terça-feira, 7 de maio de 2013

Contemplação


Contemplação  dela...

     Pudesse eu gozar de algum repouso, escondido nas curvas de teu corpo, o sol brandindo um silêncio de escuro, protegido em teu calor indiviso de fêmea.Vejo-te roubada ao zunir dos astros, de toda essa maquinaria insana do mundo, decaída em ti mesma em teu próprio repouso, entre o sol e a sombra; quem te viu mal sabe que ao te ver já morreu um pouco, queimou-se por ver certa verdade de beleza desmaiada em teu repouso.Mas onde miram teus olhos que mal vejo? Esse olhar em que me arrebatei a mim próprio na busca de sua marinha liquidez.Em que intervalo entre o sol e a sombra foi esculpida essa forma de carne humana tão bela? Em que lugar na noite escura brilham teus olhos ou flutua, nua, tua alma de mulher?
    Não te possuo como não posso possuir os astros; tudo o que tu escondes esplende na nudez de tua carne adornada de tanto desejo; ao longe, tantos montes e vales não valem as curvas em que te faz enquanto ente animal, vestal de cândida pureza disfarçando, quem sabe,a fluidez demoníaca de um todo que alicerça o que há entre homem e mulher.O sal do oceano recolheu-se, quem sabe, sob a solidez ventral de tua nudez.
    Não me resigno ao puro desejo, ao ver-te tão bela, quem sabe imortal imagem criada por um sonho que atravessou uma noite de minha vida e selou-me em silêncio ao tocar-me os lábios com os teus.Pressinto toda essa umidade orvalhada em teu interior, teu sangue, os humores escondidos por baixo da pele, os odores de floresta e deserto escondidos, quem sabe tudo isso a carregar algo do silêncio das estrelas,de sóis apagados, do marulhar de oceano repleto do sal que imagino impregnar tua pele.
     Coroar-te-ia, princesa dos sonhos, rainha dos desejos, satânica encarnação dos demônios que nos roubam a paz, quem diria que tua simples visão me roubasse a lucidez, a perguntar-me se existo mesmo ao contemplar-te em tua nudez.
      Não, simplesmente, coroar-te-ia mulher.
      E teu ventre luzindo por entre uma sombra desmaiada pelo sol , ah!, dar-te-ia a minha alma, o que resta desse meu corpo já destinado aos vermes, a recostar meu rosto em seu calor, sonhando ir além dessa vida de humilhação e descaso.E teu seio, maduro como um fruto plasmado pelo hálito mais profundo da mais insaciável fome, quem sabe envolvê-lo -ele tão elegante e pleno - sob as pobres mãos minhas que tanto desvivem em desilusão.Teu corpo, como um todo, é um pouco da silhueta do universo que pressinto e sei não existir, um pouco como eu, um pouco como tu, um pouco como essa ânsia de um dia te ter, enquanto as fiandeiras organizam nosso destino em rocas imponderáveis.Poderia, talvez, percorrer-me   nos pensamentos esculpidos pela imaginação, pelos longos caminhos de tuas coxas, tuas pernas tão distendidas além das mais vastas planícies que jamais alcancei, jamais alcançarei.
    Insinuo-me no interior de meu próprio desejo, os olhos palpitam de dor, tanto quanto meu coração, no vago esforço de te prender sob as margens frias do frio branco papel.Enquanto, em decúbito repousas, suave como uma princesa de areia, reinas para sempre na imagem decalcada em minhas retinas.E pranteio-me  ao te ver distante, ao te ver ausente a cada vez que te contemplo e te perco  um pouco mais, em meio à roda do destino que nunca pára  como a tua imagem em minha mente.Ai de mim!Exilado de ti, como alguém exilado de um país desconhecido de si.

                                                                    8 de maio 2013

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