terça-feira, 30 de abril de 2013

pensamentos do finado abril


Não vendo um amigo de longa data, marco encontro e levamos um papo legal num café.Ele, também pintor, conta algumas novidades.Mas, interessante, após um início de discussões sobre arte, pintura e vida de artista, a conversa envereda por longo , longo tempo em torno de relacionamentos e sexo.Bem, não há como fugir, ainda mais se levarmos a sério pressupostos psicanalíticos de que toda atividade cultural humana acaba sendo instinto sexual sublimado, ou seja, transformado num substitutivo.Claro que há controvérsias sobre isso.Mas, fato é  que o problema não é a arte, e sim as mulheres.A arte nasce no terreno do acaso, mas um mínimo de controle temos sobre ela, em essência sendo indecifrável por completo, mas apresentando algumas pistas.As mulheres não: são incontroláveis e absolutamente inescrutáveis.Fazer arte é brincadeira ao se comparar a se relacionar com mulher.Elas, óbvio, devem  dizer o mesmo.Vai ver só dá para se comunicar mesmo por meio da arte.Afinal, ela, arte, está aí para "consertar" a vida.Somos todos "tortos" e nos comunicamos de formas "tortas".

O negócio é que, se levarmos a fundo como vemos o mundo, sejamos ou não  de mentalidade religiosa, deveríamos encarar tudo como sagrado, qualquer atividade cotidiana.Seria uma visão próxima a certas vertentes budistas, incompatíveis com a dinâmica em que vivemos,industrial, capitalista, consumista, veloz ao extremo, tecnológica.A não ser que desenvolvêssemos um estágio próprio de alienação individual, uma espécie de fragmentação da personalidade, com um piloto automático nos dirigindo na vida material cotidiana. Em verdade, todos levamos uma vida esquizóide, queiramos ou não.Mas o que fazer com a ferocidade extrema do mundo exterior, com tanto ódio, violência e intolerância, além da demonização de tanta coisa abstrata? Ainda estamos muito longe das luzes da razão iluminando nossos passos do dia a dia.
O ciúmes é o psicotrópico da imaginação.Como a cocaína, pode deixar elétrico.Como a maconha, pode prostrar. Como ácido, pode nos levar bem fora da realidade.
O sexo está para o amor assim como a chama da vela está para a luz por ela criada.A chama pode acabar, mas sua luz se expande indefinidamente ao infinito, perde-se no espaço, ninguém tem certeza até que limites alcança.Embora, com o tempo essa energia luminosa se dissipe em meio aos astros.Constatação: tudo acaba, até mesmo o amor.

Já ouvi o termo Era da Incerteza, assim como Era da Ansiedade.Eram associados ao século XX, podendo muito bem se adaptar ao XXI.Normalmente, em todo início de século as pessoas sentem-se ligadas ao anterior, tanto em costumes, valores morais, sentimentos e relações humanas.Contudo, uma certa nostalgia mórbida acentua um pessimismo, algo bem "fin de siècle", definidor do que antigamente se chamava decadentismo.Certo, então somos os decadentes do século XXI.Os decadentes do século XX  acabaram por fomentar, com seu pessimismo iconoclasta e contra o otimismo triunfalista burguês do século XIX, revoluções, tanto políticas quanto estéticas.O triunfalismo agora, por outro lado, é tecnológico, o que não implica que todos os problemas serão resolvidos pela ciência.Esta tem lá suas limitações, o mundo nunca será absolutamente racionalizável e continuaremos vivendo inseguranças diversas em nosso cotidiano.Se o século XX foi o mais sangrento da história, será que o XXI será o mais entediante?Por mim, a necessidade constante de consumo e diversão só pode gerar tédio, num tempo em que a duração da vida humana tende a se estender.Sei lá....Sei apenas que vou morrer antes de saber.Isso é certo.

Somos limitados por várias coisas: objetos, pessoas,nossa própria materialidade, ações, pensamentos, etc. O que está entre nós e o resto do universo é como uma membrana, onde ocorre uma osmose entre o que se sonha e o que se é, entre o que se pode fazer e o que se faz. Para tudo em nós há limite: podemos sonhar a genialidade por meio da razão e nosso intelecto não tem fôlego nem recursos para  tal; podemos nos imaginar em grandes conquistas nos esportes, escalar as maiores altitudes, mergulhar às maiores profundidades,  enfrentar as mais severas feras e forças da natureza em sua crueza absoluta ,e nos faltam os músculos, o fôlego , o coração fraqueja, os pulmões estiolam-se. Apenas para uma coisa não há limite nessa vida, onde a vontade se materializa de tal forma que se ombreia com a dimensão do universo: é a nossa sensibilidade. Esta não tem limites , por que só se define a partir da inexistência de limites.


Fico pensando que talvez fosse bom que meus pensamentos deixassem de se construir pelas texturas da razão, passando a ser apenas sensações.Seria mais simples e imediato, o que me levaria à míngua, talvez à situação de uma folha seca largada ao vento, num canto de sarjeta.Provável morte prematura mas, pelo menos, me livraria da idiotia do dia a dia, por  então desconhecer qualquer coisa inteligente como parâmetro.
Dar murro em ponta de faca pode não passar de uma forma um tanto radical de resolver uma coceirinha na mão.

Triste e impenetrável como aquela mangueira no fundo do quintal.
Absorto na vida como uma galinha passeando no terreiro.
A presunção tola, como aquela empáfia cheia de idiotia do galo.
Aquele " nem estar aí " do gato que nos olha com desprezo.
A simplicidade elegante de um cavalo descansando.
E a paciência sublime de um boi.


Isso tudo, talvez infelizmente, não sou eu, quem sabe ninguém.

Definitivamente, minha condição humana está muito limitada quando olho ao redor.


Estar maduro para o sofrimento.
Estar maduro para a poesia da vida.
Mas quando é que surge essa madureza?
Cobra-se maturidade constantemente,
mas pouco se preocupa com o alicerce de sofrimento
que segura os cacos das almas todas de toda a gente.

Dois idiotas brigam num ônibus em movimento causando um acidente.Sete pessoas morrem.Os dois imbecis tinham antecedentes de brigas e discussões, mas nunca tinham sido presos.Agora alegam não se lembrar de nada.Não devem se lembrar nem de que são humanos, os alienados ignorantes(uma combinação perigosa para se gerar violência sem controle).Arre, que tem gente que precisaria levar injeção de salitre na veia para deixar de fazer bobagem!.Como tem homem imbecil que briga por qualquer coisa: fila, mulher, futebol!Tem até muita mulher que curte esse tipo; sorte dela, faça bom proveito do traste.Raios de humanidade que ainda não sabe o que fazer com a violência interna, que ainda não aprendeu a conviver com o bárbaro civilizado amarradinho em nosso interior.Não tivesse rédeas curtas, por educação, temperamento ou mesmo repressão, eu já teria matado dezenas em minha vida.Motivos nunca faltaram, principalmente os fúteis.Deveria ganhar um bônus por controlar minha violência.Mas só ganhei mesmo foram bananas.Êta "espetáculo furioso e sem sentido"!O pior de tudo é a impunidade dos que não sabem segurar os cachorros.




Nenhum comentário:

Postar um comentário