sábado, 22 de junho de 2013

Reflexão sobre o que está ocorrendo

 Como caiu a ficha de que aqui não é o Eden do terceiro mundo(ah, esqueci que o Brasil não é mais terceiro mundo!),agora surgem generalizações sobre o movimento: anarquista, fascista, nacionalista, porra-louca, insatisfação juvenil, oportunismo anti-governista, e por aí afora.Alguns conhecidos meus, com orientação mais cética de pensamento, têm reclamado, há tempos, da alienação da juventude, da despolitização reinante,  do conservadorismo consumista de classe média(ora, não havia um orgulho de que o país estava virando um país de classe média?),da inércia, etc,etc.Conheço tanta gente que critica isto, critica esse acomodamento burguês capitalista mas....leva aquela vidinha besta de ovelhinha da mentalidade capitalista, mais ou menos com a coerência do "espiritualista" que não deixa de estar sempre dentro de um shopping.Repentinamente, em meio às movimentações que pegaram todo mundo de repente, procuram uma explicação que muitas vezes descambam para certo simplismo.Se cairmos no simplismo de análise, não escaparemos  de estar fazendo propaganda para um lado ou para outro.E propaganda é para a ação, não para a reflexão.
Acusar esse movimento como fascista me parece algo muito simplista.É óbvio que existem componentes fascistas, ideologicamente, em qualquer movimento espontâneo , o qual, por ser espontâneo, reflete os aspectos ideológicos da sociedade. Há componentes fascistas, assim como progressistas na sociedade.O que falta é diálogo dentro dela.Uma profunda desorientação predomina, mas não me parece que o que tem provocado não fuja a um conjunto de inquietações que percorrem a sociedade.Interessante o fato de que, num momento como esse de acirramento de posições, certas visões políticas, certas concepções de sociedade e participação política venham à tona.Pelas minhas posições expressas, curiosamente, tenho sido atacado por defensores, não muito críticos, do governo de colaborador da anarquia fascista desse movimento; por outros, portadores de posições preconceitualmente estabelecidas com o governo federal, acusado de defender o governo federal. Vejam só!Um chegou ao ponto de me chamar de" petista de merda", apenas porque considerei oportunista e sem sentido essa proposta esdrúxula de fazer campanha de impeachment da presidente.Pelo que me consta,estas manifestações não se voltaram apenas contra o governo federal, mas contra todos os desmandos efetuados pelas searas políticas, fruto, sem dúvida da deseducação política e inércia das massas.Engraçado: afinal, sou direitista ou esquerdista?Para alguns, sou as duas coisas.Estranho, porque não tenho tido posições do tipo "fora todos os partidos", tenho realçado a necessidade de equilíbrio, coisa difícil em situações como esta.
     Eu sempre acreditei na possibilidade de um processo de educação política e participação da sociedade em partidos políticos.Atualmente eles não têm cumprido esse papel.Há os que acham que isso nem é viável, apelando para o pragmatismo dos acordos, para a política institucional.
    O PT quando de seu surgimento, sempre me entusiamou por essa possibilidade de postura diferenciada, sem que em qualquer momento eu acreditasse que ele fosse motor de alguma transformação mais radical da sociedade, como muitos que dele participavam no início defendeiam.Sempre votei nele, em todas as eleições.Nas duas últimas, para presidente, confesso que votei mais contra os outros candidatos , que eu julgava muito autoritários e pouco representativos de  uma necessidade nacional.Acho até que ele,PT, cumpriu papel importante, tanto  quanto Lula , mas agora eu o vejo como algo muito parecido com os demais, fazendo um teatro que, mesmo usando de instrumentos justos e necessários como os programas sociais, cumpriu muito pouco do que podia, ainda mais em se levando em conta a liderança de que dispunha, a mais popular figura política  e liderança de massas surgidas nesse país, no caso Lula.
