segunda-feira, 8 de julho de 2013

pessimismo, recusa sexual, vulgaridade

     " O pessimismo, verifiquei, é muitas vezes um fenómeno de recusa sexual. É assim, claramente, o de Leopardi e de Antero. Nesta construção de um sistema sobre os fenómenos sexuais próprios, não posso esquivar-me a ver qualquer coisa de implacavelmente grosseiro e vil. Todos os indivíduos grosseiros têm necessidade da nota sexual; é ela, até, que os distingue. Não podem contar anedotas fora da sexualidade; não sabem ter espírito fora da sexualidade. Vêem em todos os pares uma razão sexual de serem pares.
      Que tem o sistema do universo com as deficiências sexuais de cada qual? "(Fernando Pessoa)


Céus, que tantas vezes já me flagrei sendo pessimista, tantas vezes fui acusado de pessimista!Meu esforço é maior no sentido de ser um cético, mais do que um otimista.Haveria alguma recusa, nisso também?Pessoa cita Antero de Quental; este sofria de histerias constantes("um mal de mulher num corpo de homem", segundo palavras de um psicólogo famoso, Charcot, que o analisou em Paris), tentou se matar mais de uma vez por amor.Acabou morrendo pelas próprias mãos.Combatia o pessimismo com a prática da esperança socialista.

Como sempre estive incluso na categoria dos que têm dificuldades de fazer ou falar piadas sobre sexualidade, achei interessante esse pensamento de Pessoa.O que me leva a crer que ele reprimia muito de sua própria sexualidade, transformando essa energia instintiva em produção intelectual, criando estruturas simbólicas, viabilizando a abstração.
     Desde moleque não me agradava a vulgarização de assuntos sexuais.Com o tempo fui induzido a crer, tanto por leituras como por palpites alheios, que tal coisa era proveniente de mecanismos psíquicos de controle e repressão. Mas, com o passar dos anos, fui forjando opinião própria a respeito do assunto.Hoje não tenho problemas com relação ao enfrentamento da vulgaridade comum do homem comum.Homens fazem muitas piadas sobre sexo, principalmente sobre homossexualismo, coisa que não me causa graça, não produz quase riso algum. Por outro lado, mulheres vulgares ou agindo de forma excessivamente vulgar, fora de um habitat adequado para tal coisa, considero-as desestimulantes.Estranho ,não? Mas uma pitada de vulgaridade sempre cria um interesse.Mais estranho ainda.As prostitutas parecem ser as únicas criaturas para as quais a vulgaridade é tratada de forma artística.Afinal, são profissionais, entendem bem das fantasias e frustrações alheias, conhecem bem coisas desconhecidas ou desprezadas por outras mulheres. Por fim, quem sabe o limite entre o erótico e o pornográfico? 
     Acho e sempre achei estranha essa fixação por piadas sobre homossexuais.Tenho certeza de que deve funcionar como alívio para algum problema mal resolvido sobre a homossexualidade dos que as fazem. Mas conheço homem que fica transtornado se for vítima de algum assédio de caráter homossexual.Nada estranhável.
     A medida certa é sempre difícil.E o erotismo funciona com leis e dinâmicas que se contrapõem à lógica do cotidiano.Para todo mundo, a sexualidade é sempre um abismo.Ficamos tontos, por causa dela, tanto para fora como para dentro.A forma mais fácil de se enlouquecer.Tudo isso, apesar de tanta leitura e meditação, ainda me é muito estranho! Mas me alivia saber que o deve ser para todo mundo.
     Sexualidade é sempre assim: como, vivendo em civilização, o ser humano não pode exercê-la em toda sua plenitude e transbordamento instintivo, precisa sublimá-la(termo bem psicanalítico), transformá-la em outra coisa, seja trabalho, criação intelectual, fé religiosa, qualquer coisa que alivie o peso do impulso não bem satisfeito.

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