Ora, vejamos as coisas de um ponto de vista filológico-psíquico: muita gente, injustamente, me acusa de misógino quando, em verdade, não passo de um infeliz filógino dependente.Edipiano?Talvez, mas em que medida, já que só me relacionei com mulheres que sempre foram a antípoda do que minha mãe era?Então, sinto dizer, tudo errado!Essa maldita mania de enquadrar.
Mais ou menos como Orson Welles(infelizmente ou felizmente sem a genialidade do gajo), a coisa que mais fiz na vida foi pensar em mulher.No restinho de tempo que o homem teve, fez coisas como o cidadão Kane.Hoje divido meu tempo pensante entre mulher e morte.As duas inescrutáveis, as duas podendo abalar a vida de um homem como nenhuma outra coisa nessa madrasta vida.Porém, o cidadão pode ser um misógino e ter sempre uma mulher ao lado.Quer dizer, tem antipatia pelo gênero oposto , mas não pode viver sem o mesmo.Para mim, este sim é um edipiano.Não vive sem mulher, não apenas por causa do sexo mas por outras carências.E usa essa presença para se justificar enquanto homem frente aos demais.Grandes gênios sempre tiveram mulher ao lado e não estavam nem aí para elas, quase um objeto de decoração; Welles, Chaplin, Bergman(as mulheres sempre foram os personagens principais de seus filmes, ainda que na vida particular o sueco pouco se importasse com o que sentissem),Picasso(nesse caso, objeto-modelo para criação).Muitos deles só amaram uma mulher, no sentido amplo de se amar um ser vivo ou uma coisa qualquer, quando envelheceram e tiveram a sexualidade(a básica, condicionada) minguando.Claro que sempre há exceções, generalização é sempre um erro, vai contra o nosso conhecimento científico adquirido a duras penas.Aquele amor terno dos homens velhos, inacessível aos mais jovens.Será que, então, a alma atrapalha o amor, como dizia um poema famoso de Bandeira?Ah, não sei, sabendo que tentar saber já seria loucura e enterraria de vez o amor.
Estou envelhecendo e me resignando com muita coisa, inclusive no que tange a entender o que se passa na cabeça(alma, para se usar um simbolismo metafórico) de mulher.Muita da chamada ânsia de amor que julgava ter na juventude estava ligada a clamor sexual, do tipo aflito, friccional mais que ficcional.Agora não sei bem.Não sei se as tocava de fato, além dos limites do corpo, este mais simples e automático ao contrário dos meandros daquela alma.Nesse ponto sou igual a qualquer homem: falhei com todas.Até os que casam e são companhia constante falham porque as limitam.Quem sabe, como diz o tal poema do Bandeira que tanto amo, somente após esse limite de aquém morte em que estamos possamos fazer as almas se entenderem.Por aqui ficamos no limite do físico e corporal.E nos limites do intelecto, onde a abstração derruba as barreiras de gênero.Sem contar, óbvio, a arte, essa atividade sem sexo, ainda que o realizado por homens ou mulheres tenha lá suas idiossincrasias.
O negócio é ir levando, aproveitando o contemplar, na medida em que o cansaço e o envelhecimento vão chegando.Vai lá saber o que nos reserva o futuro.Mas sempre tenho medo de que alguma portadora da maçã me tire da rota, talvez porque me iludo de ter alguma rota nesse mundo, nesse planeta de rota balouçante no universo.Mistério sempre há de pintar, como disse a canção.Por isso, não sou misógino, apenas reservado.Não posso antipatizar com nenhum mistério nesse mundo.Não posso simplesmente me dar a esse luxo.
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