domingo, 21 de outubro de 2012

Algumas reflexões outubrinas


    Fico pensando se o pessimismo não tem alguma origem genética.Filosoficamente é uma forma de pensar muito antiga, de ver as coisas sobre o prisma do “quanto pior puder , pior será”.Assim como o otimista, vejo o pessimista como inconveniente em algumas situações.Dialogamos com as duas partes em nosso interior; diálogo confuso, cacofônico, sempre inconcluso e cheio de estridências.Ontem estava vendo o filme Melancolia, daquele diretor nórdico famoso e com freqüência acusado de fascista, Lass von Trier.Aliás, o pensamento fascista é sempre acusado de ser pessimista, o que não tem consistência filosófica como juízo de valor, pelo menos para quem se interessa em pesquisar o interior das carnes ocultas do fascismo(fenômeno universal e cósmico ,segundo o Jorge Mautner).Por exemplo: os nazistas sempre acreditaram que podiam ganhar a guerra, mesmo quando essa já estava perdida.Haja otimismo!Mas sabem como é : em termos de Europa, acima da Normandia , quanto mais próximo do círculo polar,as coisas já começam a ficar cinzentas.É só pensarmos no gênio Bergman.O filme que vi tem imagens muito bonitas e é bem construído, nos personagens, nas falas, nos ritmos.Sim, com efeito é um porre de pessimismo.Mas na arte o pessimismo funciona, não faz mal.Na vida real não adianta muito porque atrapalha o cotidiano, tanto quanto o otimismo ingênuo e cegante.Em termos reais, mais fácil seria trabalharmos em termos estatísticos e, com isso, muita coisa ganharia consistência, até mesmo o amor sendo uma possibilidade estatística, apesar desse mundo.Mas enquanto um planeta Melancolia não nos vem livrar desse outro lado, d’aquém morte, a gente ainda vai continuar olhar para o céu buscando alguma estrela nova.Queira-se ou não.A vida é um troço muito teimoso...

O tempo todo fico esperando ter coisas que nem ao menos sei que existem.O tempo todo fico pensando em todo o tempo em que fiquei pensando nisso ,  deixando que as coisas que existem deixassem de existir.Mas se nem ao menos o tempo existe, apenas resiste à passagem de si mesmo pelo espaço em que se define...

Nada como deitar na cama, antes de pegar no sono, acender um cachimbo fiel, olhando a fumaça se projetando para cima, nuvens acinzentadas que se perdem na escuridão do teto.Meus devaneios flutuam como a fumaça que se esvai desse cachimbo, sobem e se desfazem ambos, fumaça e sonho, um pouco como o eu que sou e nunca se encontra,;para o alto, para o ar,  alma flutuando para longe da terra dos homens.


    Corpos que se coabitavam e ,em sua convivência de corpos, faziam coabitar duas almas, numa jornada incerta, sem começo ou fim.Ou melhor: com freqüência ,um fim,  quando a morada não alberga mais nada.

Dia desses cometi um erro : ouvi seguidamente duas sinfonias de Villa Lobos, antes de dormir.O resultado foi que dormi sonhando com trilha musical, aquele enxame sonórico-amazônico do Villa norteando meus sonhos, aquele caos sinfônico tão brasileiro fazendo parte desses sonhos, se é que os tive.Acordei me imaginando numa floresta tropical, quando em verdade não passava de meu trôpego quarto; tão pleno de poeira,cheiro de livros e restos de cinza de tabaco por todo o lado , o mundo e a vida real, além dos sonos e sonhos, lá fora me esperando, aquém, muito aquém das florestas imaginárias e das iaras perigosas.

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