"Para que se mude de modo a ficar tudo como está", os poderes governantes recorrerão a remendos e curativos para recompor as instituições combalidas desse Estado mal administrado.As mobilizações de rua lançaram um alerta, alerta este que poderá ser ampliado caso setores mais amplos e populares se mobilizem em novas reivindicações. Essas mobilizações, até aqui, têm se caracterizado por organização "horizontal", sem hierarquia, sem símbolo preciso(exceto a bandeira brasileira), a bem da verdade sem símbolos que unifiquem as diversas facções e orientações.Daí correr-se o risco de se perder muita coisa da entropia erótico-coletiva criada, um surto de psquismo coletivo que, para usar um termo de um famoso revolucionário bolchevique da revolução russa, propisciou um "um salto qualitativo da consciência das massas".
Não se pautou tudo isso por um caráter classista, as coisas ficaram dentro de um âmbito de reivindicação"cívica", setores significativos de classe média jovem, por meio de protestos contra o desrespeito a direitos fundamentais do cidadão por parte do poder do Estado, em todas as suas instâncias, federal, estadual e municipal.Um salto tardio de consciência? E se os bolsões dos menos favorecidos começarem a pipocar, como agirão os que, hoje atacados como governantes ineptos, agora dizem que vão mudar as coisas e as leis?A se conferir...
Há quanto tempo vem sendo gasto dinheiro para essa copa, por exemplo; estádios quase prontos, o que fazer com eles, após o evento, a não ser usá-los?Como moradias populares, hospitais, estábulos? O estádio do time mais popular da cidade, citando, está sendo construído por meio de dinheiro público, captado por meio de grupo empresarial mancomunado com o poder há mais de vinte anos, com interferência de um condenado pelo mensalão, aliado do presidente-gângster do time(e qual presidente de time não é gangster?), figura de baixo-clero do partido que está no poder.Houve algum protesto antes da pedra fundamental ser lançada?Já vejo a festa de inauguração, ano que vem, tudo esquecido e sem protestos, sem lembrança da dinheirama desperdiçada em algo que não rende frutos coletivos; apesar de que times de futebol são considerados entidades de utilidade pública(que falácia!), no fundo usadas para fins particulares.Contradições tupiniquins? Estou sendo pessimista?Até quando irão essas manifestações de protesto?
Estourou tudo de uma vez, fruto do desmazelo dos poderosos, da apatia dos dominados por eles.Agora o rebu foi formado.Sabe deus no que dará.Não vejo organização partidária no horizonte.Os que estão no mercado, definitivamente não presta ou apodreceram.Não será algo como essa Rede Social, liderada por figura conservadora e evangélica com pinta de progressista, que apontará luzes.O país precisaria de uma nova forma de organização partidária porque, dentro do quadro institucional, como fugir ao sistema de luta pelo poder de estado, para mudar o estado das coisas?Até quando irá o oxigênio que alimenta esse organismo de revolta?Por enquanto ele existe e os poderosos tentam insuflar um pouco de gás carbônico nessa atmosfera política para diminuir a euforia, com promessas de mudança de leis.Algumas virão, expressão de resposta a anseios de revolta e protesto.Outras serão postergadas.Uma primavera que lançou a possibilidade de novos canteiros; só não tenho certeza de não ser seguida por um novo inverno de apatia.Espero que não.Espero que surja um surto coletivo-psíquico de inconformismo permanente, dentro da afirmação de posições políticas clarificidas.Difícil mas não impossível.
sábado, 29 de junho de 2013
quinta-feira, 27 de junho de 2013
Uma curiosidade sobre Gustav Klimt
Este é o retrato de Emile Floge feito por Gustav Klimt.Para se ser mais exato, a parte de cima do retrato que, posteriormente, o pintor ligou com o restante.Para Klimt o trabalho do fundo da pintura era essencial, o que produzia a atmosfera colorística pretendida, principalmente por meio dos elementos decorativos ou arabescos. Emile foi a grande musa de Klimt, homem mulherengo, em torno do qual se construíam lendas de estar sempre cercado de muitas modelos nuas enquanto trabalhava.As velhas lendas em torno do artista e seu atelier...Em verdade trabalhava sempre com uma modelo só por vez, isolado do mundo com ela.Ninguém nunca o viu trabalhando num atelier.Emile era uma mulher avançada para a época, não dependendo economicamente de nenhum homem(era comerciante de roupas finas e alta costura, uma espécie de Coco Chanel da Viena da época), culta e sem amarras.Foi confidente e melhor amiga de Klimt até sua morte, em 1918.Há vasta correspondência entre os dois, viajaram muitas vezes juntos, constantemente vistos juntos em ocasiões sociais.Ele a desenhou muito, fez várias pinturas dela; mas justamente esta, que ele muito apreciava, não era do agrado dela , até hoje não se sabendo o porquê disso.Pelo que vi de fotos dela, parece-me até que ele a fez mais bela na pintura.Como deveria ser esperado, naturalmente.Casado duas vezes, com dois filhos e muitos casos amorosos, inclusive com a famosa Alma Mahler, mulher de Gustav Mahler, ele, contudo, e pelo que se tem da correspondência e dos relatos de amigos e conhecidos íntimos, não teve relações que podemos chamar de mais íntimas com Emile.Cá entre nós, fazendo uma coisa tão bonita , a partir de uma mulher, nem precisa mesmo transar com ela.Talvez até atrapalhasse.
quarta-feira, 26 de junho de 2013
Momento político, eu e os outros
Não adianta mesmo: no final, em política, age-se mais com emoção do que com argumentos.A não ser quem direciona as coisas; esse tem que pensar bastante senão comete erro facilmente, incorrigível.
Política, emoção, o individual misturado ao todo coletivo que nos envolve.Paixão.Como sempre, como toda paixão , pode nos levar a um abismo.O personagem do filme de Glauber Rocha dizendo que "política e poesia são demais para um só homem"; a reflexão de Fernando Pessoa de que os políticos, assim como empresários ou militares, são homens de ação, de exterioridade, artistas e pensadores, de interioridade, de reflexão.As velhas cobranças que me açoitavam a juventude e me fizeram dispender tanto tempo e esforço em pregações e jornadas políticas.Mas o homem é um animal político, diria Aristóteles; como fugir da ação?
Nossa subjetividade existe em meio à materialidade objetiva que nos circunda, não podemos viver apenar a partir de nossa individualidade.Uma reação idealista, egoísta contra o ritmo e a dinâmica das massas?O mundo tão vasto e confuso, a humanidade sempre em lutas e brigas, a própria vida sendo uma labuta que carece de sentido e é plena de absurdos.
Quando mais novo, lá pelos vinte anos que não voltam mesmo, depois de minha paixão pela ciência,duas paixões outras me assaltavam: poesia e política; arte veio depois.Achava até que o mundo iria se transformar radicalmente e que eu teria que me preparar, tinha um papel político a desempenhar na sociedade e na história.Leitura, leitura,leitura....O mundo e os modelos de pensamento tentando enquadrar as coisas.Quanta adrenalina, quanta disposição!
Ah , que não consigo ficar parado, o senso de revolta sempre acicata meus ânimos e vísceras.Ainda não me adaptei bem à vida, nem sei se o conseguirei até minha morte, hoje mais próxima e palpável do que quando vivia a intumescência juvenil da prática social.Bem, pelo menos estou vivo.Sentir solidariedade pelo outro ou por uma causa, mesmo uma causa meio estranha, nos faz sentir mais vivos.Parado para quê? Criamos castelos de cristais, cheios de ceticismo extremado e conformismo; não são de cristais e sim de papel,apodrecendo com os ares da realidade.Com o tempo, as experiências vão nos torporizando e vamos perdendo encanto por tanta coisa: pelo amor, pela profissão e, mais facilmente até, pela ação política.Não adianta: o retorno da consciência reprimida age da mesma forma que o impulso reprimido, está sempre prestes a se mostrar.Derrota pela vida?Talvez.Pelo sonho?Nunca. Pode ser que acalentar sonhos coletivos esteja ligado a desenvolver outros, nossos e subjetivos, que já havíamos colocado de lado.Somos esperança em ação, desesperança em inação; assim é a dinâmica dessa máquina desejante do homem, engrenagem sutil e autônoma na grande máquina do mundo.Ainda que todos sejamos vítimas do acaso.Até uma mobilização, um evento histórico crucial pode começar com o acaso.
O negócio é brigar.Nesses tempos, mesmo prezando a argumentação, tenho discutido com muita gente, por pouco resvalando na ofensa.Coisas da vida.Sério?Em parte sim, em parte não; mas visões de mundo antagônicas expressam resoluções de máquinas desejantes diferentes.Como vivemos em contatos de superficialidade, exceto quando esses são sexuais -ainda que se tente minimizá-los: são mais profundos do que aparecem por exporem uma "nudez" absoluta do ser humano -, quando um assunto mais passional entra na jogada, o clima pode ferver e podemos ver um pouco mais da interioridade do outro com que convivemos, superficialmente, apenas na camada externa e coloquial das convenções.Surpresa!"Você pensa assim?Que horror!".
Mas é sempre bom ver além da superfície das conversas miúdas do lugar comum e do dia a dia mofado, ver a interioridade, nossa e dos outros, as visões de mundo que se explicitam em momentos de agitação e discussão.
Nosso corpo nos dá sempre problemas, o mundo exterior é hostil e a natureza não foi construída para nossa comodidade; afinal, fomos expulsos do éden.Problema maior parece ser o sofrimento que os outros nos causam, as decepções e surpresas desagradáveis com esses outros, o contato com os outros que nos fere mas é inevitável.Existe sempre esse sofrer que é inerente à vida.Afinal, como não sofrer se nossos desejos sempre serão maiores que a possibilidade de sua realização.E as pessoas nunca são, de fato, o que imaginamos delas, muito ao contrário, de certa forma.Projetamos nos outros o nosso desejo de que esses outros sejam como queremos.Vasto, ledo engano.Mas sempre devemos insistir com esses outros.Para nos bastarmos, em nosso próprio jardim cultivado, temos que ser outros dentro de nós mesmos.O que não nos basta.Nada nos basta e pronto.Sempre haverá o eu e os outros.Isso só acaba com a morte.Precisamos dos outros, ainda que esses outros sejam criados pela nossa vontade de outros impossíveis por não serem outros além dos outros comuns que nos cercam.E sofremos com isso.Sem problema: há sempre prazer na luta, qualquer que seja, mesmo inglória.Destino humano.
Como diria Camus, é preciso imaginar Sísifo descobrindo alegria e esperança em sua tarefa inglória de, eternamente, empurrar a mesma rocha montanha acima.
Política, emoção, o individual misturado ao todo coletivo que nos envolve.Paixão.Como sempre, como toda paixão , pode nos levar a um abismo.O personagem do filme de Glauber Rocha dizendo que "política e poesia são demais para um só homem"; a reflexão de Fernando Pessoa de que os políticos, assim como empresários ou militares, são homens de ação, de exterioridade, artistas e pensadores, de interioridade, de reflexão.As velhas cobranças que me açoitavam a juventude e me fizeram dispender tanto tempo e esforço em pregações e jornadas políticas.Mas o homem é um animal político, diria Aristóteles; como fugir da ação?
Nossa subjetividade existe em meio à materialidade objetiva que nos circunda, não podemos viver apenar a partir de nossa individualidade.Uma reação idealista, egoísta contra o ritmo e a dinâmica das massas?O mundo tão vasto e confuso, a humanidade sempre em lutas e brigas, a própria vida sendo uma labuta que carece de sentido e é plena de absurdos.
Quando mais novo, lá pelos vinte anos que não voltam mesmo, depois de minha paixão pela ciência,duas paixões outras me assaltavam: poesia e política; arte veio depois.Achava até que o mundo iria se transformar radicalmente e que eu teria que me preparar, tinha um papel político a desempenhar na sociedade e na história.Leitura, leitura,leitura....O mundo e os modelos de pensamento tentando enquadrar as coisas.Quanta adrenalina, quanta disposição!
