nossa cidade está um lixo.Logo, no fundo, quer limpá-la, colocá-la talvez nos padrões de limpeza e higiene dos altos padrões de vida de nossa sofisticada e brega burguesia.Quem sabe, para melhorar, espalhar pela cidade vaporizadores, não contra mosquitos de dengue, mas para perfumar os ares paulistanos com perfume francês comprado em Miami. Comprado sem licitação, óbvio.Mas sim, há o problema dos pobres, os infectos ares derivados da periferia e dessa gente toda sem modos e que fala alto.Bem, esqueceram-se todos dos desníveis de distribuição de renda e riqueza na Babilônia paulistana.Pode ser que nosso prefeito-gestor ache que o problema mesmo sejam os pobres.Ah, como são feios os pobres e os de periferia, não é mesmo?Não é mesmo, senhor prefeito?E aquele negócio de Virada Cultural, santo deus!, quanta sujeira, barulho, gente mal vestida, turma de periferia, roubo, pobres causando distúrbio de noite com suas abjetas "feiuras", jovens baderneiros, mijo, mal odor, etc.Ah, isso não pode não, não é senhor prefeito?Por que consertar se é melhor acabar de vez?Põe todo mundo no curral, já que é tudo meio animal mesmo.Optimização de gestão.Olhem os gráficos.Parece que disso o sr.prefeito entende.De política nadinha.Afinal, ele mesmo diz que não é político e sim gestor.Se funciona na sua empresa por que não funcionaria na cidade, deve pensar o perspicaz alcaide, essa cria cancerosa de nosso insuportável governador.
Prefeito preconceituoso e higienista. Esse é o ideal de político daquele que diz que não é político, e sim gestor.Pode mandar todos seus secretários participarem de reunião vestindo preto e branco, tudo aparentemente limpo e bonitinho, que nem por isso os livrará da gosma de reacionarismo que inundará esse gabinete, da lixívia de caráter que escorre de suas falas e comportamento..Seu futuro porta voz diz que a concentração dos eventos é para conter a turma da "perifa".Ah, na campanha, o futuro gestor dizia que era trabalhador e ia trabalhar para os pobres.No fundo, como boa parte da população dessa cidade ignara, tem é nojo de pobre.Ah, São Paulo, tão rica, a tal da locomotiva que bate pino, não tem pobre, não é mesmo?Quem não quer ver pobre por aqui, que não saia de casa, mais ou menos como deve fazer sua ridícula esposa dondoca que não sabe onde fica o Minhocão.
Talvez ele, futuro alcaide paulistano, quisesse concentrar o evento da Virada para além da Serra do Mar, no meio do oceano, para enterrar toda aquela turma da "perifa" que "suja" o centro.Mas não se atormente, sr.futuro gestor-alcaide, que mesmo o fedor da pobreza e da perifa um dia desaparece, mas o fedor moral de personalidades repulsivas como a sua, ah, esse é eterno, além de sua morte , a de um já morto-vivo engomadinho, e da de todos os perifas que gente como o senhor no fundo tanto despreza.
Que se façam então Viradas independentes do poder público, movimentos autônomos e populares, não se submetendo aos ditames de um poder público apodrecido e desprezível.Esse Dória ameaça fazer uma gestão que, comparada, fará a de figuras lamentáveis como Janio ou Kassab parecerem socialistas radicais.Nosso prefeito gostaria mesmo é de ser um sanitarista.Conhecemos bem tipos que pensam como ele.Um certo austríaco que atormentou o mundo com a segunda guerra aparentemente era pessoa de muito asseio que não hesitava nem ao menos  em usar recursos térmicos para ampliar a limpeza da casa.

 



A cultura sempre independe e se auto-cria à revelia dos aparelhos de estado.Coisas que surgem por meio dos movimentos culturais tendem a ficar, coisas como esse prefeito-gestor nem serão notas de roda pé no futuro da história.Apenas mais um dos ridículos retratos pendurados de prefeitos que ornamentam a sede da prefeitura.Porque cultura é vida e gente como Dória não passa de expressão dissimulada de morte.Nessa vida, é sempre a luta entre Eros e Tánatos.

sábado, 3 de dezembro de 2016

A vida é sempre tentativa em se tentar viver

Meu sobrinho querido arranjou uma qualificação de trabalho no exterior e já viajou.Conveniente , se pensarmos na constante insolvência que nos atabalhoa a vida no país.Que tenha sorte, além daquela que bateu em sua porta oferecendo essa oportunidade.Toda oportunidade é abertura para uma aventura.Nessa vida, em momentos de encruzilhada, surgem ocasiões em que se tem de ousar.Ou se tenta ou não; o futuro nunca é certo mas pode encerrar um certo amargor por não se tentar, pelo que não se tentou.Melhor fazê-lo, mormente quando se é jovem e o risco da incerteza é melhor enfrentado.Pelo menos pode-se dizer: ousei.Isso é válido para tudo na vida, seja profissão, opção ou forma de encarar a vida, até mesmo tocar para a frente um relacionamento afetivo.Vivemos sempre permeados por risco e dúvida.A clausura de uma vida mais estagnada, aparentemente sem risco ou mais mediocremente burguesa e conformada, nada nos garante, nem mesmo uma paz de espírito sonhada para a velhice.Porque mesmo que essa última, a paz, sobreviva, ainda há a morte.Daí não há solução para o que somos, tenhamos ou não convicção religiosa ou transcendente: ou se viaja, para dentro de nós ou para fora,para o mundo, além das fronteiras de nossa vida cotidiana ou dos limites de fronteira que são traçados em torno de nosso coração, mesmo contra nossa vontade.Quando tivermos que ajustar as contas com a "velha senhora" teremos como referência apenas uma coisa: tentei ou não?É um luxo enorme exercer essa prerrogativa de se tentar.Nunca escaparemos de acertar nossas contas conosco ,sendo ao mesmo tempo juiz e juri de nossas atitudes..A vida é frágil mesmo e quase sempre ela mesma não nos basta.Por isso somos prisioneiros de dois sonhos, talvez impossíveis: felicidade e eternidade.Quem sabe a raiz de muita criação, qualquer que seja ela, resida aí.Não importa, mais vale é tentar.Uma dúvida a menos no meio de tantas outras.Tentamos levar a vida da melhor forma possível, com menos dor ou frustração.Nem sempre funciona.Afinal, talvez a vida não tenha sido mesmo forjada para nossa felicidade, esta não tendo enquadramento no plano de nossas existências.No fundo, uma constante tentativa em simplesmente tentar viver. Tentar viver, tentar trabalhar, tentar amar qualquer coisa ou pessoa, esta a mais difícil talvez.O que já não é pouco, convenhamos.Os dados sempre são jogados à nossa revelia.