Perguntam-me sobre o que mais pensei na vida e não hesito em responder: mulher.E vejam que eu nem me considero um mulherengo; talvez eu o seja de outra maneira, criando idéias abstratas ou idealizadas sobre o feminino, objetivando, sem dúvida, algo de estético.Sim, porque confesso que também já gastei muito neurônio pensando em questões metafísicas, entrando aí o mistério do que nos causa prazer ou impressão de prazer, ainda que se passe pelo sofrimento para isto.
Mas, sem dúvida, as maiores impressões de sofrimento ou prazer me foram causadas por mulheres.E por minhas limitações, inclusive com elas.Agora, mais resignado e menos hormonizado, me pego mais tranquilizado quanto a isso.
Sempre pensei muito na morte; hoje penso mais nela por causa da idade e porque o cemitério da memória ampliou o número de lápides em minha vida.Amor e morte, as duas faces da vida.
Dizia um grande poeta que o amor e a fome movem o mundo.Freud endossava isto sem pestanejar.Tudo o que se faz ou pensa gravita em torno de agregação ou desagregação nesta vida.Desisti há muito de explicar coisas como o amor ou a beleza.Podemos, quando muito, falar das emanações que envolvem essas coisas.Podemos criar discursos idealizados mas a realidade em si é inapreensível.Tentar criar sistemas explicativos para os fenômenos da vida sempre ocupou muito de meu tempo e esforço mental mas em nada resultou.Vivemos, brigamos, amamos, às vezes até matamos coisas ou pessoas, mas nada parece fazer sentido.E há mesmo um sentido nisso tudo, o de nada ter muito sentido.
Quando mais novo achava que pensava muito em sexo; tinha que tirá-lo da minha frente para enxergar outras coisas.Agora tenho que tirar muita coisa de minha frente para pensar em sexo.Ou talvez pense o tempo inteiro, inconscientemente, porque tenho certeza de que não sei exatamente sobre o que estou pensando, até mesmo quando escrevo estas linhas, fingindo ser um outro consciente e sóbrio do que pensa mas, pode ser, não passando de uma imagem projetada de sonhos de um eu que deixa de ser este próprio eu ao escrever estas linhas que em nada me ajudam a pensar que posso pensar com certeza o que digo que é o que penso agora.E nisso dou um nó na própria cabeça.
Assim como a morte, as mulheres me parecem inapreensíveis e inescrutáveis.Inútil tentar decifrar certas coisas.Será que tenho tanta necessidade de morte quanto de mulher, mesmo sem saber?Mas apenas a morte me parece mais concreta; ao contrário da mulher, ela não é sonho e sim fato.Idealizei tanta coisa em torno de mulher que até tenho medo das que me despertam mais interesse.Restrinjo-me então apenas à beleza delas, como entes físicos apreensíveis ao meu olhar e passíveis de elaboração abstrata em torno do que vejo.No fundo, nem vejo mais distinção tão clara entre o masculino e o feminino, exceto talvez as evidências hormonais e físicas mais latentes.Tudo é muito misterioso: o mundo, a ciência, a arte , a imaginação, o sexo.Nada dessas coisas aceito-as banalizadas.Daí que viver ainda seja algo complicado para mim.Poderia ser pior caso eu sofresse de alguma deficiência física.Teria que me adaptar; para tudo a gente tem que se adaptar, somos uma espécie muito competente para isto.´Só não somos competentes para ouvir o coração dos outros.
A vida não me basta; não deve bastar certamente a ninguém, apenas se criam compromissos e adaptações para que se pense pouco nisso.Eu, contudo, penso muito nisso.Não sei se é razoável ou não; tento racionalizar as coisas mas os mecanismos lógicos não se aplicam a tudo.Já houve época em minha vida onde acreditava que tudo podia se explicar pela matemática; mas veio o amor e tudo desabou.Hoje não tenho certeza de quase nada, de ninguém , do que todo mundo, inclusive eu, pensa.Vago anseio pela telepatia; mas acho que isso tornaria a vida social inviável.A não ser que conseguíssemos viver sem desejos; mas isto seria viver sem sentir e me parece que tudo que não é sentimento é morte.E como não sei o que é a morte, a não ser como uma hipotética ausência de tempo cronológico, como poderia saber o que é sentir?Sentir simplesmente é.Não foi nem será, simplesmente é; o resto é elaboração mental.Mas esta elaboração de nada serve porque mal sei se o que inexiste é o presente ou se o que apenas existe é o presente.Penso muito nisso, o tempo passa e, de repente, já morri.Fica uma ou outra coisa escrita, pensada, falada, desenhada ou pintada, quando muito; até virar pó e esquecimento.Nesse lapso do universo que se chama vida terrestre, tudo vira pó e esquecimento em algum momento.Ah, como penso nisso!
Precisaria me reinventar durante todo o tempo, mas o tempo fica mais curto.Ou será que passa muito
depressa? Não sei.Gostaria de falar tudo o que sinto, já falei muita coisa , mas me pego mentindo a mim mesmo durante muito tempo.Tenho vergonha disso.Não deveria ter porque não há testemunha dessa minha tibieza introspectiva.E nem ao menos acredito no "olho que tudo vê".O nada me espera.Mas, ainda bem, não quero que ninguém forçosamente acredite nisso.E em nada, talvez.
