Fico pensando se o pessimismo
não tem alguma origem genética.Filosoficamente é uma forma de pensar muito
antiga, de ver as coisas sobre o prisma do “quanto pior puder , pior
será”.Assim como o otimista, vejo o pessimista como inconveniente em algumas
situações.Dialogamos com as duas partes em nosso interior; diálogo confuso,
cacofônico, sempre inconcluso e cheio de estridências.Ontem estava vendo o
filme Melancolia, daquele diretor nórdico famoso e com freqüência acusado de
fascista, Lass von Trier.Aliás, o pensamento fascista é sempre acusado de ser
pessimista, o que não tem consistência filosófica como juízo de valor, pelo
menos para quem se interessa em pesquisar o interior das carnes ocultas do
fascismo(fenômeno universal e cósmico ,segundo o Jorge Mautner).Por exemplo: os
nazistas sempre acreditaram que podiam ganhar a guerra, mesmo quando essa já
estava perdida.Haja otimismo!Mas sabem como é : em termos de Europa, acima da
Normandia , quanto mais próximo do círculo polar,as coisas já começam a ficar
cinzentas.É só pensarmos no gênio Bergman.O filme que vi tem imagens muito
bonitas e é bem construído, nos personagens, nas falas, nos ritmos.Sim, com
efeito é um porre de pessimismo.Mas na arte o pessimismo funciona, não faz
mal.Na vida real não adianta muito porque atrapalha o cotidiano, tanto quanto o
otimismo ingênuo e cegante.Em termos reais, mais fácil seria trabalharmos em
termos estatísticos e, com isso, muita coisa ganharia consistência, até mesmo o
amor sendo uma possibilidade estatística, apesar desse mundo.Mas enquanto um
planeta Melancolia não nos vem livrar desse outro lado, d’aquém morte, a gente
ainda vai continuar olhar para o céu buscando alguma estrela nova.Queira-se ou
não.A vida é um troço muito teimoso...
O tempo todo fico esperando ter coisas que nem ao menos sei que
existem.O tempo todo fico pensando em todo o tempo em que fiquei pensando nisso
, deixando que as coisas que existem
deixassem de existir.Mas se nem ao menos o tempo existe, apenas resiste à
passagem de si mesmo pelo espaço em que se define...
Nada como deitar na cama, antes de pegar no sono, acender um cachimbo
fiel, olhando a fumaça se projetando para cima, nuvens acinzentadas que se
perdem na escuridão do teto.Meus devaneios flutuam como a fumaça que se esvai
desse cachimbo, sobem e se desfazem ambos, fumaça e sonho, um pouco como o eu
que sou e nunca se encontra,;para o alto, para o ar, alma flutuando para longe da terra dos
homens.
Corpos que se coabitavam e ,em
sua convivência de corpos, faziam coabitar duas almas, numa jornada incerta,
sem começo ou fim.Ou melhor: com freqüência ,um fim, quando a morada não alberga mais nada.
Dia desses cometi um erro : ouvi seguidamente duas sinfonias de Villa
Lobos, antes de dormir.O resultado foi que dormi sonhando com trilha musical,
aquele enxame sonórico-amazônico do Villa norteando meus sonhos, aquele caos
sinfônico tão brasileiro fazendo parte desses sonhos, se é que os tive.Acordei
me imaginando numa floresta tropical, quando em verdade não passava de meu
trôpego quarto; tão pleno de poeira,cheiro de livros e restos de cinza de
tabaco por todo o lado , o mundo e a vida real, além dos sonos e sonhos, lá
fora me esperando, aquém, muito aquém das florestas imaginárias e das iaras
perigosas.
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