segunda-feira, 1 de julho de 2013

pensamentos de junho(ano 2013)

É, acho que o Pessoa tinha razão: a vida ou não presta , ou é insuficiente; daí haver arte.Poderia acrescentar: arte ruim em massa, para sensibilidades arruinadas em massa pelo sentido de massa.Mas isto é significativo da condição humana, a qual só escapa do sofrimento pelo trabalho(argh!), pela ilusão ou pela intoxicação.Seria a tal bebida, poesia ou virtude do poema de  Baudelaire?

Excesso de expectativa acalenta desilusão; falta total de expectativa mortificação.

Para bom pessimista, meia tragédia basta.

O problema do pessimista é levar a vida a sério demais; ainda que, em demasia, a vida seja mesmo um caso sério.

Os filmes de zumbis são a auto-crítica cinematográfica do mundo moderno?Um aspecto em que o mundo moderno continua como o antigo?

Fascínio pelo velho, o velho fascínio pela ausência do fascinante?

Toda violência reprimida acaba sendo vomitada ou dejetada por algum organismo excretor da consciência.

Às vezes me pergunto se não vivo algum tipo de evasão imaginária criando um mundo imaginário, onde não passo de um ser imaginário de minha imaginação.Fico imaginando isso...

A pergunta que não quer calar é sempre algo que, em algum momento, já nos calou.

 Pensamento sobre o nosso maio que veio em junho:
Podemos até transformar a utopia numa distopia, mas nunca acabar com a lei da entropia.As leis da história – se é que as há – para nós são mais enigmáticas que as próprias leis da natureza, essas por nós apenas resvaladas pelo  conhecimento.Tentamos avaliar fenômenos espontâneos com o mesmo determinismo  com que julgamos um fenômeno sub-atômico com recursos apenas da mecânica newtoniana, esquecendo os pressupostos da mecânica quântica.Por isso, a falta de reflexão na ação política é como a falta de projeto de um partido: dá em nada.Mas há a situação do partido que quer que tudo fique mesmo no nada, assim como há aquele para o qual é o tudo ou nada.E assim ficamos nadando na nadificação.
  Saio da servidão das companhias e entro para o claustro de meu reinado, meu quarto, meu reino e mundo.O mundo lá fora explodindo, abro a janela estranha que é o computador.Tudo corre e arrepia, serpenteando de desejo a minha inércia.Então, pouco me basta este silêncio em que me julgo rei e lá me jogo, aos portões sombrios da realidade. Sinto-me solitário no mundo, mas o mundo corre lá fora em sua solidão maior em meio ao cosmo gigantesco. Posso sonhar ser o senhor do castelo mas ainda sou servo.Exatamente, não sei de quê....


   A bela noite tem uma lua ornamentando de pérola a indescritível massa de carne humana,  não consegue abafar os gritos.Multidão e gente, juventude iridescente em hormônios e insatisfação, essa carne e alma que fazem dela própria juventude. Nunca se sabe exatamente onde se vai, ninguém sabe exceto os poderosos em sua arrogância de pretensa imortalidade,seja lá em multidão ou solidão, na multidão em que somos sempre solidão acompanhada.Tanto faz: de riso e ruído, grito e revolta, sonho e ilusão também se faz a vida.Ainda que multidão possa rimar com ilusão, nada de mal ao se ver o irreal desmanchado no ar.Nossa vida pode mudar por uma simples casca de banana que nos colhe em desaviso, o que se pode dizer de asneira de político em sobreaviso?Tudo pode ser um castelo de cartas, ainda que haja sempre a tentativa de engessar e colar essas cartas.
  E corro para multidão que hoje me recebe, amanhã me rejeita,assim sempre são as coisas nesse mundo em que sempre somos um outro entre outros, uma solidão que sempre mergulha na multidão; e corre lá o mar de gente, um conluio erótico-ilusório de corpos e mentes numa busca de algo além das palavras.Simples, algo como a vida, uma ação e reação constante, como uma grande ameba que se tornou autônoma de tudo e voou aos céu como astronauta.Porque não? Até amebas sonham.E tantos nos tratam como amebas...Sem sonhos, lógico.
   E que essa multidão seja uma ilusão em que mergulho, pouco me importo,  no curto espaço que pode existir entre esse momento e a morte, essa grande democracia do tudo que acaba de vez com os absurdos que os homens criam para si. A multidão que reina em mim me transforma no rei da multidão.E viro vassalo da alegria.E que seja mesmo um sonho, sem problema: talvez tudo nessa vida não passe de um sonho rumando ao grande sonho indescritível que se sonha maior que tudo.E nisso todos nós somos, tenhamos talento e treinamento ou não, artistas: temos dever de salvar nosso sonho.Salvar o sonho da ilusão de realidade que empedra nossa alma.O resto não passa de pura morte.
    E quando voltar de alma lavada, às plagas solitárias do reino em que me imagino me encontrar,  tolo que sou por sonhar em me encontrar,quem sabe sinta os sonhos meus dentro do grande sonho do mundo, essa grande ameba que encerra a luta da vida contra a morte, ao movimento amoroso de uma eterna multidão.

Ditados latinos são bonitos como forma de citação mas, com frequência, encerram dentro de si erros e falseamentos da realidade.Um exemplo é um , frequentemente citado, que diz que a natureza nunca dá saltos.Isto funciona para certas margens de nossos universo sensível, como no caso de biologia ou história natural, mecânica newtoniana; não funciona para física quântica, senão não usaríamos telefones celulares ou lâmpadas fluorescentes ou de led.A explicação é complexa.Mesmo no caso de pessoas, muitas não dão saltos mas também não passam por transformações contínuas; não crescem, apenas fenecem.Aliás, como muitas espécies vegetais, muita vida "vegetativa" só difere da morte por certo acaso circunstancial.

