terça-feira, 20 de agosto de 2013

Afinal, que porra faço eu nessa cidade?

Que porra faço eu nessa cidade?Ou mesmo nesse mundo?
Aí, realisticamente, fico pensando: o que me prende nessa cidade?Ela não mais me pertence, tem pouco a ver com minha infância. Nem bonita é; conseguiu até ficar mais feia.O que me serve de laço por aqui: uns fins de semana insalubres, em botecos insalubres, cheios de gente insalubre? Bem, vale pelas risadas, uma ou outra conversa espirituosa e  o ridículo flertar etílico de sempre.Ou um ocasional sexo acidental e sem substância movido a álcool. Os amigos são muito raros(a palavra amizade é muito banalizada), boa parte das pessoas mais queridas já se foi.Resta apenas sonhar com a possibilidade de felicidade dos mais jovens, uma forma sutil de reafirmar nosso humanismo claudicante.Mas esse capitalismo selvagem de metrópole caótica e bárbara avilta minha sensibilidade.
     Profissão?O que faço  poderia fazer em qualquer lugar no mundo,fosse ele vila ou ilha,  hoje ainda tudo mais facilitado pela internet.A vida nessa cidade é um lixo e não vou ficar rico ou famoso por aqui.Aliás, já faz décadas que abandonei qualquer tola ilusão sobre fama, fortuna ou amor.Bem, o amor convencional, já que o amor que tenho pela arte,  pela beleza,pelo pensamento e pela abstração criativa de ordem humana, esse irá comigo para baixo da terra.Os caminhos do encantamento passam longe do cotidiano sombrio que nos cerca, por mais que haja vitrines ou estímulos visuais e eletrônicos.Mas não dá para ser um hedonista com cabeça de consumista, ou vivendo numa sociedade consumista.Seria o mesmo que ser um pacifista dentro de um campo de batalha em guerra.Daí o exílio aqui mesmo.Exilado de mim, dos outros, do mundo, dentro de meu próprio mundo.Exílio voluntário.
    Não idealizo mais as pessoas, nem espero muita coisa delas; pessoas são pessoas, nada mais do que pessoas e  sei que a violência e o egoísmo são coisas muito concretas.Todos temos nossos demônios e anjos, os primeiros gozando de mais liberdade e recursos nesse nosso admirável mundo novo.Como já também desisti da Pasárgada, reino idílico do poeta que era amigo do rei e onde poderia ter a mulher que quisesse na cama que escolhece, não sei exatamente para onde fugir, a não ser para os próprios jardins de meu interior.Afinal, nenhum rei é meu amigo e meus reinos são sempre imaginários.
    Ainda bem que aprendi a desenhar e pintar; preferível exercer qualquer má arte do que arte alguma.
     Antes de explodir, por segurança agora dou uma margem de contagem até vinte, porque os tempos são mais difíceis.Se bobear, tenho recaídas de violência ou paixão.Luta sem trégua essa...
     O negócio é desejar menos as coisas, sejam elas  grana, sucesso, fama, mulher ou um monte de outras bobagens que não vão resolver os grandes problemas da existência.E, de preferência, sair da prisão da sociabilidade, porque nunca somos livres se não conseguimos viver sós.No fim, todos estamos sempre sós e deus não tem aparelho de surdez; no fundo, não tem mesmo  nenhum ouvido .A rocha nossa de cada dia, montanha acima, nos dai hoje, amém.

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