terça-feira, 6 de agosto de 2013

pensamentos de julho de 2013

Bem, se então todas as cartas de amor são ridículas, todos os discursos políticos também o são...ridículos.As primeiras visam a sedução, os segundos, a embromação.Apelo à emoção, não à razão, os dois feitos daquilo são.Já se imaginou carta de amor racional, toda levada na base da lógica construída?Melhor mesmo ser destruída.Amor psicanalisado em texto foge mesmo ao contexto.E os discursos políticos feitos de verdade, sem vaidade, seria isso possível? Tem mais coisa louca nesse mundo para mim crível.Chamem Moisés e seu bastão para dividir o mar em duas partes que seria mais fácil do que o discurso cheio de  vero.Sincero?Só mesmo o que faz as cartas de amor, ainda que sejam ruins ou, por sua própria natureza, ridículas na sua própria emoção perdida ou pedida.Na política, a verdade sempre fendida, fedida.Os amantes, tenham esses ou não suas cartas dirigidas entre si, refestelam-se,naturalmente, no ridículo natural que são.Políticos, naquele eterno ar  malsão.Para mim, no fundo, nada são.
     Ah, cartas ridículas de amantes ridículos, nos salvem do ridículo maior de levar daqueles mentirosos  algo a sério!Que os de fala empolada me parecem assombração de cemitério.Sem que  nada eu veja nelas de  mistério.Prefiro mesmo ser ridículo a me falsear pelo prosador do ridículo.Cartas de amor, livrai-nos do mal, amém!

Se realmente devemos julgar um homem por suas ações concretas e não pelo que ele diz de si próprio, devemos relativizar a utilização do conceito de caráter, quando este é aplicado a políticos.Para estes, aquele conceito tem outro significado, distinto do utilizado pelo senso comum.Como conjunto de características psicológicas das relações mais profundas da mente humana, expressas no contato com o exterior sócio-ambiental, além daquilo que chamamos de ego, podemos até arriscar que políticos não têm caráter. Quem sabe não possam se dar ao luxo de tê-lo.Ou pelo menos o têm de forma mais plástica, moldável e transigente.Daí a sensação de “oco” por trás de suas falas e discursos, quando somos levados a pensar se realmente ele, político, está acreditando no que fala.Um ator pode acreditar no que o personagem fala através dele; o personagem é uma criação abstrata forjada pela imaginação humana.Mas qual o personagem que age por trás das palavras do político, esta variação de ator(em geral sempre canastrão, pleno de maneirismos de mau gosto) misturado a um personagem social?Um agente “coletivo”, uma idéia pura ou uma circunstância dinâmica que o envolve? O narcisismo do ator pode residir na auto-apreciação de sua capacidade ou talento.O narcisismo do político reside no próprio aparato de seu ego, no fundo, independente de interesses de terceiro; age um pouco por sua vontade, um pouco à revelia de sua vontade , apenas para reafirmar sua vontade original.Por isso, não é de surpreender a mudança de posição ou fala do político ao longo do tempo, de acordo com os ventos da conveniência que se bandeiam para as planícies do poder; não é um problema de caráter, pelo simples fato de que ele raramente trabalha com esse conceito, salvo quando é um profundo idealista, revolucionário ou visionário, coisa mais afeita a santos, profetas, loucos ou  artistas do que a políticos convencionais.Os quais continuam e devem continuar preponderando em nossa época de democracia de massas e propaganda política.

Aí, quando Freud falava na luta titânica entre os instintos de vida e de morte , no interior do ser humano, os lógicos e racionalistas o acusavam de enveredar por especulações metafísicas.Como se a violência humana fosse algo pouco físico, no dia a dia, na história em geral...Por outro lado, uma proeminente personalidade lógica, um filósofo lógico como Bertrand Russel, dizia sentir uma luta interna no ser humano, entre as forças do ódio e do amor.Dá na mesma; e ninguém acusaria esse pensador de ser metafísico.Podemos conviver com um monstro ao lado, cotidianamente, e nem imaginamos.Sem contar as pequenas monstruosidades que cometemos com nossos semelhantes ou outras monstruosidades que nos são perpetradas por outros.É só olharmos ao redor e ver o tanto de relacionamentos sado-masoquistas, não apenas no plano sexual, que abundam em nosso cotidiano, em meio ao nosso círculo de conhecidos.Daí a sabedoria profunda da fala do personagem sartreano ao dizer que o inferno são os outros.



Que para mim é estranho o tal sentimento associado a patriotismo, ah, sem dúvida que o é.Não consigo sentir tal coisa, ainda que já o tenha sentido outrora, bem mais jovem.Patriotismo.Que seria isto?  Impossível fazer retornar esse sentimento, como também me é impossível fazer retornar o amor que já senti por outrem e já foi desmilinguido  pelas circunstância e pelo tempo.Li de um autor, Cioran, que o patriotismo é um visco.Acho que concordo com isso. Já li algo parecido em outros autores.Para mim, é algo meio estranho esse sentimento de patriotismo.O que seria: a língua em que me expresso, o meio , a terra e as pessoas com que convivo nessa terra? Quantas mortes em nome do patriotismo. Mas a humanidade não é uma só coisa? Já vivi fora daqui, falando outra língua, ainda que sempre pensando na minha original, vendo pessoas que julgava estranhas por ter hábitos diferentes dos meus. Sim, hábitos definem nossa vida; nem percebemos isto, os condicionamentos que mecanicamente nos manipulam, além dos vestígios da consciência.Mas as pessoas sempre são estranhas, sempre imprevisíveis, até mesmo as imaginárias que podemos projetar existir em outro planeta.No fundo, sinto-me apátrida, um pouco exilado de tudo, um pouco exilado da própria vida que me traga.Pátria, para mim, não passa de abstração, criada em torno do fetiche de símbolos e imagens.Definitivamente, só acredito na pátria do espírito.E essa não tem bandeira ou hino.

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