Isso me parece um lugar comum: sempre ouço algum amigo dizer que mulher não gosta de homem bonzinho.Bem, sempre há uma falsa identificação entre bonzinho e banana.Não gosto de absolutizar nada, muito menos conceitos(ou seriam pré?) do tipo bonzinho ou banana.Existe uma certa generalização a respeito de masoquismo feminino.Por favor, não vamos botar pessoas como o Nelson Rodrigues nesta jogada, não só por ser um cara do século passado, como também por conhecer mulheres de outra época, diferente da espécia mutante de grassa por aí.Já imaginaram como seria o Nelson, hoje em dia, se defrontando com esse tipo de mulher, o que diria?Acho que sairia correndo ou escreveria o dobro de coisas, por dispor de mais material.
Acredito, em minhas flutuações imaginativas teóricas, que o núcleo humano em que se forma a personalidade das pessoas, seja ele uma família ou uma colônia penal ou de chimpanzés,inevitavelmente vai influir em como as pessoas vão agir emocionalmente no futuro.Os mecanismos afetivos tendem a se repetir, os papéis são impostos pelos valores sociais e familiares.Daí que haja tanta infelicidade espalhada por aí.Se você foi a "ovelha negra da família", acabará por tender a repetir esse papel, inconscientemente, em futuras interrelações sociais.Sentir-se rejeitado é sempre algo doloroso que só é superado, enquanto sentimento, à custa de muita elaboração e independência dos fantasmas do passado.Pode, inclusive, ser algo interessante, criativo até, se a frustração ou neurose se transformar em algo trascendente em relação ao sentimento original.
Não caio nessa cilada : sabemos tanto da natureza humana, seja ela feminina ou masculina, quanto do eletron ou das partículas subatômicas.Não sabemos sobre sua "essência", podemos apenas captar as emanações,sejam dos elétrons ou das pessoas.No caso das partículas, elétrons e outras, pelo menos temos modelos e recursos científicos ajudando no seu estudo e entendimento.No caso das pessoas, as psicologias humanas, a arte entrando nisso também.Resumo: sabemos mais, em termos relativos, sobre partículas subatômicas do que sobre pessoas, apesar dessa multidão de conhecimento acumulado pelas literaturas específicas.Mas os elétrons parecem não mudar de opinião com facilidade, e sim de posição no espaço.Já as pessoas gostam mais de fixação espacial com maior mudança de opinião.
Daí que não vou ser louco de generalizar coisas como mulher gosta disso, gosta daquilo.Porque, sejamos honestos(pelo menos uma tentativa minha, enquanto homem): é absolutamente impossível saber o que se passa na cabeça de uma mulher, pelo simples fato de que é quase tão impossível saber o que se passa na minha cabeça.Nem ao menos precisamos do princípio de incerteza , derivado da física quântica, para a conclusão.
As mulheres não são mais complicadas hoje; sempre o foram, apenas não captávamos as "emanações" dessa complicação pelo papel de subserviência, de passividade, de agente econômico menos ativo,de menor liberdade.Como um elétron que passou de um nível de energia menor para um maior,agora é mais difícil pegar no espaço.Mas a natureza continua a mesma.
Por isso, gente como artistas ou psicólogos, seja em seus tratados ou criações,nunca captam a essência de uma mulher,;apenas seus reflexos, emanações, dados circunstanciais.A imprevisibilidade é tão grande. que a margem de incerteza será sempre difícil de determinar.Podemos delimitar traços gerais de conduta, mais ou menos como podemos determinar um orbital no espaço onde o elétron pode estar.
Coisas como masoquismo não têm origem genética e sim cultural.Mas tem muito homem, mesmo intelectualmente sofisticado, que vive ainda nos determinismos da primeira metade do século vinte.Daí a dificuldade de adaptação a novos esquemas e procedimentos.
Submeter não é entender, jogar com afetos reprimidos como forma de dominação também não é.Homens não podem entender mulheres, assim como o mesmo vale para mulheres com relação aos homens, pelo simples fato de que os modelos de entendimento são incompatíveis com uma lógica uniformizante para os dois gêneros.O resultado sempre será o desencontro, ainda que a convivência possa ser fraternal, o que é essencial para a continuidade da espécie.Se é que essa ainda vai continuar no planeta.
Já queimei muito neurônio para tentar entender cabeça de mulher.Tão fácil como saber o que ocorre do lado de lá, assim que o coração parar.No plano da abstração sempre mais fácil me parece a comunicação.Na emoção, é mais frutificante, embora, com frequencia mais frustrante.O negócio é deixar fluir,sem exigir demais.Afinal, já que a vida é tão cheia de incerteza, porque procurar certezas entre homem e mulher nessa vida.Não caio nesse papo de "homem que conhece mulher, que sabe o que mulher quer".Balela!Ninguém sabe, ninguém conhece nem conhecerá, seja ele um troglodita qualquer ou um Nélson Rodrigues.Esse, com engenho e arte, usou algumas emanações de algumas mulheres, de algum período no vasto tempo do mundo, no curto espaço de vida do país.Mas sabia tanto quanto eu,;ou seja, quase nada.
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