sábado, 20 de outubro de 2012

A beleza de certas moças


A beleza de certas moças
Ah, a beleza de certas moças que nos ferem como o sol!
O que fazer com esse calor que não estanca ou esse frio por dentro que não cessa, o que fazer com essa inútil ternura? Essa beleza que, entre delicada e astuta, vai cortando suavemente a inobservância de nosso silêncio.
E vai essa beleza corroendo as vísceras pelos olhos e deixa lá suas feridas criadas, nesse frágil repositório de sonhos que finge carregar nossa alma.Deixa cicatrizes que olhamos com carinho.Na espera da presença corruptível da morte que devorará a tudo e a todos, a insana certeza de que essa beleza não morrerá.Por que mãos tão limitadas?Por essa moça e sua beleza, quem sabe ,cavaria uma trilha ao paraíso que jamais encontrarei a não ser pela rota indicada por elas.Há o mundo e seu horrores, palco de cruéis absurdos inenarráveis; mas há também a beleza dessas moças que nos redime da morte, do vazio, de todo o asco que nos entra pelas veias em cada despertar doloroso.Há a noite de animais sombrios, uivos desesperantes, assim como há o sorriso dela.O que fazer com a gravidade do momento de seu sorriso?
O tempo passa como o sol se põe, a cicatriz permanece.Eu a miro como quem olha uma folha pousada na superfície líquida em que agora meu corpo se transforma.Indelével e suave como um sorriso,  aquele sorriso que nunca se descreve , nunca se tem, paraíso numa boca de luar agora em corpo de mulher.Cicatriz-sorriso que me faz querer morrer ao ver; onde estará essa beleza amanhã?Sensível a qualquer toque...Ah, como dói a beleza de certas moças!O que fazer com essa lembrança, o que fazer com essa inescrupulosa ternura?

Nenhum comentário:

Postar um comentário