Ah , que não consigo ficar parado, o senso de revolta sempre acicata meus ânimos e vísceras.Ainda não me adaptei bem à vida, nem sei se o conseguirei até minha morte, hoje mais próxima e palpável do que quando vivia a intumescência juvenil da prática social.Bem, pelo menos estou vivo.Sentir solidariedade pelo outro ou por uma causa, mesmo uma causa meio estranha, nos faz sentir mais vivos.Parado para quê? Criamos castelos de cristais, cheios de ceticismo extremado e conformismo; não são de cristais e sim de papel,apodrecendo com os ares da realidade.Com o tempo, as experiências vão nos torporizando e vamos perdendo encanto por tanta coisa: pelo amor, pela profissão e, mais facilmente até, pela ação política.Não adianta: o retorno da consciência reprimida age da mesma forma que o impulso reprimido, está sempre prestes a se mostrar.Derrota pela vida?Talvez.Pelo sonho?Nunca. Pode ser que acalentar sonhos coletivos esteja ligado a desenvolver outros, nossos e subjetivos, que já havíamos colocado de lado.Somos esperança em ação, desesperança em inação; assim é a dinâmica dessa máquina desejante do homem, engrenagem sutil e autônoma na grande máquina do mundo.Ainda que todos sejamos vítimas do acaso.Até uma mobilização, um evento histórico crucial pode começar com o acaso.
O negócio é brigar.Nesses tempos, mesmo prezando a argumentação, tenho discutido com muita gente, por pouco resvalando na ofensa.Coisas da vida.Sério?Em parte sim, em parte não; mas visões de mundo antagônicas expressam resoluções de máquinas desejantes diferentes.Como vivemos em contatos de superficialidade, exceto quando esses são sexuais -ainda que se tente minimizá-los: são mais profundos do que aparecem por exporem uma "nudez" absoluta do ser humano -, quando um assunto mais passional entra na jogada, o clima pode ferver e podemos ver um pouco mais da interioridade do outro com que convivemos, superficialmente, apenas na camada externa e coloquial das convenções.Surpresa!"Você pensa assim?Que horror!".
Mas é sempre bom ver além da superfície das conversas miúdas do lugar comum e do dia a dia mofado, ver a interioridade, nossa e dos outros, as visões de mundo que se explicitam em momentos de agitação e discussão.
Nosso corpo nos dá sempre problemas, o mundo exterior é hostil e a natureza não foi construída para nossa comodidade; afinal, fomos expulsos do éden.Problema maior parece ser o sofrimento que os outros nos causam, as decepções e surpresas desagradáveis com esses outros, o contato com os outros que nos fere mas é inevitável.Existe sempre esse sofrer que é inerente à vida.Afinal, como não sofrer se nossos desejos sempre serão maiores que a possibilidade de sua realização.E as pessoas nunca são, de fato, o que imaginamos delas, muito ao contrário, de certa forma.Projetamos nos outros o nosso desejo de que esses outros sejam como queremos.Vasto, ledo engano.Mas sempre devemos insistir com esses outros.Para nos bastarmos, em nosso próprio jardim cultivado, temos que ser outros dentro de nós mesmos.O que não nos basta.Nada nos basta e pronto.Sempre haverá o eu e os outros.Isso só acaba com a morte.Precisamos dos outros, ainda que esses outros sejam criados pela nossa vontade de outros impossíveis por não serem outros além dos outros comuns que nos cercam.E sofremos com isso.Sem problema: há sempre prazer na luta, qualquer que seja, mesmo inglória.Destino humano.
Como diria Camus, é preciso imaginar Sísifo descobrindo alegria e esperança em sua tarefa inglória de, eternamente, empurrar a mesma rocha montanha acima.
sábado, 22 de junho de 2013
Reflexão sobre o que está ocorrendo
Como caiu a ficha de que aqui não é o Eden do terceiro mundo(ah, esqueci que o Brasil não é mais terceiro mundo!),agora surgem generalizações sobre o movimento: anarquista, fascista, nacionalista, porra-louca, insatisfação juvenil, oportunismo anti-governista, e por aí afora.Alguns conhecidos meus, com orientação mais cética de pensamento, têm reclamado, há tempos, da alienação da juventude, da despolitização reinante, do conservadorismo consumista de classe média(ora, não havia um orgulho de que o país estava virando um país de classe média?),da inércia, etc,etc.Conheço tanta gente que critica isto, critica esse acomodamento burguês capitalista mas....leva aquela vidinha besta de ovelhinha da mentalidade capitalista, mais ou menos com a coerência do "espiritualista" que não deixa de estar sempre dentro de um shopping.Repentinamente, em meio às movimentações que pegaram todo mundo de repente, procuram uma explicação que muitas vezes descambam para certo simplismo.Se cairmos no simplismo de análise, não escaparemos de estar fazendo propaganda para um lado ou para outro.E propaganda é para a ação, não para a reflexão.
Acusar esse movimento como fascista me parece algo muito simplista.É óbvio que existem componentes fascistas, ideologicamente, em qualquer movimento espontâneo , o qual, por ser espontâneo, reflete os aspectos ideológicos da sociedade. Há componentes fascistas, assim como progressistas na sociedade.O que falta é diálogo dentro dela.Uma profunda desorientação predomina, mas não me parece que o que tem provocado não fuja a um conjunto de inquietações que percorrem a sociedade.Interessante o fato de que, num momento como esse de acirramento de posições, certas visões políticas, certas concepções de sociedade e participação política venham à tona.Pelas minhas posições expressas, curiosamente, tenho sido atacado por defensores, não muito críticos, do governo de colaborador da anarquia fascista desse movimento; por outros, portadores de posições preconceitualmente estabelecidas com o governo federal, acusado de defender o governo federal. Vejam só!Um chegou ao ponto de me chamar de" petista de merda", apenas porque considerei oportunista e sem sentido essa proposta esdrúxula de fazer campanha de impeachment da presidente.Pelo que me consta,estas manifestações não se voltaram apenas contra o governo federal, mas contra todos os desmandos efetuados pelas searas políticas, fruto, sem dúvida da deseducação política e inércia das massas.Engraçado: afinal, sou direitista ou esquerdista?Para alguns, sou as duas coisas.Estranho, porque não tenho tido posições do tipo "fora todos os partidos", tenho realçado a necessidade de equilíbrio, coisa difícil em situações como esta.
Eu sempre acreditei na possibilidade de um processo de educação política e participação da sociedade em partidos políticos.Atualmente eles não têm cumprido esse papel.Há os que acham que isso nem é viável, apelando para o pragmatismo dos acordos, para a política institucional.
O PT quando de seu surgimento, sempre me entusiamou por essa possibilidade de postura diferenciada, sem que em qualquer momento eu acreditasse que ele fosse motor de alguma transformação mais radical da sociedade, como muitos que dele participavam no início defendeiam.Sempre votei nele, em todas as eleições.Nas duas últimas, para presidente, confesso que votei mais contra os outros candidatos , que eu julgava muito autoritários e pouco representativos de uma necessidade nacional.Acho até que ele,PT, cumpriu papel importante, tanto quanto Lula , mas agora eu o vejo como algo muito parecido com os demais, fazendo um teatro que, mesmo usando de instrumentos justos e necessários como os programas sociais, cumpriu muito pouco do que podia, ainda mais em se levando em conta a liderança de que dispunha, a mais popular figura política e liderança de massas surgidas nesse país, no caso Lula.
Não vou endossar falas absurdas como "bolsa esmola", verbetes suspeitos de coisas da revista Veja, do tipo "governo mais corrupto da história".Os esquemas de corrupção são mais antigos; houve um absurdo processo de desmonte de patrimônio público pela venda de estatais, na era dos tucanos.Por outro lado, chegado ao poder, o PT não investigou, não fez a famosa limpeza que dizia que iria fazer.Tudo em função da governabilidade, para "não paralisar o país" , segundo as palavras de Zé Dirceu.Caiu, daí para a frente, para o caminho da política real dos FHC que tanto tinha combatido.Em verdade, já tinha subssumido o próprio PSDB.E com isso, jogou fora o enorme potencial de mobilização popular que havia criado, a possibilidade de um grande processo de renovação educativa de massas e consciência cívica.Deu nessa pasmaceira.O partido dos jovens passou a ser um partido de "velhos".Esgotou seus limites.Para mim, já cumpriu seu papel; o Lula e o lulismo não vai ser o eterno xamanismo que resolverá todos os problemas do país ou da história.E o resto parece ir do conservadorismo ao ultra-conservadorismo, sem opção alguma.Negar o mensalão é o mesmo que negar a compra de votos no governo FHC.Mas o próprio PT se furtou de correr atrás da elucidação desse crime contra o país, quando chegou ao poder.Deve ter se apoderado dos mecanismos de corrupção criados pelo sistema tucano que gerou as privatizações piratas.
Pessoalmente, acho que essas grandes mobilizações jovens correm risco de se dispersar, é fato.Como é fato que qualquer mobilização é melhor do que nenhuma.Correm risco de não resultar em nada organizado.Mas demonstram uma insatisfação generalizada com muitas coisas e direitos não respeitados, que apenas os estratos mais jovens de classe média - conservadores em grande parte, é verdade, porque nossa sociedade é conservadora, mas desorientados e pouco esclarecidos- poderiam ostentar.Parece sempre ser assim.
Existe uma postura individualista e elitista que sempre vê as massas como burras, raia miúda insana, não podendo se manifestar fora dos limites do voto e do mundo institucional da política.Massa essa que sempre tem que ser dirigida, mas nunca ouvida.Essa tem sido a postura que vai de FHC e Lula.Os dois, cúmplices, jogaram o país nessa encruzilhada.
Essa postura- de ver a massa, o povo com desprezo - pode ser visível tanto num pensamento de esquerda quanto de direita.O pessimismo pode desaguar no imobilismo ou no reacionarismo.O pessimismo nunca se aproximará do que é mais jovem porque ele representa, no fundo, a descrença, um certo mofo de sentimento de morte e nada permeando tudo, uma descrença em formas novas de esperança.No fundo, a experiência demonstrou que, tanto fascistas quanto comunistas sempre pensaram assim, no todo sendo guiado pelos iluminados.
Nossa cultura paternalista ainda trabalha com a idéia do grande líder.Agimos ainda como a grande Casa Grande e Senzala, tolerando inclusive figuras como o sinhozinho de escravos agora mais "liberal", como o que ocorre com Sir Ney e outros, em torno da governabilidade.Sim, vão dizer que tudo tem que ser a passo lento e seguro.Não é à toa que nosso vice hoje é o Temer.
Que haja passo lento e seguro mas sem abrir mão de um pouco de ousadia.Mas ver um Lula enaltecendo o passado do imperador do Maranhão ou dando a mão para o velhaco espoliador do tesouro público de São Paulo, já me diz tudo e me indica que o caminho não é mais por aí.Tive que votar no atual prefeito porque os outros candidatos eram piores ainda; pelo menos o atual prefeito me parecia menos reacionário.Daí que respeitei a postura de voto nulo ou branco defendida por muita gente sensata e inteligente que conheço.
Quem achar que esse é o único caminho, tudo bem, mas que assuma que é um defensor do governo; assim como muita gente que ataca o mesmo tem que assumir que não vai mesmo é com a cara da Dilma, até hoje não engoliu o "tosco" metalúrgico em oito anos no poder.Lulistas e viúvas de FHC me causam tédio!Parece-me postura mais emotiva que política, uma idolatria contra o preconceito.O que seria pior?
Mas, como dizia o filósofo Russell, política dificilmente é feita por meio de argumentos lógicos e sim por emoções circunstancializadas.Entendê-las e orientá-las não deixa de ser uma nobreza de ação e inteligência humana.Porque toda energia humana, se não for organizada para o construtivo vira destruição ou barbárie.Se não houver diálogo e reflexão sobre o que ocorre, então, de nada adiantará toda essa barafunda.
Acusar esse movimento como fascista me parece algo muito simplista.É óbvio que existem componentes fascistas, ideologicamente, em qualquer movimento espontâneo , o qual, por ser espontâneo, reflete os aspectos ideológicos da sociedade. Há componentes fascistas, assim como progressistas na sociedade.O que falta é diálogo dentro dela.Uma profunda desorientação predomina, mas não me parece que o que tem provocado não fuja a um conjunto de inquietações que percorrem a sociedade.Interessante o fato de que, num momento como esse de acirramento de posições, certas visões políticas, certas concepções de sociedade e participação política venham à tona.Pelas minhas posições expressas, curiosamente, tenho sido atacado por defensores, não muito críticos, do governo de colaborador da anarquia fascista desse movimento; por outros, portadores de posições preconceitualmente estabelecidas com o governo federal, acusado de defender o governo federal. Vejam só!Um chegou ao ponto de me chamar de" petista de merda", apenas porque considerei oportunista e sem sentido essa proposta esdrúxula de fazer campanha de impeachment da presidente.Pelo que me consta,estas manifestações não se voltaram apenas contra o governo federal, mas contra todos os desmandos efetuados pelas searas políticas, fruto, sem dúvida da deseducação política e inércia das massas.Engraçado: afinal, sou direitista ou esquerdista?Para alguns, sou as duas coisas.Estranho, porque não tenho tido posições do tipo "fora todos os partidos", tenho realçado a necessidade de equilíbrio, coisa difícil em situações como esta.
