terça-feira, 2 de abril de 2013

pensamentos de março passado


Diálogo:
-Ora, não exagere, não viaje!Você pode estar idealizando tudo e, no fundo, não goste dela além da página dois.
-Mas, e se meu livro não tiver mais que duas páginas?
-Rasgue uma página.
-Mas sempre sobra a capa...

Parece que a maioria das mulheres consegue beber mais do que eu.O que, aparentemente,  constituiria  uma vantagem para mim, no final das contas, em meu caso específico, transfigura-se numa tremenda desvantagem.

Pensando bem, chega um tempo em que não há mais razão de você esconder suas inseguranças, já que você já constatou que não está seguro de nada.

Há de se cair na real: as mulheres são seres inescrutáveis.Física clássica não funciona para entender a cabeça delas, quando muito a relativística funciona melhor.Isso é fato, conhecido de muito tempo, agora mais evidenciado pela emancipação e pelo caos reinante nos relacionamentos.Estes eram estáveis, organizados e repressores no passado e, obviamente, monótonos.Sem senso de humor , a gente não leva isso para a frente.Que fazer: a vida é assim, as mulheres são assim.Quem diz que entende as mulheres já está mais é desentendido de tudo.Presunção pode ser sinônimo de idiotice em certas coisas.Sim, são inescrutáveis. Fato. Pode-se odiar ou simplesmente se resignar com ele. Questão de humor.

2- Aí fico pensando: se as dificuldades que o artista impõe a si mesmo fazem desabrochar a beleza, porque as dificuldades impostas à conquista do objeto de desejo não fazem brotar o amor?Pode ser que façam, pelo menos para românticos( os verdadeiros, que são platônicos e tendem ao masoquismo; ser emotivo não é ser necessariamente romântico).Talvez porque o objeto básico da arte seja a viabilização de alguma "pulsão" amorosa, um tipo de energia mais difusa espalhada pelo mundo, enquanto outras formas de relacionamento com o mundo são concentradas, esgotam-se mais facilmente.A arte seria um substituto para a vida, uma forma de transformá-la, "consertá-la".Algo como o sexo existe para a continuidade da vida.Mas, em última instância, toda forma de amor acaba surgindo a partir do sexo, seja realizado ou não, seja sentimento difuso ou concentrado; daí toda arte ter origem sexual, coisa que muita gente não aceita, acha uma tremenda besteira.Ora, mas se o sentimento mais básico de ligação com a matéria e o próprio fluxo da vida é o sexo, como poderia esse básico primário estar desligado de uma atividade secundária transformada em símbolos e abstrações, como a arte? Claro que isso impõe acusação de ser freudiano.Sem problemas: estando errado ou não- e pouco me importa isso-, com vida sexual ou sem vida sexual, o que os humanos produzem culturalmente arranca vida dessa coisa toda aí.Ninguém sabe, ninguém vai saber mesmo.No fundo, é tudo um pouco substituição de uma coisa por outra porque, primariamente, a gente nasceu para procriar e continuar vivo, só isso; enquanto o grosso das pessoas se mobiliza nessa vida por poder, sexo ou dinheiro, coisas que podem perfeitamente se ligar.Tem gente que vai atrás de outras coisas; são os desviacionismos malucos dessa maluquice maior que é a vida.O resto é este equívoco entrópico que chamamos de humanidade.

3-Pode haver gente que diga que não gosta de dilemas.Desconfio disso, sou condenado a ter sempre uma dúvida sistematizada, ainda que todos os meus sistemas não funcionem de acordo com um sistema maior do universo; afinal, sou homem, um violador de princípios desse universo.Digo que não vejo como viver sem estar mergulhado em algum dilema, a todo momento.O dilema não é simples dúvida, pois implica numa decisão de ordem ética e moral(desde que a tenhamos, cada um com a sua, específica).A decisão sempre se dá por ação ou inação.Podemos estar num estado em que, artificialmente ou não(droga,transe emocional,etc), por exemplo, somos presas de instintos quase incontroláveis.Controlá-los ou não já é um dilema. Aquela faceta de lobo que se antepõe à candidez da razão pura, homens divididos sempre.O que se deixa de fazer sempre levantará uma dúvida de acerto ou não.Se, cartesianamente, a alma fosse distinta do corpo,materialmente concebido pelas percepção da mente, no plano das idéias poderíamos resolver dilemas num plano idealizado.Mas uma ação de ordem puramente emocional não tem um corolário perfeitamente justificável.Deixei de fazer: estava certo ou errado?Os dilemas só vão se aclarando nas relações com outros dilemas; como sempre surge um novo, a vida é um tecido de ações combinadas com dilemas.Quem foge do dilema, abstém-se de ser o que o homem é: um ser trágico que sabe não possuir todas as cordas ou chaves que regem seu destino.De dilema em dilema se caminha em direção à morte.O que deixei ou não de fazer é a transposição de um dilema para outro dilema que alimenta o tecido do destino.Contradição ambulante.É isso aí.

Não percebemos, mas o mundo exterior é sempre como um país estrangeiro para nós.É só despertar e relacionar isso com o resto do dia, até que as sombras de Morfeu despejem seu manto de silêncio, nessa outra face do espelho da existência que é o sono.Estrangeiros nesse mundo exterior, estranhos sempre nele, com passaportes falsificados passamos pelas alfândegas da razão, fingindo-nos, uns melhor que outros, ambientados nas hostilidades da vida.Mas em realidade - uma outra, não essa nossa - sonhamos com terras prometidas de onde nós mesmos rumamos a um exílio desconhecido, um pouco por desleixo, um pouco por capricho do que somos.

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