A beleza de
certas moças
Ah, a beleza
de certas moças que nos ferem como o sol!
O que fazer
com esse calor que não estanca ou esse frio por dentro que não cessa, o que
fazer com essa inútil ternura? Essa beleza que, entre delicada e astuta, vai
cortando suavemente a inobservância de nosso silêncio.
E vai essa
beleza corroendo as vísceras pelos olhos e deixa lá suas feridas criadas, nesse
frágil repositório de sonhos que finge carregar nossa alma.Deixa cicatrizes que
olhamos com carinho.Na espera da presença corruptível da morte que devorará a
tudo e a todos, a insana certeza de que essa beleza não morrerá.Por que mãos
tão limitadas?Por essa moça e sua beleza, quem sabe ,cavaria uma trilha ao
paraíso que jamais encontrarei a não ser pela rota indicada por elas.Há o mundo
e seu horrores, palco de cruéis absurdos inenarráveis; mas há também a beleza
dessas moças que nos redime da morte, do vazio, de todo o asco que nos entra
pelas veias em cada despertar doloroso.Há a noite de animais sombrios, uivos
desesperantes, assim como há o sorriso dela.O que fazer com a gravidade do
momento de seu sorriso?
O tempo
passa como o sol se põe, a cicatriz permanece.Eu a miro como quem olha uma
folha pousada na superfície líquida em que agora meu corpo se
transforma.Indelével e suave como um sorriso,
aquele sorriso que nunca se descreve , nunca se tem, paraíso numa boca
de luar agora em corpo de mulher.Cicatriz-sorriso que me faz querer morrer ao
ver; onde estará essa beleza amanhã?Sensível a qualquer toque...Ah, como dói a
beleza de certas moças!O que fazer com essa lembrança, o que fazer com essa
inescrupulosa ternura?
Nenhum comentário:
Postar um comentário