Eu sempre acreditei na possibilidade de um processo de educação política e participação da sociedade em partidos políticos.Atualmente eles não têm cumprido esse papel.Há os que acham que isso nem é viável, apelando para o pragmatismo dos acordos, para a política institucional.
O PT quando de seu surgimento, sempre me entusiamou por essa possibilidade de postura diferenciada, sem que em qualquer momento eu acreditasse que ele fosse motor de alguma transformação mais radical da sociedade, como muitos que dele participavam no início defendeiam.Sempre votei nele, em todas as eleições.Nas duas últimas, para presidente, confesso que votei mais contra os outros candidatos , que eu julgava muito autoritários e pouco representativos de uma necessidade nacional.Acho até que ele,PT, cumpriu papel importante, tanto quanto Lula , mas agora eu o vejo como algo muito parecido com os demais, fazendo um teatro que, mesmo usando de instrumentos justos e necessários como os programas sociais, cumpriu muito pouco do que podia, ainda mais em se levando em conta a liderança de que dispunha, a mais popular figura política e liderança de massas surgidas nesse país, no caso Lula.
Não vou endossar falas absurdas como "bolsa esmola", verbetes suspeitos de coisas da revista Veja, do tipo "governo mais corrupto da história".Os esquemas de corrupção são mais antigos; houve um absurdo processo de desmonte de patrimônio público pela venda de estatais, na era dos tucanos.Por outro lado, chegado ao poder, o PT não investigou, não fez a famosa limpeza que dizia que iria fazer.Tudo em função da governabilidade, para "não paralisar o país" , segundo as palavras de Zé Dirceu.Caiu, daí para a frente, para o caminho da política real dos FHC que tanto tinha combatido.Em verdade, já tinha subssumido o próprio PSDB.E com isso, jogou fora o enorme potencial de mobilização popular que havia criado, a possibilidade de um grande processo de renovação educativa de massas e consciência cívica.Deu nessa pasmaceira.O partido dos jovens passou a ser um partido de "velhos".Esgotou seus limites.Para mim, já cumpriu seu papel; o Lula e o lulismo não vai ser o eterno xamanismo que resolverá todos os problemas do país ou da história.E o resto parece ir do conservadorismo ao ultra-conservadorismo, sem opção alguma.Negar o mensalão é o mesmo que negar a compra de votos no governo FHC.Mas o próprio PT se furtou de correr atrás da elucidação desse crime contra o país, quando chegou ao poder.Deve ter se apoderado dos mecanismos de corrupção criados pelo sistema tucano que gerou as privatizações piratas.
Pessoalmente, acho que essas grandes mobilizações jovens correm risco de se dispersar, é fato.Como é fato que qualquer mobilização é melhor do que nenhuma.Correm risco de não resultar em nada organizado.Mas demonstram uma insatisfação generalizada com muitas coisas e direitos não respeitados, que apenas os estratos mais jovens de classe média - conservadores em grande parte, é verdade, porque nossa sociedade é conservadora, mas desorientados e pouco esclarecidos- poderiam ostentar.Parece sempre ser assim.
Existe uma postura individualista e elitista que sempre vê as massas como burras, raia miúda insana, não podendo se manifestar fora dos limites do voto e do mundo institucional da política.Massa essa que sempre tem que ser dirigida, mas nunca ouvida.Essa tem sido a postura que vai de FHC e Lula.Os dois, cúmplices, jogaram o país nessa encruzilhada.
Essa postura- de ver a massa, o povo com desprezo - pode ser visível tanto num pensamento de esquerda quanto de direita.O pessimismo pode desaguar no imobilismo ou no reacionarismo.O pessimismo nunca se aproximará do que é mais jovem porque ele representa, no fundo, a descrença, um certo mofo de sentimento de morte e nada permeando tudo, uma descrença em formas novas de esperança.No fundo, a experiência demonstrou que, tanto fascistas quanto comunistas sempre pensaram assim, no todo sendo guiado pelos iluminados.
Nossa cultura paternalista ainda trabalha com a idéia do grande líder.Agimos ainda como a grande Casa Grande e Senzala, tolerando inclusive figuras como o sinhozinho de escravos agora mais "liberal", como o que ocorre com Sir Ney e outros, em torno da governabilidade.Sim, vão dizer que tudo tem que ser a passo lento e seguro.Não é à toa que nosso vice hoje é o Temer.
Que haja passo lento e seguro mas sem abrir mão de um pouco de ousadia.Mas ver um Lula enaltecendo o passado do imperador do Maranhão ou dando a mão para o velhaco espoliador do tesouro público de São Paulo, já me diz tudo e me indica que o caminho não é mais por aí.Tive que votar no atual prefeito porque os outros candidatos eram piores ainda; pelo menos o atual prefeito me parecia menos reacionário.Daí que respeitei a postura de voto nulo ou branco defendida por muita gente sensata e inteligente que conheço.
Quem achar que esse é o único caminho, tudo bem, mas que assuma que é um defensor do governo; assim como muita gente que ataca o mesmo tem que assumir que não vai mesmo é com a cara da Dilma, até hoje não engoliu o "tosco" metalúrgico em oito anos no poder.Lulistas e viúvas de FHC me causam tédio!Parece-me postura mais emotiva que política, uma idolatria contra o preconceito.O que seria pior?
Mas, como dizia o filósofo Russell, política dificilmente é feita por meio de argumentos lógicos e sim por emoções circunstancializadas.Entendê-las e orientá-las não deixa de ser uma nobreza de ação e inteligência humana.Porque toda energia humana, se não for organizada para o construtivo vira destruição ou barbárie.Se não houver diálogo e reflexão sobre o que ocorre, então, de nada adiantará toda essa barafunda.
sexta-feira, 21 de junho de 2013
A falácia do Feliciano
Exijo internação, já!
Bem,
meu problema nunca foi o homossexualismo, embora a sexualidade , em si , sempre
tenha sido um problema.E para quem não é?
Nesse ponto, minha vida foi menos complicada do que para qualquer gay,
por não sofrer perseguição, a não ser a dos meus desejos, das péssimas escolhas e das neuroses em meus
relacionamentos.Mas nunca poderia apelar ao Estado para resolver esses
problemas e psicanalista sempre custou caro e pouco resolveu.Há coisas
incuráveis nessa vida...
Agora vem um projeto para que o gay tenha tratamento adequado por parte
do estado.Projeto proposto pela comissão de direitos humanos, comandada por uma
figura sem dúvida homofóbica.Imagino como seria uma comissão de direitos
humanos na Alemanha nazista e quem seria seu presidente.Provavelmente o
Dr.Mengele.
Pois bem; considero que, a partir disso, tenho direito de reivindicar
tratamento psicológico pelo estado.Não por ser gay.Pelo menos por enquanto; acho que dificilmente vou mudar de time já que
estou um pouco velho demais e viciado em
outros frutos.Os motivos seriam outros, de inadequação social, quem sabe.
Sempre
concordei com Freud que todos nascemos bissexuais e só alguns acasos produzidos
por educação, criação e sociedade produzem a diferenciação heterossexual; ou
seja, todos ainda, em parte, continuamos bissexuais, apenas o comportamento
hetero sendo um acaso; tem vezes que não
consigo ver diferença alguma entre homem e mulher, mulher que parece
homem(hoje, cada vez mais, ah,ah!), homem parecendo mulher, tudo muito confuso,
naturalmente.Daí que todo hetero ainda tenha fantasias homossexuais, assim como
em família, todos têm fantasias incestuosas, todos os homens com
potencialidades estupradoras(daí a necessidade punitiva severa por parte da
sociedade), muitas necessidades e impulsos reprimidos no inconsciente, perdidos
nesse grande manto de penumbra que é o universo dos sonhos, cuja maior parte
não lembramos.Uma polêmica de teor psicológico que não vem ao caso.Falar coisas
assim, para gente com a cabeça de um Feliciano,
já seria suficiente para internação ou isolamento num exílio.
Mas
nunca abandonarei o conceito de ver a
religião como uma neurose obsessiva universal.Assim como não vejo civilização sem religião, como não vejo civilização sem neuroses.O
importante sempre é aliviar o sofrimento humano, inclusive por causa delas,
neuroses. Caras como o Feliciano manipulam bem essas neuroses, comercialmente
falando.
A
organização mundial da saúde não considera homossexualidade doença.Uma
conquista civilizatória, a qual seria endossada, sem dúvida, por um humanista
como Freud.A sexualidade humana é ainda cheia de mistérios, as formas de
comportamento mais ainda; somos ainda primitivos no conhecimento de nossa
natureza mais primitiva.Estamos ainda no início dos estudos que relacionam
nossos comportamentos com nossas heranças genéticas.
Em
Roma ou na Grécia, estranhariam muito essa polêmica sobre homossexualismo. No
cristianismo medieval era mais simples: queimavam as figuras de
"comportamento esdrúxulo", graças à sabedoria da inquisição.Que
saudades, hein, Feliciano?
Caras como Feliciano proporiam a internação de figuras como Alexandre,
César ou Leonardo Da Vinci, o que provocaria, deveras!, alterações na história
da humanidade; humanidade esta onde só haveria caras como Feliciano.Eh, Maravilha!
Com
frequência atacamos nos outros coisas que não aceitamos em nós.Por isso temos
que desconfiar de nossas posições tanto quanto a dos outros. Feliciano
precisaria menos de bíblia e mais de análise.Mas um tipo como ele não quer se
analisar e sim faturar.Agora virou personalidade, o ego devendo estar nas alturas.Graças
à inépcia do PT que deu comissão importante para as mãos de partido
atrasado.Ah, sim a tal da governabilidade....Acrescentaria: ah, o tal do
cinismo!
Em
todo caso, desde já, reivindico meu direito de tratamento e internação: por não
me sentir muito bem nesse mundo, não compactuar com o sistema de valores do
mundo, não engolir as fórmulas
milagreiras de felicidade, assim como os felicianos da vida.Em suma, por ser um
cara problemático para comigo e com os outros, não encontrar o lugar certo nas
engrenagens das coisas e não produzir muita “riqueza” para o sistema.Quer mais
motivo para internação?!E pelo SUS.Nossa, deus me guarde!Ih, mas eu não acredito
em deus....
quarta-feira, 19 de junho de 2013
Impressões sobre uma passeata
Saio
da servidão das companhias e entro para o claustro de meu reinado, meu quarto,
meu reino e mundo.O mundo lá fora explodindo, abro a janela estranha que é o
computador.Tudo corre e arrepia, serpenteando de desejo a minha inércia.Então,
pouco me basta este silêncio em que me julgo rei e lá me jogo, aos portões
sombrios da realidade. Sinto-me solitário no mundo, mas o mundo corre lá fora
em sua solidão maior em meio ao cosmo gigantesco. Posso sonhar ser o senhor do
castelo mas ainda sou servo.
A
bela noite tem uma lua ornamentando de pérola a indescritível massa de carne
humana, não consegue abafar os gritos.Multidão
e gente, juventude iridescente em hormônios e insatisfação, essa carne e alma
que fazem dela própria juventude. Nunca se sabe exatamente onde se vai, ninguém
sabe exceto os poderosos em sua arrogância de pretensa imortalidade,seja lá em
multidão ou solidão, na multidão em que somos sempre solidão acompanhada.Tanto
faz: de riso e ruído, grito e revolta, sonho e ilusão também se faz a
vida.Ainda que multidão possa rimar com ilusão, nada de mal ao se ver o irreal
desmanchado no ar.Nossa vida pode mudar por uma simples casca de banana que nos
colhe em desaviso, o que se pode dizer de asneira de político em sobreaviso?Tudo
pode ser um castelo de cartas, ainda que haja sempre a tentativa de engessar e
colar essas cartas.
E
corro para multidão que hoje me recebe, amanhã me rejeita,assim sempre são as coisas
nesse mundo em que sempre somos um outro entre outros, uma solidão que sempre
mergulha na multidão; e corre lá o mar de gente, um conluio erótico-ilusório, ritual teatralizado de
corpos e mentes numa busca de algo além das palavras.Simples, algo como a vida,
uma ação e reação constante, como uma grande ameba que se tornou autônoma de
tudo e voou aos céu como astronauta.Porque não? Até amebas sonham.E tantos nos
tratam como amebas...Sem sonhos, lógico.
