Pois é, Cazuza nasceu no dia de hoje.Morreu cedo aos trinta e dois.Cometa pela luz, meteoro que queima rápido quando entra na atmosfera.Estivesse vivo estaria na meia idade, mas duvido que se comportasse como um senhor acomodado, aquele ar de boi resignado que toma conta da maior parte do pessoal nessa faixa etária.Afinal, seu pacto com o demônio não era com o do capital.
Acho que nem ao menos é trágico que certas almas poéticas partam tão cedo, tão limitante a vida normal é para elas.
No caso dele, o trágico foi o doloroso processo da morte.Que faria ele estivesse vivo, nessa modorrice de rebanho imposta pelo comercialismo triunfante?Provavelmente continuaria chutando o balde e fazendo música bonita.E, claro, por dentro sofrendo com a guerra constante contra a hipocrisia necrosante imposta pelo cotidiano estúpido que nos rodeia.
Em verdade, todos os poetas já estão mortos, mesmo quando vivos.A diferença apenas é imposta pela cronologia que demarca a passagem desse estágio de aquém-morte para as terras distantes de onde ninguém voltou.Podem até envelhecer, ao invés da morte precoce, mas sempre já estão mortos para a vida comum, esse lado de fora das coisas de dentro da alma que ninguém decifra, e que os poetas tentam resolver com suas matemáticas inusuais de versos e músicas.
Dizem os físicos que podem haver vários universos.Por que então não mais do que um simples céu?Lá, quem sabe, no céu dos poetas, Cazuza apronta a esbórnia com seus pares, talvez com a paz que a vida aqui de baixo nunca lhe permitiu.Lá, sem precisar de ideologia para viver.
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