A partir de certo momento os valores se
invertem, quando menos se espera.Exemplo: com a passagem do tempo, podemos ter
duas pessoas que fincaram um pacto conjugal,
onde a sagrada instituição deixou de ser o casamento e passou a ser o
adultério.O que antes era sagrado passa então a ser um profano "enrustido".
Sempre digo que nada nos garante que a felicidade humana faça parte do
projeto da natureza. Tanto mais que a natureza parece não ter projeto algum,
apenas se move na auto-continuidade de si própria. O universo parece assim se
mover.Acaba, começa, acaba, começa. Mas para os que insistem em dizer que de
início surgiu o verbo, eu tenho lá minhas convicções de que no universo
predomina o advérbio. Verbo, quando muito defectivo.
Eu me
faço a partir do espelho que imagino refletir aquilo que penso ser minha
imagem.Logo, nada impede desse espelho
ser opaco.Em algum momento, pelo menos, ele o será.
Silogismo idealista:
Eu a amo, você me ama; logo, nos amamos
Silogismo masoquista:
Eu a amo, você não me ama; ainda assim eu a
amo.
Silogismo realista:
Eu a amo, você não me ama; logo, eu a odeio.
Silogismo ceticista:
Eu a amo, você me ama; logo, podemos nos
odiar.
Silogismo alternativo:
Eu a odeio, você me odeia; logo, nos amamos.
Dicas básicas para roteiros de filmes
básicos.Pouco lógicos: não sujeitos a silogismos. Aliás, funcionasse por
silogismo, o amor não seria o que é e sim seria uma equação com solução através
de números imaginários. Afinal, constitui-se de números irracionais.
Sempre gostei de ler
coisas de filosofia, não por acreditar achar ali solução para meus dilemas e
contradições, mas como um tipo de exercício estético do pensamento.Salvo,
evidente, quando o assunto envolvia lógica.No fundo, uma maneira de usar o
cérebro de forma irracional para combater o irracional que está lá dentro.Mas
não adianta: o reprimido sempre volta.Ainda bem que faço minhas traquinagens
artísticas que, mesmo que sejam medíocres, pelo menos evitam que eu mate um
medíocre por aí.
É o que mais ouço por aí: essa cidade deixa as
pessoas meio ariscas, ninguém confia em ninguém.
A
se lembrar que já Freud alertava que o ser humano é meio inconfiável, pois se
relaciona a partir da ponta de cima do iceberg; a maior parte, a submersa, os
instintos, essa fica abaixo da linha d'água.Outros pensadores ou artistas já
tinham dito isso, de maneiras diversas, em outras épocas.
Tem
gente que acha que o ser humano é bom, a sociedade é que o estraga; há os que o
vêem como inerentemente mau; finalmente, há os que enxergam tanto aspectos
negativos como positivos, nem mau, nem bom, o que me parece mais razoável pelas
frágeis evidências,Sei que, quando mais novo, confiava mais nas pessoas; hoje,
mais realista, não vejo aquele otimismo de juventude como algo ruim, e sim como
um aspecto de "pureza" que, de certa maneira, me poupou de desprezar
meu semelhante agora na maturidade,Por sinal, diga-se a bem da verdade, com
profundo esforço.E sem acreditar em deus ou em vida depois da morte, o que
complica mais as coisas, inclusive com seu próprio semelhante.
Em
termos de relação humana, prefiro até uma pessoa que acredita em deus –
descontados, obviamente, os fanatismos -do que uma que finge não acreditar mas
se comporta como quem acredita. Aí é dose! Esse tipo de gente nos confunde, não
sabemos como agir, como falar sem que sejam maculadas suas convicções. Certas
formas de farsa me irritam. Ou se acredita ou não, ou se tem fé ou não; pior é
justificar fé por meio racional.Depois agir irracionalmente. Então que fique só
mesmo no discurso de pensamento.Pascal tentou isso com brilho e não conseguiu,
a meu ver; produziu, com isso, bela literatura filosófica.Mas, afinal, era
Pascal, um pensador genial que, mesmo sendo seus Pensamentos livro meu de
cabeceira por um tempo, não conseguiu me convencer da existência de deus.Mas foi
coerente com o que disse ou fez em sua vida. E certa coerência é sempre
admirável; não gosto dos que ficam pela metade, não chegam até o fim, ficam
sempre no estágio morno, inclusive nas posições filosóficas ou éticas.