E que
essa multidão seja uma ilusão em que mergulho, pouco me importo, no curto espaço que pode existir entre esse
momento e a morte, essa grande democracia do tudo que acaba de vez com os
absurdos que os homens criam para si. A multidão que reina em mim me transforma
no rei da multidão.E viro vassalo da alegria.E que seja mesmo um sonho, sem
problema: talvez tudo nessa vida não passe de um sonho rumando ao grande sonho
indescritível que se sonha maior que tudo.E nisso todos nós somos, tenhamos
talento e treinamento ou não, artistas: temos dever de salvar nosso sonho.Salvar
o sonho da ilusão de realidade que empedra nossa alma.O resto não passa de pura
morte.
E
quando voltar de alma lavada, às plagas solitárias do reino em que me imagino
me encontrar, tolo que sou por sonhar em
me encontrar,quem sabe sinta os sonhos meus dentro do grande sonho do mundo,
essa grande ameba que encerra a luta da vida contra a morte, ao movimento
amoroso de uma eterna multidão cheia de jovens e gritos.Assim a vida segue.
sábado, 15 de junho de 2013
Diário de bordo: 15 de junho 2013
Se essas coisas vão dar em algo, não sei. O que vejo é que , dentro disso tudo, ocorre a expressão, em nível coletivo, de pulsões individuais de insatisfação, as quais estavam um tanto adormecidas por um certo marasmo. O sistema sempre controla as pessoas pelo marasmo e, num estágio posterior, pela repressão física.Mas os sentimentos, em todos os níveis, do individual ao coletivo, não podem ficar represados para sempre.Senão deixam de ser sentimentos em si mesmos.Tudo que não é sentimento é morte.Toda ação política acaba sendo expressão de sentimento, é lógico.O qual, em situações específicas de ação coletiva, necessita de organização, para que a própria origem da pulsão e sua potencialidade não se perca. Certas expressões coletivas de sentimento, que se transformam em ação objetiva e concreta, muitas vezes são de difícil interpretação, como ocorre com os sentimentos individuais.
O que ocorre não me espanta, poderia ocorrer de uma hora para outra, podendo avançar ou fenecer facilmente.É onde entra o mistério da vontade humana, a qual, para a própria sobrevivência da civilização, precisa de coletivização.Apesar dos individualistas ferozes, categoria onde eu mesmo me enquadro em certos aspectos, daí meu padecimento na situação civilizada.Mas a fera que há em nós precisa, com frequência, de ser apaziguada, para saber usar melhor as presas.É bom a gente, de vez em quando, parar de ficar olhando apenas para o próprio umbigo; o qual, por sinal, já perdeu sua função biológica faz tempo.
O que ocorre não me espanta, poderia ocorrer de uma hora para outra, podendo avançar ou fenecer facilmente.É onde entra o mistério da vontade humana, a qual, para a própria sobrevivência da civilização, precisa de coletivização.Apesar dos individualistas ferozes, categoria onde eu mesmo me enquadro em certos aspectos, daí meu padecimento na situação civilizada.Mas a fera que há em nós precisa, com frequência, de ser apaziguada, para saber usar melhor as presas.É bom a gente, de vez em quando, parar de ficar olhando apenas para o próprio umbigo; o qual, por sinal, já perdeu sua função biológica faz tempo.
sexta-feira, 14 de junho de 2013
O novo sempre vem.....
Ah, que eu também já fui chamado de baderneiro, vagabundo, rebelde sem causa e comunista(isso há muito tempo era parecido com f.d.p., hoje não significa muito), nas passeatas dos final dos anos setenta. E, claro, marginal, filhinho de papai, etc."Mas o que fazem, para que servem essas movimentações?", se dizia.A ditadura fazendo água, o movimento sindical, a redemocratização, etc.Queira-se ou não, o novo sempre vem, uma espécie de vitória de Eros contra Thanatos, da insatisfação contra a acomodação, independente do ceticismo amargo dos derrotados pelo passado, do acomodamento médio à forma média de uma vidinha média de m.... regada - agora com crediários mais fáceis para viagens internacionais - ao consumismo entorpecedor da civilização industrial do capitalismo triunfante e idiotizante; enquanto o novo neo-milagre econômico do lulismo jogou todos os canais populares na pasmaceira, o partido dele não representando mais nada em termos de avanço histórico( não que ele e Lula não tivessem sua importância, não sou idiota de negar).Claro que essas movimentações todas têm um quê de desorganizado; afinal, outrora havia outros canais de participação.Quais seriam os de hoje: a via parlamentar, o PT? Esse último o Lulismo, depois de engolir seus adversários, já inutilizou.Algo de novo terá de surgir, não sei.Quando jovem, imaginava uma revolução que não veio e talvez nunca venha mesmo.Mas as coisas têm que mudar, senão o admirável mundo novo não passará de um modo de servidão ao consumo e à diversão vazia.
Os jovens são mais sensíveis, queiram ou não, aos absurdos que estão por aí e sempre agem, de maneira aloprada ou não, por presença maior de energia física, são termômetros mais precisos das inquietações sociais de fundo. Na história, pequenos fatos são reveladores de fenômenos coletivos, insatisfações coletivas, até mesmo inconscientes( a independência americana começou por causa de um imposto imbecil exigido pelos ingleses).Agora, gente mais velha, esperando a morte ou já morta sem saber(andando e trabalhando por mero acaso,seguindo as rodas e engrenagens da máquina do mundo), resignados à inoperância do cotidiano despolitizado, sempre vai dizer que nada de nada adianta.Vai reclamar e não fazer nada, estrilando na hora em que seu cotidiano for perturbado da pantanice moral e psicológica em que chafurda. E isso porque, queiram ou não, ver a juventude se afastando sempre dói; quem nega isso mente.Daí que nem ao menos se queira a solidariedade com vivências e emoções mais juvenis.Eu mesmo sou tentado a cair nisso, principalmente com a conversa com os mais velhos; quantos de meus pares de outrora hoje só pensam na mesquinharia de sua vidinha espiritual medíocre, no poder material das coisas;antes protestantes, hoje apenas conservadores ou mesmo reacionários. Quanta gente de minha idade quase que defendendo a ditadura? Entendendo esse conservadorismo ancião. Aquela máxima rodrigueana ,"jovens, envelheçam!", sempre a achei engraçada, mas sempre foi por mim relativizada , mesmo me sentindo um jovem-velho quando jovem, fruto de uma educação conservadora.Mas o pensamento rodrigueano foi forjado por mentalidade conservadora e pessimista.Tem lá suas razões, mas eu diria também : "velhos, olhem para os jovens".Pode-se pagar preço alto pelo silêncio ou omissão.Não existe neutralidade no mundo.Lei da Entropia, termodinâmica....E como dizia o Vinícius, temos que aprender a trair coisas, ao longo da vida, para nos libertar, coisas que nos foram impostas contra nossa vontade, desde valores morais e psicológicos até condicionamentos que nos levam a ser covardes sobre um monte de coisas.Tento todo dia trair algo, me esforçar em trair algo para que me liberte;para que minha alma, esta sim impossível de envelhecer, consiga sentir o sopro do novo que sempre vem e nunca morre.
Os jovens são mais sensíveis, queiram ou não, aos absurdos que estão por aí e sempre agem, de maneira aloprada ou não, por presença maior de energia física, são termômetros mais precisos das inquietações sociais de fundo. Na história, pequenos fatos são reveladores de fenômenos coletivos, insatisfações coletivas, até mesmo inconscientes( a independência americana começou por causa de um imposto imbecil exigido pelos ingleses).Agora, gente mais velha, esperando a morte ou já morta sem saber(andando e trabalhando por mero acaso,seguindo as rodas e engrenagens da máquina do mundo), resignados à inoperância do cotidiano despolitizado, sempre vai dizer que nada de nada adianta.Vai reclamar e não fazer nada, estrilando na hora em que seu cotidiano for perturbado da pantanice moral e psicológica em que chafurda. E isso porque, queiram ou não, ver a juventude se afastando sempre dói; quem nega isso mente.Daí que nem ao menos se queira a solidariedade com vivências e emoções mais juvenis.Eu mesmo sou tentado a cair nisso, principalmente com a conversa com os mais velhos; quantos de meus pares de outrora hoje só pensam na mesquinharia de sua vidinha espiritual medíocre, no poder material das coisas;antes protestantes, hoje apenas conservadores ou mesmo reacionários. Quanta gente de minha idade quase que defendendo a ditadura? Entendendo esse conservadorismo ancião. Aquela máxima rodrigueana ,"jovens, envelheçam!", sempre a achei engraçada, mas sempre foi por mim relativizada , mesmo me sentindo um jovem-velho quando jovem, fruto de uma educação conservadora.Mas o pensamento rodrigueano foi forjado por mentalidade conservadora e pessimista.Tem lá suas razões, mas eu diria também : "velhos, olhem para os jovens".Pode-se pagar preço alto pelo silêncio ou omissão.Não existe neutralidade no mundo.Lei da Entropia, termodinâmica....E como dizia o Vinícius, temos que aprender a trair coisas, ao longo da vida, para nos libertar, coisas que nos foram impostas contra nossa vontade, desde valores morais e psicológicos até condicionamentos que nos levam a ser covardes sobre um monte de coisas.Tento todo dia trair algo, me esforçar em trair algo para que me liberte;para que minha alma, esta sim impossível de envelhecer, consiga sentir o sopro do novo que sempre vem e nunca morre.
quarta-feira, 12 de junho de 2013
Uma vida só não basta.Basta pouco um homem só para essa vida
13 de junho.Nascimento de um homem ou o florescer de uma entidade?Ao mundo veio,o mesmo de onde partiu para a ilusão oposta do que se é nesse mundo; pelo mundo passou, como aquele vento que passa como o tempo e sempre passará.Como sua poesia, sua gigantesca obra, uma mente nascida para a criação literária, essa poesia e obra indescritíveis pela grandeza.Essas nunca passarão.Uma glória para essa língua, descrita em descrédito por muitos como o túmulo do pensamento, essa língua portuguesa que, cá entre nós, é um privilégio para quem a conhece, pelo privilégio de se ter acesso à língua especial forjada pela mente pessoana.Ou seria pelas mentes pessoanas?Qual Pessoa?Um ou todos, sabe-se lá quantos heterônimos mais aparecerão?Artista idealista, criador de um mundo próprio, uma estética própria, subversor de tudo quanto aristotelicamente estava petrificado em arte.Não um homem, uma entidade sem dúvida.Par de grandes de outras línguas, de um Shakespeare, Dante, Goethe ou outro de igual jaez.Na língua de Camões não tem par, a não ser o próprio vate do passado do império que se frustrou.Pessoa discordaria: diria que o maior ente da língua, seu maior prosador era Vieira, outra glória da mesma.Sim, homens que são mais até do que gloriosos pelo estatuto de volume e grandeza de qualidade do que fizeram."Só a arte dura, porque só a arte é", diria ele.
O Livro do Desassossego, confesso, de há é minha bíblia de cabeceira.Leio e releio suas passagens, junção estranha e misteriosa de poesia e filosofia, sempre a me dar nó no cérebro.Pessoa me assusta, o que escreve é dessas coisas que me roubam ao real, tanto na poesia como na prosa, a qual foi nos, últimos tempos, mais lida até por mim do que sua poesia; ainda que tudo o que fez ou pensou tenha sido feito com vistas à poesia.Acho-o, inclusive, popular pela maneira como consegue escrever essa poesia de forma tão clara.Perigoso, o que se lê dele nos faz sentir fastio da vida, essa coisa que ou não presta ou nos é insuficiente, segundo pensamento expresso tantas vezes por ele.Uma vida só não basta, nessa vida de duro ofício, a qual só é grande se o sonho for grande.Ele mesmo diria que o futuro será de quem sonhar mais alto, para ele, a construção da pátria eterna e universal do espírito, espírito este cujos alicerces elaborou com sua obra.Não mais falar; melhor lê-lo, pelo resto dessa sombra que em mim se projeta e chamo de vida, iluminada poucas vezes com tão pouca coisa, iluminada sempre pelo sol de sua obra, a jogar invisível luz em todas as sombras de dúvida e mistério que cercam a existência, nesse corpúsculo insignificante do universo, adejando no cosmo vazio e aflito, silenciosamente ,como aquele vento eterno que vem e que passa, e sempre passará.O vento, o eterno e sublime vento do mais alto pensamento.Este que chegou aos píncaros mais altos do imaginável pelo criador dos heterônimos.
segunda-feira, 10 de junho de 2013
Sobre artista e ideologia
Em artigo, recentemente publicado em jornal alemão, acusa-se Joseph Beuys, mais famoso artista plástico alemão do pós-guerra, de nunca ter-se desvinculado ideologicamente do nazismo, tendo inclusive falseado dados e fatos de sua biografia para, por assim dizer, limpar sua barra; ainda que, segundo a publicação, ele nunca tenha demonstrado anti-semitismo, por exemplo.Virou moda, entre artistas conceituais, referir-se ao alemão como uma deidade.Mas os conceituais, confesso, são epigonais demais para meu gosto.Mas dá para separar o homem da obra?Só dá para ser artista se houver integração absoluta entre obra e vida, entre o que se faz e o que se é.O que se faz sempre revela um pouco do que se é, mesmo quando tentamos ocultar.Ação e reação; a natureza pode não dar saltos(há o problema da mecânica quântica, onde existe a descontinuidade), o homem por vezes finge agir aos saltos.No final, o tempo revela a grandeza ou qualidade das coisas.Algo criado há quarenta anos significa um mero segundo na história.Afinal, qual a relação objetiva entre a subjetividade do artista e a sociedade?Será que isso importa?Bem, há sempre a concretude das ações...