     Mas, afinal, o que é a realidade? E o que é concretamente real nas relações humanas, no discurso que enviesa as coisas e não define a precisão, apenas imprecisa os fatos e os sentimentos?Difícil saber, já que não temos laboratório para isso, instrumento matemático que quantize os afetos, os impulsos, as irracionalidades que produzem a energia de nossas atitudes, do trabalho ao sexo, do amor ao ódio, todas essas coisas construídas por trás de tecidos ilusórios de convenções sociais. Construções mentais.O homem é fruto de uma abstração que cria para si mesmo, daí quem sabe, a busca desesperada pelo que é incorporal, seja usando a ilusão, o sonho, a intoxicação, a sensação perene da morte da alma e um fingimento de uma não existência dela.
     Não vemos coisas como o elétron, fóton, essas partículas malucas, sejam elas de Deus ou do Diabo, que os físicos tentam esmiuçar em misteriosas e complexas pesquisas.Todos lidam apenas com as emanações das mesmas, com os traços de energia que elas deixam no espaço. O espaço que é decorrência de um tempo não mais medido em intervalos mas sim em espacializações  incorpóreas.O sentido convencional de matéria foi para o espaço.O que ocorre  nessa relação entre ciência e realidade pesquisada, também ocorre no dia a dia, no trato com as pessoas, entre as pessoas.As emanações intercambiam-se, não os centros de irradiação dessas emanações( entenda-se: dimensão inconsciente dos seres ou de sua coletividade).No final, temos os efeitos dos processos, os quais são sempre imprevisíveis.Ainda que, dentro de um laboratório ou de um atelier, apesar de toda indeterminação envolvida, posso ter mais controle da situação do que frente à indeterminação que envolve relacionamentos humanos.Esta só diminui se for envolvida em regras estritas, em restrições, em suma, em castrações assumidas que venham a podar o inesgotável egoísmo das partes.Assim é que é, assim é que foi; assim até quando será? Temos margens estreitadas dentro de nossas intencionalidades.O que sou , o que somos, tudo pode ser apenas projeção num espelho de nossa consciência adaptada às relações interpessoais.Construir a casa até que é fácil, difícil mesmo é colocar as pessoas lá dentro convivendo.Por isso há os que buscam refúgio em laboratórios, ateliers, palavras,etc,etc,etc.Mais fácil de lidar.

A fama é como o vento: passa e não traz nenhuma resposta; desfaz-se como o próprio vento, este que pouco sabemos de onde surgiu nem onde vai acabar.

Fato estranho é que todas, absolutamente todas as pessoas são diferenciadas; em suma, são diversidades que têm dificuldade em manter a unidade, apesar de todas as pessoas serem feitas da mesma matéria. Mas não dos mesmos sonhos ou objetivos, já que não nos moldamos apenas às necessidades dos instintos.Mais fácil conseguir unidade organizando notas(sons), cores(luz) ou palavras(simbolos), para se conseguir uma unidade.Apesar de, assim como ocorre entre as pessoas, as combinações dessas coisas ainda continue um mistério.Mas essas coisas só funcionam em conjunto, como a humanidade.Atualmente, ainda vivemos em estilo Quadrado Branco sobre Fundo Branco de Malevich. A humanidade tem um bom chassi , uma boa tela e boa moldura; só não conseguiu ainda fazer a pintura.

Temos que cair na real e colocar de lado o conceito antigo de "homem cordial", usado no passado em referência ao brasileiro.Nossa sociedade é mais urbanizada, o país é mais capitalista do que nos anos vinte ou trinta do século passado, trazendo com isso todas as neuroses e violências urbanas e modernas.Nossa sociedade é tão violenta quanto qualquer outra por aí; não é porque é mais fácil se arrancar um sorriso do rosto por essas bandas, porque diz-se que somos mais "descontraídos", que devemos desconsiderar a violência que pode pairar em todos os estratos sociais.Acrescente-se a isso uma dose de irracionalidade meio anárquica e , pronto, está feito o cenário para uma grande "bi-polaridade" nacional, indo da euforia à depressão, da soberba à auto-depreciação em segundos. Confesso que isto me assusta, assim como o baixo nível médio cultural e educacional das grandes massas; setores "formadores" de opinião que pouco formam e são alienados, um certo ressentimento "fascistóide" disseminado por aí - podendo facilmente ser alavancado por uma ciclotimia emocional coletiva -, uma maneira inercial de comportamento que se torna muito perigosa numa nação com tanta gente .O que acontece na seara política, isso não dá para desvincular do resto do tecido social e cultural do país.Até onde a "gente vai levando"? Mas, enfim, já houve épocas piores no passado...


     Todo dia acordo como quem vai para uma batalha.Na verdade, quem sabe a guerra real fosse assim; em parte, uma monotonia cercada de cotidiano de incertezas. De onde vim, nessa face estranha da vida que é o sono – uma sombra da morte, talvez? -, para onde vou, depois de escovar os dentes e estabelecer uma rota(?) para os afazeres, isso é sempre um projeto indefinido.Posso pensar que defini algo, quando a definição, em si mesma, foi a indefinição de uma outra parte minha que se definia pelo alheamento confuso dos sentimentos e da razão construída por estratégias por mim não concebidas, a não ser pelo acaso que nos rege.Mas isso tudo é confusão indefinida, uma fusão com a própria vida.

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