     Não vou endossar falas absurdas como "bolsa esmola", verbetes suspeitos de coisas da revista Veja, do tipo "governo mais corrupto da história".Os esquemas de corrupção são mais antigos; houve um absurdo processo de desmonte de patrimônio público pela venda de estatais, na era dos tucanos.Por outro lado, chegado ao poder, o PT não investigou, não fez a famosa limpeza que dizia que iria fazer.Tudo em função da governabilidade, para "não paralisar o país" , segundo as palavras de Zé Dirceu.Caiu, daí para a frente, para o caminho da política real dos FHC que tanto tinha combatido.Em verdade, já tinha subssumido o próprio PSDB.E com isso, jogou fora o enorme potencial de mobilização popular que havia criado, a possibilidade de um grande processo de renovação educativa de massas e consciência cívica.Deu nessa pasmaceira.O partido dos jovens passou a ser um partido de "velhos".Esgotou seus limites.Para mim, já cumpriu seu papel; o Lula e o lulismo não vai ser o eterno xamanismo que resolverá todos os problemas do país ou da história.E o resto parece ir do conservadorismo ao ultra-conservadorismo, sem opção alguma.Negar o mensalão é o mesmo que negar a compra de votos no governo FHC.Mas o próprio PT se furtou de correr atrás da elucidação desse crime contra o país, quando chegou ao poder.Deve ter se apoderado dos mecanismos de corrupção criados pelo sistema tucano que gerou as privatizações piratas.
    Pessoalmente, acho que essas grandes mobilizações jovens correm risco de se dispersar, é fato.Como é fato que qualquer mobilização é melhor do que nenhuma.Correm risco de não resultar em nada organizado.Mas demonstram uma insatisfação generalizada com muitas coisas e direitos não respeitados, que apenas os estratos mais jovens de classe média - conservadores em grande parte, é verdade, porque nossa sociedade é conservadora, mas desorientados e pouco esclarecidos- poderiam ostentar.Parece sempre ser assim.
     Existe uma postura individualista e elitista que sempre vê as massas como burras, raia miúda insana, não podendo se manifestar fora dos limites do voto e do mundo institucional da política.Massa essa que sempre tem que ser dirigida, mas nunca ouvida.Essa tem sido a postura que vai de FHC e Lula.Os dois, cúmplices, jogaram o país nessa encruzilhada.
    Essa postura- de ver a massa, o povo com desprezo - pode ser visível tanto num pensamento de esquerda quanto de direita.O pessimismo pode desaguar no imobilismo ou no reacionarismo.O pessimismo nunca se aproximará do que é mais jovem porque ele representa, no fundo,  a descrença, um certo mofo de  sentimento de morte e nada permeando tudo, uma descrença em formas novas de esperança.No fundo, a experiência demonstrou que, tanto fascistas quanto comunistas sempre pensaram assim, no todo sendo guiado pelos iluminados.
      Nossa cultura paternalista ainda trabalha com a idéia do grande líder.Agimos ainda como a grande Casa Grande e Senzala, tolerando inclusive figuras como o sinhozinho de escravos agora mais "liberal", como o que ocorre  com Sir Ney e outros, em torno da governabilidade.Sim, vão dizer que tudo tem que ser a passo lento e seguro.Não é à toa que nosso vice hoje é o Temer.
       Que haja passo lento e seguro mas sem abrir mão de um pouco de ousadia.Mas ver um Lula enaltecendo o passado do imperador do Maranhão ou dando a mão para o velhaco espoliador do tesouro público de São Paulo, já me diz tudo e me indica que o caminho não é mais por aí.Tive que votar no atual prefeito porque os outros candidatos eram piores ainda; pelo menos o atual prefeito me parecia menos reacionário.Daí que respeitei a postura de voto nulo ou branco defendida por muita gente sensata e inteligente que conheço.
      Quem achar que esse é o único caminho, tudo bem, mas que assuma que é um defensor do governo; assim como muita gente que ataca o mesmo tem que assumir que não vai mesmo é  com a cara da Dilma, até hoje não engoliu o "tosco" metalúrgico em oito anos no poder.Lulistas e viúvas de FHC me causam tédio!Parece-me postura mais emotiva que política,  uma idolatria contra o preconceito.O que seria pior?
    Mas, como dizia o filósofo Russell, política dificilmente  é feita por meio de argumentos lógicos e sim por emoções circunstancializadas.Entendê-las e orientá-las não deixa de ser uma nobreza de ação e inteligência humana.Porque toda energia humana, se não for organizada para o construtivo vira destruição ou barbárie.Se não houver diálogo e reflexão sobre o que ocorre, então, de nada adiantará toda essa barafunda.

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