Essas coisas são complexas.A ligação entre a obra do artista e seu comportamento político na realidade social sempre causa polêmica, principalmente quando ele, artista, produziu algo avançado em termos de obra mas, em termos políticos, sempre foi um retrógrado.Exemplos não nos faltam..No final, o que fica é a obra; esta, no frigir dos ovos, é sempre uma despersonalização para a expressão de uma personalidade.Com frequência, o essencial dessa personalidade revelada não é o viés político da mesma.
Politicamente, pelo que li e sei, Picasso sempre foi ligado a figuras de esquerda.Quando aderiu ao partido comunista, Breton rompeu a amizade com ele por ser anti-estalinista até a medula.Picasso pintou Guernica, um libelo plástico anti-fascista.Já houve artista assassino como Villon, poeta francês importante do passado.Caravaggio era um out-sider para a época, um marginal no sentido moral e ético, coisa que não depõe contra ele, já o que o domínio político era de autocracias aristocráticas.Dali sim, que teve um passado político sombrio, apoiando Hitler, Mussolini e Franco; mas quem é que podia levar a sério o pensamento de Dali? Daí quem sabe a pintura, excelente tecnicamente, pobre moralmente.Miró dizia admirar o artista, desprezar o homem, quando falava de Dali; mas aí, o espírito catalão anti-franquista falava mais alto.
Não sei bem; consigo separar as coisas, mas às vezes percebo que, no interior da obra do artista, certas sutilezas do caráter se percebem por trás da elaboração formal.Particularmente, a obra de Beuys nunca me comoveu; esse tipo de proposta nunca me sensibilizou, ainda que não seja tolo de negar a relevância dentro da história da arte.Revi muita coisa que antes dizia apreciar, apenas para não parecer deslocado das modernidades.Para ficar por dentro, para não dar a idéia de ir contra algo referendado pelo senso comum ou pela valoração histórica, já declarei apreciar coisa que, no fundo, pouco me tocava a alma.Ainda que se tenha que dar um tempo para se ver a coisa, a obra tocando fundo nas dimensões mais escondidas de nossa sensibilidade.Tolice: a gente tem que expressar as empatias do coração com as coisas que nos tocam.Já chorei ouvindo Wagner e Debussy me deixava frio; hoje, Wagner me causa tédio, Debussy me eleva para fora do mundo; ambos eram conservadores, politicamente, o primeiro, provavelmente, um péssimo caráter; mas gênios, os dois, reconheço.
Para mim, o passado do artista pode ser curioso , mas o que pesa mesmo é o resultado, a forma elaborada.Mas eu acho que muito do conteúdo moral passa para a forma.É só pensarmos no quanto de amor à natureza e aos homens que havia dentro de Van Gogh e passou para sua pintura, o quanto de revolta contra a bestialidade da civilização burguesa em Gauguin que este passou para sua pintura.Nem sempre o conteúdo da alma se materializa pela concretude da obra, qualquer que seja o veículo.Mas tenho dúvidas sobre tudo, confesso.Sei apenas que o homem vem antes da arte; esta apenas expressa parte do que o homem é no mundo.Artista, qualquer que seja, tem a tendência de estar por cima de tudo e de todos; uma arrogância que é decorrente, um pouco e às vezes, de mecanismos de defesa contra os sistemas opressores da civilização.Possível de se entender.Inaceitável é qualquer idealismo justificando desumanidade, seja ele político ou estético.A árvore só floresce quando houve um solo onde ela pode brotar.
Essas coisas são complexas.A ligação entre a obra do artista e seu comportamento político na realidade social sempre causa polêmica, principalmente quando ele, artista, produziu algo avançado em termos de obra mas, em termos políticos, sempre foi um retrógrado.Exemplos não nos faltam..No final, o que fica é a obra; esta, no frigir dos ovos, é sempre uma despersonalização para a expressão de uma personalidade.Com frequência, o essencial dessa personalidade revelada não é o viés político da mesma.
Politicamente, pelo que li e sei, Picasso sempre foi ligado a figuras de esquerda.Quando aderiu ao partido comunista, Breton rompeu a amizade com ele por ser anti-estalinista até a medula.Picasso pintou Guernica, um libelo plástico anti-fascista.Já houve artista assassino como Villon, poeta francês importante do passado.Caravaggio era um out-sider para a época, um marginal no sentido moral e ético, coisa que não depõe contra ele, já o que o domínio político era de autocracias aristocráticas.Dali sim, que teve um passado político sombrio, apoiando Hitler, Mussolini e Franco; mas quem é que podia levar a sério o pensamento de Dali? Daí quem sabe a pintura, excelente tecnicamente, pobre moralmente.Miró dizia admirar o artista, desprezar o homem, quando falava de Dali; mas aí, o espírito catalão anti-franquista falava mais alto.
Não sei bem; consigo separar as coisas, mas às vezes percebo que, no interior da obra do artista, certas sutilezas do caráter se percebem por trás da elaboração formal.Particularmente, a obra de Beuys nunca me comoveu; esse tipo de proposta nunca me sensibilizou, ainda que não seja tolo de negar a relevância dentro da história da arte.Revi muita coisa que antes dizia apreciar, apenas para não parecer deslocado das modernidades.Para ficar por dentro, para não dar a idéia de ir contra algo referendado pelo senso comum ou pela valoração histórica, já declarei apreciar coisa que, no fundo, pouco me tocava a alma.Ainda que se tenha que dar um tempo para se ver a coisa, a obra tocando fundo nas dimensões mais escondidas de nossa sensibilidade.Tolice: a gente tem que expressar as empatias do coração com as coisas que nos tocam.Já chorei ouvindo Wagner e Debussy me deixava frio; hoje, Wagner me causa tédio, Debussy me eleva para fora do mundo; ambos eram conservadores, politicamente, o primeiro, provavelmente, um péssimo caráter; mas gênios, os dois, reconheço.
Para mim, o passado do artista pode ser curioso , mas o que pesa mesmo é o resultado, a forma elaborada.Mas eu acho que muito do conteúdo moral passa para a forma.É só pensarmos no quanto de amor à natureza e aos homens que havia dentro de Van Gogh e passou para sua pintura, o quanto de revolta contra a bestialidade da civilização burguesa em Gauguin que este passou para sua pintura.Nem sempre o conteúdo da alma se materializa pela concretude da obra, qualquer que seja o veículo.Mas tenho dúvidas sobre tudo, confesso.Sei apenas que o homem vem antes da arte; esta apenas expressa parte do que o homem é no mundo.Artista, qualquer que seja, tem a tendência de estar por cima de tudo e de todos; uma arrogância que é decorrente, um pouco e às vezes, de mecanismos de defesa contra os sistemas opressores da civilização.Possível de se entender.Inaceitável é qualquer idealismo justificando desumanidade, seja ele político ou estético.A árvore só floresce quando houve um solo onde ela pode brotar.
domingo, 9 de junho de 2013
A imprecisão da realidade 1
Mas,
afinal, o que é a realidade? E o que é concretamente real nas relações humanas,
no discurso que enviesa as coisas e não define a precisão, apenas imprecisa os
fatos e os sentimentos?Difícil saber, já que não temos laboratório para isso,
instrumento matemático que quantize os afetos, os impulsos, as irracionalidades
que produzem a energia de nossas atitudes, do trabalho ao sexo, do amor ao
ódio, todas essas coisas construídas por trás de tecidos ilusórios de
convenções sociais. Construções mentais.O homem é fruto de uma abstração que
cria para si mesmo, daí quem sabe, a busca desesperada pelo que é incorporal,
seja usando a ilusão, o sonho, a intoxicação, a sensação perene da morte da
alma e um fingimento de uma não existência dela.
Não
vemos coisas como o elétron, fóton, essas partículas malucas, sejam elas de
Deus ou do Diabo, que os físicos tentam esmiuçar em misteriosas e complexas
pesquisas.Todos lidam apenas com as emanações das mesmas, com os traços de
energia que elas deixam no espaço. O espaço que é decorrência de um tempo não
mais medido em intervalos mas sim em espacializações incorpóreas.O sentido convencional de matéria
foi para o espaço.O que ocorre nessa
relação entre ciência e realidade pesquisada, também ocorre no dia a dia, no
trato com as pessoas, entre as pessoas.As emanações intercambiam-se, não os
centros de irradiação dessas emanações( entenda-se: dimensão inconsciente dos
seres ou de sua coletividade).No final, temos os efeitos dos processos, os
quais são sempre imprevisíveis.Ainda que, dentro de um laboratório ou de um
atelier, apesar de toda indeterminação envolvida, posso ter mais controle da
situação do que frente à indeterminação que envolve relacionamentos
humanos.Esta só diminui se for envolvida em regras estritas, em restrições, em
suma, em castrações assumidas que venham a podar o inesgotável egoísmo das
partes.Assim é que é, assim é que foi; assim até quando será? Temos margens
estreitadas dentro de nossas intencionalidades.O que sou , o que somos, tudo
pode ser apenas projeção num espelho de nossa consciência adaptada às relações
interpessoais.Construir a casa até que é fácil, difícil mesmo é colocar as
pessoas lá dentro convivendo.Por isso há os que buscam refúgio em laboratórios,
ateliers, palavras,etc,etc,etc.Mais fácil de lidar.
sábado, 8 de junho de 2013
Universo conspirando a nosso favor?
Essa idéia de que o universo conspira a seu favor se você tiver um pensamento positivo é uma coisa absurda, totalmente em desacordo com o que temos de constatação científica.Por sinal, em matéria de ciência, as pessoas em média pouco procuram se informar sobre isso, de modo a se ter critérios de comparação. Aí surge aquela lenga lenga sobre a limitação da ciência - que, por sinal, não explica tudo, nem espera tudo explicar -, aquela enxurrada de misticismo a justificar o ramerrão do cotidiano e , pronto !, o fulano saca do bolso o celular, aparelho obviamente derivado de forças ocultas, pouco se sabendo sobre seu funcionamento.Coisas da tecnologia, da contradição entre a vida comum e os instrumentos que se usa.Pode-se tentar uma ligação através do disc-deus mas, infelizmente, a linha vai dar sempre ocupada, qualquer que seja a operadora.Por outro lado, lamento informar que o universo, tanto quanto o que chamamos de natureza, conspira para o nosso fim, dado que tudo funciona em termos de anabolismo e catabolismo, a lei da entropia ainda valendo e, para que as coisas se equilibrem no universo, de nada servindo a tentativa de acumular coisas nessa vida, porque tudo se degrada e tende a se espalhar para o resto do próprio universo.
Quando cai a ficha, então, o cidadão percebe tudo estar uma merda e se questiona o porquê da conspiração falhar nisso tudo.Esse papo de universo conspirador-legal serve bem aos que manipulam o poder, aos que manobram as massas burras e os zé-ninguém do cotidiano que hipotecam a alma e as vísceras para manter andando sua vida besta.Assim é e sempre foi o mundo.
De minha parte, faço uma banana para o universo, do qual faço parte e, pela morte, apenas mudarei o estágio de permanência nele, ainda que não possa usar a língua para encher o saco dos outros.Nada conspira a nosso favor, tudo conspira contra, rumo à nossa morte,sendo nossa vontade a afirmação de uma estranha força de resistência contra o nada que tenta se impor.Acho isso trágico mas nobre ao mesmo tempo - considerando a nobreza uma invenção dessa qualidade humana da imaginação e abstração chamada de subjetivismo -, podendo mesmo imaginar que eu sou o tal deus, feitas todas as coisas à minha imagem e semelhança, com a diferença de que sou mortal, o universo imortal(?) ou , pelo menos, intransitável dentro de conceitos e idéias que pouco têm a ver com ele mesmo, universo, coisas como mortalidade ou imortalidade.
