Quando a beleza toca o coração, nós deixamos de ser o que somos , para sermos a soma de todas as coisas que deixamos de ser.
Na solidão, essa pétrea condição que envolve o ser humano, por vezes um hiato entre a sombra e a luz, entre a desesperança e a crença, se faz no breve momento em que um fato, um acaso ou outro ser nos desperta do torpor aflito do cotidiano. Pode por si só não existir o que chamamos de belo.Integridade, consonância, iluminação, tudo isso nos conduz ao profundo poço de mistério que é o coração da vida.
Em certas ocasiões, dar um doce a uma criança, falar coisas bonitas, desinterassadamente, a uma moça, pode nos fazer menos solitários.Compartilhamos nossas existências de sombras, onde "os corpos se tocam, as almas não", não tendo nunca certeza para onde vamos.Sempre a mesma questão, como a mesma posta no belo quadro de Gauguin: quem somos, de onde viemos, para onde vamos...E, nesse hiato de nossa desesperança, nos apegamos à beleza e ao amor, únicas plataformas onde podemos fincar com segurança os pés de nossos desejos.Até que ela, instante de inobservância das leis do universo, a beleza que surge do instante nos reintegre à dimensão perdida de nossos sonhos; nós, que apenas nos fazemos como projeção em carne do que eles são, frágil matéria plasmada pelo silêncio do universo.
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