Ah, que esse silêncio das árvores me perturba tanto quanto o de tantas mulheres.Tantas e tantas árvores no mundo, nunca uma parecida com as demais.Cai a tarde e me quedo contemplando uma, frondosamente silenciosa à minha frente, galhos imponentes e folhagem multifacetada de tantos verdes quantos os amores que deixamos escapar por entre as mãos.Silêncio de tarde quente, quebrado apenas pelo murmurar distante de jovens, refestelados em gramados próximos, na imposição natural da força dos hormônios.Mas minha consciência, ou o que resta dela nessa tarde de aflições contidas por um silêncio cósmico e celeste, já se perdeu por entre as folhas silenciosas da árvore, essa estranha melancolia vegetal de botânica e indecifrável linguagem, uma greve de vento impondo a mudez como epígrafe dessa tarde quente.Posto isso, encontro, após o susto do celular me roubando ao silêncio absconso, uma moça.Nem precisava do recurso do satélite: simples sinais de fumaça fariam-me encontrá-la.Em seguida, vejo-a, silenciosa e frondosa, na altivez que apenas a beleza feminina contém, sentada, sorriso escandido nos lábios, os lábios de mulher que sempre ocultam algum tipo de sol, algo entre a melancolia e a alegria, mais ou menos como o estranho brilho verdejante da folhagem que antes observava na inquietante árvore.Pouco fala a moça, assim como nada falava a árvore na quietude da ausência de vento; o silêncio conduz sua presença, delineado pelo talhe de sua figura.Conta-me algumas aflições suas, mais ou menos como, provavelmente, aquela árvore me contava as dela, numa língua vegetal que talvez nunca eu venha a dominar.Vendo a árvore pensava na morte.Vendo a moça -que fazer!- sou obrigado a pensar na vida.A sua tristeza silenciosa me perturba, mais ou menos como o fazia aquela árvore. A melancolia das árvores, a branda tristeza das mulheres.Aquele lapso de momento na existência, em que tudo se reduz a dois seres: a moça e a árvore.Entre as duas , uma similitude: frondosas e belas.Unindo-as , o inexpugnável silêncio que envolve todos os seres, humanos ou não, no furioso ruído cósmico que nos envolve.Onde estariam as almas das árvores, onde estariam as almas das mulheres?Quem sabe, imersas no calor daquela tarde.A moça me sorriu; teria a árvore sorrido para mim?Quem sabe, uma eternidade seria pouco para o tanto de tempo a se desenhar tanto uma quanto a outra.
Caiu a noite, a sombra roubou o verde das folhas, a sombra da distância roubou-me a presença da moça.E minha alma, quem sabe perdida no interstício de espaço e tempo entre a árvore e a moça.A moça partiu, enquanto olho a árvore esquecida nas sombras da noite que chega e pressinto algum ciúme por parte de tão nobre e altivo vegetal, algo que de alguma forma me envaidece.
O silêncio das árvores sempre me perturba.O silêncio das moças sempre me perturba.Esse silêncio, a grande sinfonia da vida.
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