É pensar positivo e tudo conspira a favor? Que forma simplória de ver a vida!Quem sabe se eu aprofundar o tema e transformá-lo em ensaio, ganhe até uma cadeira em academia de letras ou de filosofia de auto-ajuda.Então, preferível dizer que se acredita em deus, no olho que tudo vê.Dá para se fazer mais poesia por meio disto.O resto é leitura equivocada de filosofia oriental, a qual, coitada, acaba por ser descaracterizada quando traduzida em conceitos filosóficos ocidentais. No fundo, ela é pessimista, assim como o cristianismo, vendo que tudo é vão nessa vida, felicidade mesmo só em outra.No que me consta, não quero esperar pelo imprevisto ou indefinível.Misteriosamente e de forma contraditória, acabo com isso sendo um otimista.Como queríamos demonstrar. Mas eu não quero é demonstrar porcaria nenhuma...
Quando cai a ficha, então, o cidadão percebe tudo estar uma merda e se questiona o porquê da conspiração falhar nisso tudo.Esse papo de universo conspirador-legal serve bem aos que manipulam o poder, aos que manobram as massas burras e os zé-ninguém do cotidiano que hipotecam a alma e as vísceras para manter andando sua vida besta.Assim é e sempre foi o mundo.
De minha parte, faço uma banana para o universo, do qual faço parte e, pela morte, apenas mudarei o estágio de permanência nele, ainda que não possa usar a língua para encher o saco dos outros.Nada conspira a nosso favor, tudo conspira contra, rumo à nossa morte,sendo nossa vontade a afirmação de uma estranha força de resistência contra o nada que tenta se impor.Acho isso trágico mas nobre ao mesmo tempo - considerando a nobreza uma invenção dessa qualidade humana da imaginação e abstração chamada de subjetivismo -, podendo mesmo imaginar que eu sou o tal deus, feitas todas as coisas à minha imagem e semelhança, com a diferença de que sou mortal, o universo imortal(?) ou , pelo menos, intransitável dentro de conceitos e idéias que pouco têm a ver com ele mesmo, universo, coisas como mortalidade ou imortalidade.
É pensar positivo e tudo conspira a favor? Que forma simplória de ver a vida!Quem sabe se eu aprofundar o tema e transformá-lo em ensaio, ganhe até uma cadeira em academia de letras ou de filosofia de auto-ajuda.Então, preferível dizer que se acredita em deus, no olho que tudo vê.Dá para se fazer mais poesia por meio disto.O resto é leitura equivocada de filosofia oriental, a qual, coitada, acaba por ser descaracterizada quando traduzida em conceitos filosóficos ocidentais. No fundo, ela é pessimista, assim como o cristianismo, vendo que tudo é vão nessa vida, felicidade mesmo só em outra.No que me consta, não quero esperar pelo imprevisto ou indefinível.Misteriosamente e de forma contraditória, acabo com isso sendo um otimista.Como queríamos demonstrar. Mas eu não quero é demonstrar porcaria nenhuma...
sexta-feira, 7 de junho de 2013
quarta-feira, 5 de junho de 2013
Aquele que preferiu o leão ao cordeiro
Um
professor meu gostava de citar um ditado italiano que rezava que mais valia um momento de leão que anos de
cordeiro.Isso se aplica a poucas pessoas, as que estão no momento certo, na
hora certa, tomando a decisão que, certa ou errada para essas pessoas, acaba
dando certo para a história da humanidade; humanidade esta que pode estar pouco
ligando para o destino dos que acertam contas com a ousadia.
Haja
ousadia para romper com tudo e salvar um sonho, qualquer que ele seja! Normalmente somos inibidos quanto a
isso, a tendência maior é o acomodamento. E então vamos para a Paris na virada
do século dezenove para o vinte, o movimento impressionista, a sociedade
burguesa triunfante, as artes – sempre
as artes!- dando espaço para insatisfações mais profundas das pessoas, novas
necessidades de ampliação da sensibilidade , a tecnologia triunfante criando a
ilusão do paraíso terrestre, um ex-corretor de bolsa de valores, amante de
pintura e pintor em fim de semana,
resolvendo virar sua vida de cabeça para baixo , em busca de um sonho de beleza
e realização artística. Assim se faz a dialética da história da arte, a unidade
na diversidade, a partir da diversidade, um homem, uma vontade instaurada num
processo coletivo.Para se usar palavras de um verso de Pessoa: Deus quer, o homem
sonha, faz-se a obra.A obra que é um homem e seus desejos e duros esforços, uma
trajetória cheia de altos e baixo e incertezas, como a própria vida, e o amor,
o incomensurável amor que vai além da curta existência desse homem, o amor que
nos chega pelas suas pegadas na terra, pelo que deixa de si enquanto rastro
nesse mundo, um caminho iluminado que para sempre, enquanto houver homem no
universo, iluminará o coração de tantos outros homens e mulheres.Pois, falo
isso tudo por querer falar de um homem, um artista, um grande artista, chamado
Paul Gauguin.
7 de
junho é data de nascimento de Paul Gauguin, um dos vértices da santíssima trindade
da pintura moderna, juntamente com Van Gogh e Cézanne.
A
vida desse grande artista é algo de extraordinário, já tendo originado livros e
filmes sobre o assunto.Foi alguém que ganhou dinheiro e, posteriormente, passou
a detestá-lo("o dinheiro que tudo corrompe e apodrece!"); orientou-se
por uma existência burguesa e, depois dos trinta anos, renegou essa mesma
existência.Morreu no Taiti, corroído pela sífilis, detestando os valores
convencionais da civilização, em busca de uma pureza natural ligada à vida
instintiva mais pura, em meio a paisagens deslumbrantes, pessoas simples de
alma , um fervor desenfreado pela pintura.Não era indivíduo de trato fácil,
muito menos frágil como pessoa, emocionalmente, como Van Gogh; tinha quase que
uma certeza meio arrogante sobre o valor de sua pintura, ao contrário do
holandês, prisioneiro de seus problemas psicológicos e de um certo cristianismo
masoquista.Esse cristianismo ocidental que orienta tudo pela culpa, coisa
desprezada por Gauguin.Ele queria superar a culpa; daí não me espantar seu
fascínio pelas culturas e religiões que observara fora da Europa civilizada,
burguesa, prática, cheia de valores avessos à beleza; a mesma mentalidade que
mataria, à sua maneira, a existência de uma alma extraordinariamente sensível e
generosa como Van Gogh.Tudo que não é sentimento é morte, toda forma ampliada
de sentir pode nos levar à morte.
Gauguin influenciou Van Gogh, tanto quanto foi influenciado por este.Amo
profundamente a obra dos dois, acho-as complementares entre si.Tiveram um
relacionamento conturbado entre si, mas que rendeu frutos para os dois e para
nós que agora temos o privilégio de ver a obra desses dois grandes artistas.Nos
dois um profundíssimo amor pela natureza e pelas pessoas, um amor mais terreno,
carnal, quase plácido pelo lado do francês, bastante religioso e explosivo pelo
lado do holandês com suas noites estreladas. Duas figuras atormentadas por
problemas artísticos, sofrendo o peso da degradante situação da falta de
dinheiro.Dinheiro, dinheiro, dinheiro: tê-lo
ou não ,sempre um pouco de acaso.
A
pintura de Gauguin emana calor por todos os lados, cheia de mistério em seus
acordes, aquela música silenciosa das esferas das estrelas que desce sobre o
véu de maia da pintura; os vermelhos e os tons de terra, o próprio céu, tudo é
inundado de calor.Sua técnica é meticulosa; seu aprendizado impressionista com
outro grande pintor e seu mestre, Pissarro, de muito lhe valeu.Para ele, se uma
maçã tiver que ser violeta para que, em melhor acorde de cores, o conjunto da
pintura funcione melhor, então que assim seja; os deuses da arte assim pedem.
Foi um dos homens cuja obra me despertou amor pela pintura.Fico deslumbrado com
a multidão de tons e passagens superpostas de cores.Ao mesmo tempo, bicho do mato
nascido em seio de urbanidade, que dimensão estranha atingiu ele por meio de
sua sensibilidade, a ver toda a carga de repressão que a civilização(e mais
especificamente, a civilização do dinheiro) impõe sobre a natureza humana.
Sobra
então a arte, esse espaço de ilusão e sonho por onde se pode suportar a
hostilidade do mundo, das coisas, das pessoas, da mediocridade de uma vida
excessivamente média.Vejo quadros dele e me liberto desse mundo durante o tempo
que os vejo; tenho certeza de que seus paraísos pessoais criados em tela são
até mais belos que os vistos ao natural.
Sim ; são abstrações.A pintura é uma abstração da realidade, essa sempre
inapreensível em sua essência. Tolo engano tentar explicá-la, realidade, melhor
senti-la e transferi-la para tintas e telas, recriando uma outra realidade que
atinja o coração alheio pelas garras suaves da sensibilidade.
Ah,
será que algum dia verei o Taiti?Claro que não verei suas mulheres nativas
esculpidas em carnagens terrosas e vulcânicas, aqueles olhares desprendidos em
certa melancolia natural, a nos perfazer num pessimismo oriundo do choque entre
a natureza e a realidade, o instinto e a convenção usual de nossa vida social,
coisa que atormentou a vida de Gauguin, evidente em suas cartas.
À
sua maneira, um selvagem, um civilizado onde o processo de
"domesticação" não funcionou bem.Acrescido de inteligência e
sensibilidade extraordinária deu naquilo!Alguém para o qual a pintura foi um
exercício de profundíssimo estudo e concentração, numa carreira, por assim
dizer, até que curta perto de outros pintores.Mas um resultado muito longo, uma
beleza que nos toca fundo, um festival de cores inundando nossa alma.
Desesperado, Gauguin uma vez tentou se matar e não deu certo; artistas,
com frequência, não são bons em coisas práticas.Mas morreu pouco depois, não
sem antes deixar um monumento, a pintura
"Quem somos, de onde viemos, para onde vamos".
Quem
sou, de onde vim, para onde vou, pergunto eu, sem saber porque nasci, sem ter
pedido para nascer e destinado a morrer,
provavelmente sem querer.Não sei a resposta mas, frequentemente, sei para onde
vou: para a contemplação de uma pintura de Gauguin, das poucas coisas que dão
significado à minha vida.
terça-feira, 4 de junho de 2013
Podem morrer os amantes, o amor não morre; podem matar o poeta, não matam sua poesia.5 de junho é data de nascimento de Garcia Lorca.As balas que lhe roubaram a vida, não mais roubaram a vida de ninguém, foram encobertas pelas flores de seus versos; as palavras e versos que deixou, vão mais longe que qualquer bala que surja de qualquer lugar, vão mais longe que as estrelas em algum lugar indefinido, onde fica melhor recolhida, quem sabe, a alma e o sonho do poeta. Quem sabe em nosso próprio coração.Prematuramente o poeta se foi, pelos ardis da insanidade de uma guerra, pela investida das forças do ódio e da morte contra o amor à vida do poeta.Franco e seus fascistas, são um silêncio sombrio e cinzento da história da Espanha.Lorca é uma sevilhana alegre e solar a iluminar, enquanto terra e homem houver, de forma gloriosa os jardins celestes da Ibéria. Glória a Lorca e a sua língua que tanto enobreceu.
domingo, 2 de junho de 2013
Velhice e degradação
Podem até me chamar de covarde, mas algumas coisas não consigo encarar.Cada um, com sua própria maneira, pode definir o que espera quanto ao seu futuro.Como o futuro é sempre um vazio, espelhado em múltiplas encruzilhadas...Mas certas coisas não me parecem justas.Mas a vida não é justa, a vida é frustração.Aí está o jogo em que entramos com cartas marcadas; nunca poderemos levar um papo com o dono do grande cassino.
Já faz tempo que penso nisso: não vou encarar degradação na velhice, para o meu bem estar e o dos outros.Não vou empurrar para ninguém o ônus de arcar com a devastação do tempo.Para isso, é importante bater de frente com a morte; isso não é nem um pouco agradável, ainda mais agora quando ela se configura como algo concreto, não como uma abstração de juventude.Sim, porque , quando somos jovens, falamos da morte e de viver perigosamente sem receio dela, morte, por não vermos o sentido da passagem do tempo dentro de nós mesmos.Há vários despertadores biológicos dentro de nós e as mulheres parecem ter mais sensibilidade à presença deles; os homens, frequentemente, esquecem de dar corda e, repentinamente, parecem prisioneiros de sua própria decadência, perecem pela inobservância da fragilidade de todas as coisas, da própria vida.Mas todos os humanos envelhecem e morrem.
