De fato, como dizia Rochefoucauld, o amor é como o fogo, não continuando se não o alimentamos.Claro, existem fogueiras e fogueiras, alguns incêndios incontroláveis. Existe até mesmo a fogueira das vaidades, um exemplo desmesurado de amor próprio.Mesmo aquele foguinho artificial de tomada deixa de mandar calor quando não se paga a conta de luz.E tudo tem lá seu preço.Acho que qualquer forma de amor -e não vou me restringir ao plano sexual, ainda que acredite que todas as formas de amor a esse plano se ligue ou dele promane , direta ou indiretamente- implica em alguma privação de liberdade.A liberdade é sempre um conceito particular que pode englobar outras formas conceituais universais; em suma, é algo abstrato, embora a privação de liberdade seja algo bem concreto.Envelhecer, por outro lado, implica em descobrir novas formas de amar.Condição inevitável da situação humana.A outra face da moeda, o oposto da morte, a qual prevalece se não mais amarmos a vida; algo fácil de acontecer.As forças de extinção da vida estão por aí.Matar ou morrer é mais fácil do que viver, mais de acordo com os princípios da entropia.Um relacionamento se constrói aos poucos, às duras penas, podendo ser desfeito em segundos.Uma só palavra e nós ou a Esfinge, alguém cai pelo precipício.
O amor tem falhas?Ou todas as falhas são falta de amor?Não sei...No dia a dia, o tempo passando rápido como um raio desesperado cortando os céus, tudo é frágil, perde-se tudo de uma hora para outra, saúde, paz, coisas, pessoas, amores.Só nos resta resistir enquanto houver forças.
As pessoas não morrem de uma vez.A presença física delas sim, as lembranças vão-se aos poucos.Vivemos com os mortos e coisas mortas, mesmo sem saber.Tudo isso implica em pânico cósmico, mas disso não temos como escapar.A sombra de um sonho, é isso o que somos, a isso nos restringimos na jornada curta até se pagar o tributo a Caronte.E do outro lado do rio, quem sabe haverá coisas a que se chamam amor, mais duráveis e menos complicadas das que estão por aqui.Por aqui, apenas a suspeita de que vagamos em círculos, procurando em formas de amar, quaisquer que sejam, uma orientação para a criação de significados.Já que a vida, em si mesma, não tem nenhum significado.
Então, que a fortuna sempre me reserve algum isqueiro no bolso.Continuar mantendo essa estranha fogueira de pânico que me parece ser qualquer forma de amar.Afinal, não passamos de seres espantados.
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