quarta-feira, 19 de junho de 2013

Impressões sobre uma passeata


  Saio da servidão das companhias e entro para o claustro de meu reinado, meu quarto, meu reino e mundo.O mundo lá fora explodindo, abro a janela estranha que é o computador.Tudo corre e arrepia, serpenteando de desejo a minha inércia.Então, pouco me basta este silêncio em que me julgo rei e lá me jogo, aos portões sombrios da realidade. Sinto-me solitário no mundo, mas o mundo corre lá fora em sua solidão maior em meio ao cosmo gigantesco. Posso sonhar ser o senhor do castelo mas ainda sou servo.
   A bela noite tem uma lua ornamentando de pérola a indescritível massa de carne humana,  não consegue abafar os gritos.Multidão e gente, juventude iridescente em hormônios e insatisfação, essa carne e alma que fazem dela própria juventude. Nunca se sabe exatamente onde se vai, ninguém sabe exceto os poderosos em sua arrogância de pretensa imortalidade,seja lá em multidão ou solidão, na multidão em que somos sempre solidão acompanhada.Tanto faz: de riso e ruído, grito e revolta, sonho e ilusão também se faz a vida.Ainda que multidão possa rimar com ilusão, nada de mal ao se ver o irreal desmanchado no ar.Nossa vida pode mudar por uma simples casca de banana que nos colhe em desaviso, o que se pode dizer de asneira de político em sobreaviso?Tudo pode ser um castelo de cartas, ainda que haja sempre a tentativa de engessar e colar essas cartas.
  E corro para multidão que hoje me recebe, amanhã me rejeita,assim sempre são as coisas nesse mundo em que sempre somos um outro entre outros, uma solidão que sempre mergulha na multidão; e corre lá o mar de gente, um conluio erótico-ilusório, ritual teatralizado de corpos e mentes numa busca de algo além das palavras.Simples, algo como a vida, uma ação e reação constante, como uma grande ameba que se tornou autônoma de tudo e voou aos céu como astronauta.Porque não? Até amebas sonham.E tantos nos tratam como amebas...Sem sonhos, lógico.
   E que essa multidão seja uma ilusão em que mergulho, pouco me importo,  no curto espaço que pode existir entre esse momento e a morte, essa grande democracia do tudo que acaba de vez com os absurdos que os homens criam para si. A multidão que reina em mim me transforma no rei da multidão.E viro vassalo da alegria.E que seja mesmo um sonho, sem problema: talvez tudo nessa vida não passe de um sonho rumando ao grande sonho indescritível que se sonha maior que tudo.E nisso todos nós somos, tenhamos talento e treinamento ou não, artistas: temos dever de salvar nosso sonho.Salvar o sonho da ilusão de realidade que empedra nossa alma.O resto não passa de pura morte.

    E quando voltar de alma lavada, às plagas solitárias do reino em que me imagino me encontrar,  tolo que sou por sonhar em me encontrar,quem sabe sinta os sonhos meus dentro do grande sonho do mundo, essa grande ameba que encerra a luta da vida contra a morte, ao movimento amoroso de uma eterna multidão cheia de jovens e gritos.Assim a vida segue.

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