Viver é pensar na morte.E no amor, contraponto a essa última, o qual se manifesta de muitas maneiras, não apenas pelo lado sexual, esse muito mais transitório do que se imagina; ainda que tudo pareça dele se originar.Questões hormonais e celulares.Podem vir os tratamentos, reposições e viagras da vida, isso não evitará que nos defrontemos com o fato: viver é aprender a morrer.E, sendo mortais, precisamos de elencar o que é relevante, que diabo fazemos de nossa vida nessa curta passagem por essas planícies estranhas da vida, rumo aos planaltos(ou abismos?) vazios que nos esperam; acreditemos ou não em sua existência.Vivemos através de miragens, escondidos em algum outro que finge ser um eu no qual me identifico com algo que chamo de eu.
Mas o tempo passa, a juventude é um sopro, a infância é uma constante nostalgia, boa ou ruim, que define muito do que somos ou planejamos, do que intentamos ou intentávamos ser.
Qualquer amor, qualquer tipo de amor, só é realmente forte se nos coloca a sensação de proximidade com o medo e a morte, sensação de que estamos correndo o risco de perder tempo, espaço, uma vida. O resto são impulsos primários; mas, humanizados na forma de agir com os instintos, para nós qualquer forma de impulso parece ter, por si próprio, a vocação de ir além do que é.Somos enigmas forjados por nossas próprias dúvidas.A esfinge sempre nos desperta do sono e pouco teme o risco de ter que se jogar no abismo: sabe que não temos a resposta.
Sim, não vou permitir que a degradação me colha.A não ser que algum milagre da ciência evite isso, a não ser que essa mesma ciência ressuscite a beleza, como sonhava Maiakovski.Ah, os poetas, esses sonhadores da realidade inexistente que criamos pela nossa vontade de amar...
Dentro de meus limites, não vejo sentido em continuar vivendo se não fizer algo que vá além dos limites próprios do que sou.Na luta entre vida e morte que se trava dentro de nós, temos que ir no sentido da agregação, mesmo que isto nos imponha tanto sofrimento vivendo em civilização.Afinal, as pessoas me ferem tanto, os meus sentimentos - os mesmos que me dão o céu e o inferno, de dentro ou de fora - me ferem tanto, as mulheres me ferem tanto, mesmo quando não querem.Que fazer; viver é assim mesmo, convivendo com sonho de felicidade e tendo que se defrontar com as arestas perigosas da realidade. Tantos, sejam homens ou mulheres ,me ferem sem querer, apenas pelo agir de seus limites de sobrevivência delimitados por suas estratégias naturalmente egoístas. A civilização é um monstro onde nos apegamos à cauda para não cair no espaço sem fundo da barbárie. Não há como fugir disso.
Daí que a saúde, sem que saibamos ou finjamos não saber, é o maior dom da vida.De resto, a esperança de ter paz de espírito.Mas aí já é pedir muito!
Se o universo pouco se importa comigo, se o projeto de felicidade não faz parte dos planos desse universo ou da natureza, pouco me importa.Tenho que criar uma felicidade para mim, tenha pouco ou muito tempo de vida, sem depender dos outros, mas sem esquecer dos outros, já que, queira ou não, é impossível viver sem outros.Mas talvez, contradizendo a canção, seja possível a felicidade na solidão.Por que não?
E se Deus não existe, não caio nessa de personagem - obviamente cristão vítima de culpa - de romance de Dostoievski, a dizer que estamos perdidos.Se Deus não existe, então, para mim, tudo é ou deve ser sagrado.Ou seja: inventei algo à minha imagem e semelhança.
Todo dia acordo e espero que uma tragédia se abata sobre mim.Todo dia, quando saio à rua, imagino ainda que poderei encontrar um grande amor; vejam só, nessa idade! Todo dia imagino que farei algo de significância dentro de minhas margens de insignificância.Sou condenado à esperança, que fazer...Passei mais um dia em branco, mas estou vivo, estou no lucro.Não faço mais planos, os planos se fazem através das possibilidades que sou.Implanejavelmente livre, até que a morte, a falta de dinheiro ou saúde me permitam.Mas, irremediavelmente solitário.Assim como todo mundo, morrerei solitário.Quem sabe uma vida além morte melhor que essa d'aquém? Sei lá...O vazio me espera, mas muito vazio também me separa de todos os outros, como franjas de luz num espectro atômico.A vida é contínua ou descontínua?
Mas, definitivamente, não deixarei que a degradação física não me permita uma despedida honrosa do jogo. Essa ainda não chegou, mas tudo é possível, não é mesmo?
Já faz tempo que penso nisso: não vou encarar degradação na velhice, para o meu bem estar e o dos outros.Não vou empurrar para ninguém o ônus de arcar com a devastação do tempo.Para isso, é importante bater de frente com a morte; isso não é nem um pouco agradável, ainda mais agora quando ela se configura como algo concreto, não como uma abstração de juventude.Sim, porque , quando somos jovens, falamos da morte e de viver perigosamente sem receio dela, morte, por não vermos o sentido da passagem do tempo dentro de nós mesmos.Há vários despertadores biológicos dentro de nós e as mulheres parecem ter mais sensibilidade à presença deles; os homens, frequentemente, esquecem de dar corda e, repentinamente, parecem prisioneiros de sua própria decadência, perecem pela inobservância da fragilidade de todas as coisas, da própria vida.Mas todos os humanos envelhecem e morrem.
Viver é pensar na morte.E no amor, contraponto a essa última, o qual se manifesta de muitas maneiras, não apenas pelo lado sexual, esse muito mais transitório do que se imagina; ainda que tudo pareça dele se originar.Questões hormonais e celulares.Podem vir os tratamentos, reposições e viagras da vida, isso não evitará que nos defrontemos com o fato: viver é aprender a morrer.E, sendo mortais, precisamos de elencar o que é relevante, que diabo fazemos de nossa vida nessa curta passagem por essas planícies estranhas da vida, rumo aos planaltos(ou abismos?) vazios que nos esperam; acreditemos ou não em sua existência.Vivemos através de miragens, escondidos em algum outro que finge ser um eu no qual me identifico com algo que chamo de eu.
Mas o tempo passa, a juventude é um sopro, a infância é uma constante nostalgia, boa ou ruim, que define muito do que somos ou planejamos, do que intentamos ou intentávamos ser.
Qualquer amor, qualquer tipo de amor, só é realmente forte se nos coloca a sensação de proximidade com o medo e a morte, sensação de que estamos correndo o risco de perder tempo, espaço, uma vida. O resto são impulsos primários; mas, humanizados na forma de agir com os instintos, para nós qualquer forma de impulso parece ter, por si próprio, a vocação de ir além do que é.Somos enigmas forjados por nossas próprias dúvidas.A esfinge sempre nos desperta do sono e pouco teme o risco de ter que se jogar no abismo: sabe que não temos a resposta.
Sim, não vou permitir que a degradação me colha.A não ser que algum milagre da ciência evite isso, a não ser que essa mesma ciência ressuscite a beleza, como sonhava Maiakovski.Ah, os poetas, esses sonhadores da realidade inexistente que criamos pela nossa vontade de amar...
Dentro de meus limites, não vejo sentido em continuar vivendo se não fizer algo que vá além dos limites próprios do que sou.Na luta entre vida e morte que se trava dentro de nós, temos que ir no sentido da agregação, mesmo que isto nos imponha tanto sofrimento vivendo em civilização.Afinal, as pessoas me ferem tanto, os meus sentimentos - os mesmos que me dão o céu e o inferno, de dentro ou de fora - me ferem tanto, as mulheres me ferem tanto, mesmo quando não querem.Que fazer; viver é assim mesmo, convivendo com sonho de felicidade e tendo que se defrontar com as arestas perigosas da realidade. Tantos, sejam homens ou mulheres ,me ferem sem querer, apenas pelo agir de seus limites de sobrevivência delimitados por suas estratégias naturalmente egoístas. A civilização é um monstro onde nos apegamos à cauda para não cair no espaço sem fundo da barbárie. Não há como fugir disso.
Daí que a saúde, sem que saibamos ou finjamos não saber, é o maior dom da vida.De resto, a esperança de ter paz de espírito.Mas aí já é pedir muito!
Se o universo pouco se importa comigo, se o projeto de felicidade não faz parte dos planos desse universo ou da natureza, pouco me importa.Tenho que criar uma felicidade para mim, tenha pouco ou muito tempo de vida, sem depender dos outros, mas sem esquecer dos outros, já que, queira ou não, é impossível viver sem outros.Mas talvez, contradizendo a canção, seja possível a felicidade na solidão.Por que não?
E se Deus não existe, não caio nessa de personagem - obviamente cristão vítima de culpa - de romance de Dostoievski, a dizer que estamos perdidos.Se Deus não existe, então, para mim, tudo é ou deve ser sagrado.Ou seja: inventei algo à minha imagem e semelhança.
Todo dia acordo e espero que uma tragédia se abata sobre mim.Todo dia, quando saio à rua, imagino ainda que poderei encontrar um grande amor; vejam só, nessa idade! Todo dia imagino que farei algo de significância dentro de minhas margens de insignificância.Sou condenado à esperança, que fazer...Passei mais um dia em branco, mas estou vivo, estou no lucro.Não faço mais planos, os planos se fazem através das possibilidades que sou.Implanejavelmente livre, até que a morte, a falta de dinheiro ou saúde me permitam.Mas, irremediavelmente solitário.Assim como todo mundo, morrerei solitário.Quem sabe uma vida além morte melhor que essa d'aquém? Sei lá...O vazio me espera, mas muito vazio também me separa de todos os outros, como franjas de luz num espectro atômico.A vida é contínua ou descontínua?
Mas, definitivamente, não deixarei que a degradação física não me permita uma despedida honrosa do jogo. Essa ainda não chegou, mas tudo é possível, não é mesmo?
sábado, 1 de junho de 2013
Reflexão a esmo...
Vejo as pessoas por aí, dia a dia.Em essência, do ponto de vista básico e animal, todo mundo é muito igual.Varia um pouco uma coisa ou outra, um mais doce, um mais agressivo, um mais inteligente, outro uma mula(nada contra o simpático animal!), um mais forte, outro mais fraco.No fim, a morte democratiza tudo, a única democracia, não metafísica mas física.Tendemos a ver as coisas do ponto de vista individual; por outro lado, o que sou, o que todo mundo é, tudo se insere numa ordem coletiva, social e civilizada.Esta nos permite viver mais, ter mais conforto material; o preço é a repressão dos instintos, causando com isso a frustração dessa imensa fonte de desejos que todo mundo é.Não fosse assim, viveríamos como bárbaros, talvez nem sobrevivêssemos no planeta.
Fico me perguntando para onde vão essas coisas reprimidas.Muita coisa vai para o trabalho mesmo; haja energia e todo mundo se queixando de que trabalha muita.Afinal, o sistema sabe capitalizar bem as energias desviadas.
Estivéssemos mergulhados constantemente numa busca pela sobrevivência bruta, não haveria lugar para coisas como o tédio.O tédio é uma coisa que veio com a modernidade, os antigos não falavam nisso, tinham pouco tempo para o tédio, quem sabe porque a vida fosse inevitavelmente mais curta naquela época.Tinham que fazer muita coisa em pouco tempo, hoje temos mais tempo mas não fazemos tanta coisa assim(digo: coisas significativas que não sejam apenas a marcação de tempo).Enfim, a vida ficou mais prática e mais cômoda, materialmente falando.Espiritualmente falando , não sei; inclusive porque não sei bem o que vem a ser espírito.Seria o mesmo que mente?Bem, isto é questão para discussão filosófica, a qual, sem dúvida, sempre envereda pelo estético.
Deveríamos levar uma existência pautada por valores estéticos , mas isto é impossível no mundo prático em que vivemos.Talvez o estético substituísse o religioso numa nova formalidade ética; mas o que nos resta é sempre essa religiosidade vulgar e mecanicista.As pessoas precisam , em média, de soluções mecanicistas porque viver com dúvida constante não é muito agradável para ninguém.
Viver com a dúvida da vida, das pessoas e sobre o que são essas pessoas, de tudo que se faz ou se deixou de fazer.Menos se espera e tudo se inverte, pensa-se algo e dá o contrário.Não consigo mais fazer planos, a impotência para com o universo agora transitou para o individual de minha insignificância.Nem por isso vou morrer inercialmente.Se algo bruto e forte se abater sobre mim, sobre minha saúde, não tenho certeza de como vou reagir.Somos sempre imprevisíveis, uns mais, outros menos.