Quem já matou deus dentro de si, pode se resignar, não adianta, nunca
mais terá paz consoladora, viverá sempre entre o absurdo e o nada, será sempre
um trágico; não mais fará as pazes com a
projeção de si dentro da imagem de um deus que forjaram para sua
consciência.Terá só a si próprio e as encruzilhadas em que se criou.
Como não acreditar na recuperação das pessoas
se consegui me recuperar de minha própria pessoa? A qual, pessoalmente, sempre achei um caso
perdido para o mundo.Bem, talvez eu já seja um caso perdido e nem me toquei
disso. Ou talvez o mundo todo já esteja perdido e não saiba.Tanto faz.
Às vezes fico divagando em conversas com
amigos, desfiando minhas interpretações pessoais sobre psicanálise, filosofia
ou outra maluquice qualquer e, quando solto a idéia de que acho que o futuro
vai dar mais espaço para a bissexualidade, que os papéis tradicionais(pelo
menos no ocidente) estão com os dias contados(mas, os dias, ainda podem ser
muitos e muitos...) em função das transformações sociais, econômicas e
psicológicas, com tudo em mutação, as relações e instituições com constituição
de geléia; falo de como as coisas eram mais difusas nessa área na Grécia
antiga, do padrão andrógino dos valores
estéticos gregos, da idéia de virilidade na cultura clássica da antiguidade, da
feminilidade de temperamento de alguns poetas e artistas, e blá,blá,blá.Mais
hora menos hora, nove em dez dentre esses com quem converso sobre isso me lança
a pergunta: Sérgio, o que aconteceu,você virou gay? Aí concluo que o cara não
entendeu nada do que eu falava.Que fazer!A gente tem que saber com quem
conversa.E saber dos limites da conversa.
E
se os sentimentos das pessoas forem como as vozes por elas emitidas? Podem se
atravessar, uma pela outra, sem que uma interfira na outra, uma pessoa ou outra
podendo fingir que não escutou direito o que a outra falou. E mesmo assim, o ar
vibrou.
Quando vejo casais que se sustentaram, em meio aos grilhões de circunstâncias que os uniram, em anos e
anos decorridos de tortura mútua e compartilhada, experiências perdidas - senão com outros , pelo menos
entre os próprios cônjuges que, sozinhos, poderiam fruir de coisa melhor - ,
sem contar os trágicos eventos de rebentos colocados no mundo, ao relento das
neuroses partilhadas de forma familiar, penso na sobriedade e profundidade da
frase "antes só que mal acompanhado".São nessas horas que vejo como a
família devia ser vista como algo sagrado. Um outro tipo de sagrado, longe dos
preceitos de sociedade ou religião.Mas hoje esse tipo de família não subsiste. Algo,
hoje, banalizado como tudo. Mas então por quê levar a vida de forma banal? Com
isso apenas reproduzimos a forma como a natureza nos trata: da mesma forma
banal com que trata insetos ou plantas, a mesma indiferença que faz com que os elementos passem por cima
de nós.
Ah, essas pessoas de bem, decentes, de cidadania bem cumprida, doces,
suaves que, repentinamente, emitem uma opinião digna de um nazista convicto da
SS.... Que fazer, a humanidade é assim mesmo. Por isso as soluções têm sempre
que ser coletivas e com leis, porque aí existe a possibilidade de que a razão
dê a linha das coisas .Por isso não acredito no anarquismo como método
político. Porque, solto e no plano meramente individual, o ser humano é uma
fera perigosa e agressiva, o egoísmo sem barreiras ditando a regra, a
irracionalidade destrutiva ameaçando o que há ao seu redor, engolindo, com
isso, toda possibilidade de bondade, generosidade ou amor que existem dentro
desse ser .E que se deixe a anarquia para a arte, para os nossos sonhos ou
costumes, desde que não fira ninguém .Mas aí, aquela pessoa de bem, decente,
etc, pode também não gostar e pensar como um moralista inquisidor .Simplesmente
porque a liberdade e o exercício da razão parecem constranger o cidadão
comum-zé-ninguém desse nosso mundo doido.
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