Vejo as pessoas por aí e me assusta a fragilidade de tudo e de todos.Por isso , no fundo, tudo deveria ser visto como sagrado e não banalizado pelo universo mental da mercadoria e do consumo.Qualquer coisa, sagrada antes, pode ter o mesmo valor do que sentar numa cadeira e ver televisão. O tempo de hoje é mediado por algum processo de alienação, auto alienação, se possível.Com isso, tudo fica banal, até a vida e a morte.Com isso perdemos a dimensão do trágico de nossa existência.Se nos afastássemos da realidade frugal do dia a dia, quem sabe pudéssemos apreender, dessa mesma realidade do dia a dia, algo de mais profundo além da superfície igualmente frugal das coisas.Mas, pelo menos em alguma coisa somos todos iguais: somos todos tendentes à covardia, por processo inercial que nos leva ao inerte profundo, ao plasmado pelo silêncio absconso do universo.
Vejo por aí, as pessoas indo e fazendo coisas, eu fazendo ou indo para lá e para cá, um pouco como formigas desorganizadas, frágeis como formigas.Estas são frágeis quanto ao indivíduo, não quanto à espécie.Afina, que espécie de coisa somos nós?Vejo as pessoas andando por aí....
Fico me perguntando para onde vão essas coisas reprimidas.Muita coisa vai para o trabalho mesmo; haja energia e todo mundo se queixando de que trabalha muita.Afinal, o sistema sabe capitalizar bem as energias desviadas.
Estivéssemos mergulhados constantemente numa busca pela sobrevivência bruta, não haveria lugar para coisas como o tédio.O tédio é uma coisa que veio com a modernidade, os antigos não falavam nisso, tinham pouco tempo para o tédio, quem sabe porque a vida fosse inevitavelmente mais curta naquela época.Tinham que fazer muita coisa em pouco tempo, hoje temos mais tempo mas não fazemos tanta coisa assim(digo: coisas significativas que não sejam apenas a marcação de tempo).Enfim, a vida ficou mais prática e mais cômoda, materialmente falando.Espiritualmente falando , não sei; inclusive porque não sei bem o que vem a ser espírito.Seria o mesmo que mente?Bem, isto é questão para discussão filosófica, a qual, sem dúvida, sempre envereda pelo estético.
Deveríamos levar uma existência pautada por valores estéticos , mas isto é impossível no mundo prático em que vivemos.Talvez o estético substituísse o religioso numa nova formalidade ética; mas o que nos resta é sempre essa religiosidade vulgar e mecanicista.As pessoas precisam , em média, de soluções mecanicistas porque viver com dúvida constante não é muito agradável para ninguém.
Viver com a dúvida da vida, das pessoas e sobre o que são essas pessoas, de tudo que se faz ou se deixou de fazer.Menos se espera e tudo se inverte, pensa-se algo e dá o contrário.Não consigo mais fazer planos, a impotência para com o universo agora transitou para o individual de minha insignificância.Nem por isso vou morrer inercialmente.Se algo bruto e forte se abater sobre mim, sobre minha saúde, não tenho certeza de como vou reagir.Somos sempre imprevisíveis, uns mais, outros menos.
Vejo as pessoas por aí e me assusta a fragilidade de tudo e de todos.Por isso , no fundo, tudo deveria ser visto como sagrado e não banalizado pelo universo mental da mercadoria e do consumo.Qualquer coisa, sagrada antes, pode ter o mesmo valor do que sentar numa cadeira e ver televisão. O tempo de hoje é mediado por algum processo de alienação, auto alienação, se possível.Com isso, tudo fica banal, até a vida e a morte.Com isso perdemos a dimensão do trágico de nossa existência.Se nos afastássemos da realidade frugal do dia a dia, quem sabe pudéssemos apreender, dessa mesma realidade do dia a dia, algo de mais profundo além da superfície igualmente frugal das coisas.Mas, pelo menos em alguma coisa somos todos iguais: somos todos tendentes à covardia, por processo inercial que nos leva ao inerte profundo, ao plasmado pelo silêncio absconso do universo.
Vejo por aí, as pessoas indo e fazendo coisas, eu fazendo ou indo para lá e para cá, um pouco como formigas desorganizadas, frágeis como formigas.Estas são frágeis quanto ao indivíduo, não quanto à espécie.Afina, que espécie de coisa somos nós?Vejo as pessoas andando por aí....
pensamentos do finado maio
A partir de certo momento os valores se
invertem, quando menos se espera.Exemplo: com a passagem do tempo, podemos ter
duas pessoas que fincaram um pacto conjugal,
onde a sagrada instituição deixou de ser o casamento e passou a ser o
adultério.O que antes era sagrado passa então a ser um profano "enrustido".
Sempre digo que nada nos garante que a felicidade humana faça parte do
projeto da natureza. Tanto mais que a natureza parece não ter projeto algum,
apenas se move na auto-continuidade de si própria. O universo parece assim se
mover.Acaba, começa, acaba, começa. Mas para os que insistem em dizer que de
início surgiu o verbo, eu tenho lá minhas convicções de que no universo
predomina o advérbio. Verbo, quando muito defectivo.
Eu me
faço a partir do espelho que imagino refletir aquilo que penso ser minha
imagem.Logo, nada impede desse espelho
ser opaco.Em algum momento, pelo menos, ele o será.
Silogismo idealista:
Eu a amo, você me ama; logo, nos amamos
Silogismo masoquista:
Eu a amo, você não me ama; ainda assim eu a
amo.
Silogismo realista:
Eu a amo, você não me ama; logo, eu a odeio.
Silogismo ceticista:
Eu a amo, você me ama; logo, podemos nos
odiar.
Silogismo alternativo:
Eu a odeio, você me odeia; logo, nos amamos.
Dicas básicas para roteiros de filmes
básicos.Pouco lógicos: não sujeitos a silogismos. Aliás, funcionasse por
silogismo, o amor não seria o que é e sim seria uma equação com solução através
de números imaginários. Afinal, constitui-se de números irracionais.
Sempre gostei de ler
coisas de filosofia, não por acreditar achar ali solução para meus dilemas e
contradições, mas como um tipo de exercício estético do pensamento.Salvo,
evidente, quando o assunto envolvia lógica.No fundo, uma maneira de usar o
cérebro de forma irracional para combater o irracional que está lá dentro.Mas
não adianta: o reprimido sempre volta.Ainda bem que faço minhas traquinagens
artísticas que, mesmo que sejam medíocres, pelo menos evitam que eu mate um
medíocre por aí.
É o que mais ouço por aí: essa cidade deixa as
pessoas meio ariscas, ninguém confia em ninguém.
A
se lembrar que já Freud alertava que o ser humano é meio inconfiável, pois se
relaciona a partir da ponta de cima do iceberg; a maior parte, a submersa, os
instintos, essa fica abaixo da linha d'água.Outros pensadores ou artistas já
tinham dito isso, de maneiras diversas, em outras épocas.
Tem
gente que acha que o ser humano é bom, a sociedade é que o estraga; há os que o
vêem como inerentemente mau; finalmente, há os que enxergam tanto aspectos
negativos como positivos, nem mau, nem bom, o que me parece mais razoável pelas
frágeis evidências,Sei que, quando mais novo, confiava mais nas pessoas; hoje,
mais realista, não vejo aquele otimismo de juventude como algo ruim, e sim como
um aspecto de "pureza" que, de certa maneira, me poupou de desprezar
meu semelhante agora na maturidade,Por sinal, diga-se a bem da verdade, com
profundo esforço.E sem acreditar em deus ou em vida depois da morte, o que
complica mais as coisas, inclusive com seu próprio semelhante.
Em
termos de relação humana, prefiro até uma pessoa que acredita em deus –
descontados, obviamente, os fanatismos -do que uma que finge não acreditar mas
se comporta como quem acredita. Aí é dose! Esse tipo de gente nos confunde, não
sabemos como agir, como falar sem que sejam maculadas suas convicções. Certas
formas de farsa me irritam. Ou se acredita ou não, ou se tem fé ou não; pior é
justificar fé por meio racional.Depois agir irracionalmente. Então que fique só
mesmo no discurso de pensamento.Pascal tentou isso com brilho e não conseguiu,
a meu ver; produziu, com isso, bela literatura filosófica.Mas, afinal, era
Pascal, um pensador genial que, mesmo sendo seus Pensamentos livro meu de
cabeceira por um tempo, não conseguiu me convencer da existência de deus.Mas foi
coerente com o que disse ou fez em sua vida. E certa coerência é sempre
admirável; não gosto dos que ficam pela metade, não chegam até o fim, ficam
sempre no estágio morno, inclusive nas posições filosóficas ou éticas.
Quem já matou deus dentro de si, pode se resignar, não adianta, nunca
mais terá paz consoladora, viverá sempre entre o absurdo e o nada, será sempre
um trágico; não mais fará as pazes com a
projeção de si dentro da imagem de um deus que forjaram para sua
consciência.Terá só a si próprio e as encruzilhadas em que se criou.
Como não acreditar na recuperação das pessoas
se consegui me recuperar de minha própria pessoa? A qual, pessoalmente, sempre achei um caso
perdido para o mundo.Bem, talvez eu já seja um caso perdido e nem me toquei
disso. Ou talvez o mundo todo já esteja perdido e não saiba.Tanto faz.
Às vezes fico divagando em conversas com
amigos, desfiando minhas interpretações pessoais sobre psicanálise, filosofia
ou outra maluquice qualquer e, quando solto a idéia de que acho que o futuro
vai dar mais espaço para a bissexualidade, que os papéis tradicionais(pelo
menos no ocidente) estão com os dias contados(mas, os dias, ainda podem ser
muitos e muitos...) em função das transformações sociais, econômicas e
psicológicas, com tudo em mutação, as relações e instituições com constituição
de geléia; falo de como as coisas eram mais difusas nessa área na Grécia
antiga, do padrão andrógino dos valores
estéticos gregos, da idéia de virilidade na cultura clássica da antiguidade, da
feminilidade de temperamento de alguns poetas e artistas, e blá,blá,blá.Mais
hora menos hora, nove em dez dentre esses com quem converso sobre isso me lança
a pergunta: Sérgio, o que aconteceu,você virou gay? Aí concluo que o cara não
entendeu nada do que eu falava.Que fazer!A gente tem que saber com quem
conversa.E saber dos limites da conversa.
E
se os sentimentos das pessoas forem como as vozes por elas emitidas? Podem se
atravessar, uma pela outra, sem que uma interfira na outra, uma pessoa ou outra
podendo fingir que não escutou direito o que a outra falou. E mesmo assim, o ar
vibrou.
Quando vejo casais que se sustentaram, em meio aos grilhões de circunstâncias que os uniram, em anos e
anos decorridos de tortura mútua e compartilhada, experiências perdidas - senão com outros , pelo menos
entre os próprios cônjuges que, sozinhos, poderiam fruir de coisa melhor - ,
sem contar os trágicos eventos de rebentos colocados no mundo, ao relento das
neuroses partilhadas de forma familiar, penso na sobriedade e profundidade da
frase "antes só que mal acompanhado".São nessas horas que vejo como a
família devia ser vista como algo sagrado. Um outro tipo de sagrado, longe dos
preceitos de sociedade ou religião.Mas hoje esse tipo de família não subsiste. Algo,
hoje, banalizado como tudo. Mas então por quê levar a vida de forma banal? Com
isso apenas reproduzimos a forma como a natureza nos trata: da mesma forma
banal com que trata insetos ou plantas, a mesma indiferença que faz com que os elementos passem por cima
de nós.
Ah, essas pessoas de bem, decentes, de cidadania bem cumprida, doces,
suaves que, repentinamente, emitem uma opinião digna de um nazista convicto da
SS.... Que fazer, a humanidade é assim mesmo. Por isso as soluções têm sempre
que ser coletivas e com leis, porque aí existe a possibilidade de que a razão
dê a linha das coisas .Por isso não acredito no anarquismo como método
político. Porque, solto e no plano meramente individual, o ser humano é uma
fera perigosa e agressiva, o egoísmo sem barreiras ditando a regra, a
irracionalidade destrutiva ameaçando o que há ao seu redor, engolindo, com
isso, toda possibilidade de bondade, generosidade ou amor que existem dentro
desse ser .E que se deixe a anarquia para a arte, para os nossos sonhos ou
costumes, desde que não fira ninguém .Mas aí, aquela pessoa de bem, decente,
etc, pode também não gostar e pensar como um moralista inquisidor .Simplesmente
porque a liberdade e o exercício da razão parecem constranger o cidadão
comum-zé-ninguém desse nosso mundo doido.
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