Tenho que aproveitar enquanto a morte não vem.Faço uma ou outra coisa em que julgo colocar um pouco de minha essência, mas me considero limitado, o que me constrange muito.Penso muito nisso; muitos burros assassinados por causa disso.
Por isso a resposta nem sempre é clara, a frustração sempre plena.Na escuridão de partes indivisas de minha alma buscar algum tipo de luz que brote de meu pensamento.Ou de meu sentimento?Sei lá.A vida, a morte, a arte, o belo, o horror e a violência, o espetáculo furioso da vida, o mundo tão vasto onde o eu tão pequeno se esconde,o selvagem domesticado dentro de mim que me arranha com suas garras, ferindo dolorosamente as paredes do comportamento civilizado e comedido.Nisso sou muito infeliz.Ainda que tenha momentos de alta felicidade, em geral e infelizmente, vividos individualmente no jardim inacessível que criei para mim mesmo.Com isso devo parecer estranho.Penso muito nisso também.E penso nesse diabo de coisa estranha que é o amor.E também na ausência de amor.Para onde vão essas coisas se não as compartilhamos?Para quem ou onde ficam?
Sinto forças que me propiciariam, quem sabe, amar mil mulheres , mas não encontro uma que eu julgue digna disso.Salvo acidentes sexuais de percurso; mas isto é banal demais. Mas talvez eu não passe de um presunçoso arrogante.Penso muito nisso.Como penso muito em deus; ou melhor, na ausência de deus.Para mim, morto; o que não faz com que tudo seja permitido mas que tudo seja meio sagrado.
Mas, afinal, para que pensar nisso tudo se nem ao menos tenho certeza sobre o que mais penso ou pensei.Ah, sim, disse que era mulher.É de se pensar...
domingo, 28 de julho de 2013
sexta-feira, 26 de julho de 2013
quinta-feira, 25 de julho de 2013
quinta-feira, 18 de julho de 2013
terça-feira, 16 de julho de 2013
O amor como um fator civilizatório(texto de Freud)
Como a questão da agressividade nas relações interpessoais sempre me incomodou e ainda incomoda, eu selecionei um trecho de um texto de Freud, tirado de O Mal Estar na Civilização.Nele o pensador desenvolve uma linha de pensamento que conclui que o amor é um fator de civilização.Ou seja, não há solução, tanto no individual como no coletivo, senão a afirmação das forças do amor, em contraposição às forças da morte que estão sempre prestes a destruir o que foi formado.Anabolismo e catabolismo, assim se faz a vida.Aquilo que construímos pode ser destruído facilmente por elementos internos e incontroláveis que habitam nosso interior.Um auge de paixão encerra, dentro de si, o próprio fim dessa paixão, a tensão de destruição coabita sempre com a construção.Daí a própria fragilidade da existência.O artista sempre se defronta, em seu esforço, com um estranho sentimento de destruir aquilo que faz, como se um tentáculo do demônio funcionasse como um instrumento de que se vale.O que nos atrai, também nos causa repulsa, repulsa esta criada pela instabilidade criada pela nossa dependência pelo que nos atrai.Nosso narcisismo nos faz continuar vivos mas também nos alenta à morte.O que é o amor senão uma expressão de anulação que controlamos pela vontade?Queremos o nada, o silêncio e o vazio, mesmo quando , desesperadamente, ansiamos e agimos para ter a negação do nada, o ruído, o pleno.Assim, contraditoriamente, no fio da navalha andamos na vida.Tudo é absolutamente frágil, principalmente, as relações afetivas, tanto quanto as coletivas, as quais podem se dissolver como fumaça inapreensível pelos instrumentos racionais das ciências do conhecimento especulativo.
abaixo, o texto:
O Amor como Factor CivilizadorAs provas da psicanálise demonstram que quase toda relação emocional íntima entre duas pessoas que perdura por certo tempo — casamento, amizade, as relações entre pais e filhos — contém um sedimento de sentimentos de aversão e hostilidade, o qual só escapa à percepção em consequência da repressão. Isso acha-se menos disfarçado nas altercações comuns entre sócios comerciais ou nos resmungos de um subordinado em relação ao seu superior. A mesma coisa acontece quando os homens se reúnem em unidades maiores. Cada vez que duas famílias se vinculam por matrimónio, cada uma delas se julga superior ou de melhor nascimento do que a outra. De duas cidades vizinhas, cada uma é a mais ciumenta rival da outra; cada pequeno cantão encara os outros com desprezo. Raças estreitamente aparentadas mantêm-se a certa distância uma da outra: o alemão do sul não pode suportar o alemão setentrional, o inglês lança todo tipo de calúnias sobre o escocês, o espanhol despreza o português. Não ficamos mais espantados que diferenças maiores conduzam a uma repugnância quase insuperável, tal como a que o povo gaulês sente pelo alemão, o ariano pelo semita.
Quando essa hostilidade se dirige contra pessoas que de outra maneira são amadas, descrevemo-la como ambivalência de sentimentos e explicamos o facto, provavelmente de maneira demasiadamente racional, por meio das numerosas ocasiões para conflitos de interesse que surgem precisamente em tais relações mais próximas.
Nas antipatias e aversões indisfarçadas que as pessoas sentem por estranhos com quem têm de tratar, podemos identificar a expressão do amor a si mesmo, do narcisismo. Esse amor a si mesmo trabalha para a preservação do indivíduo e comporta-se como se a ocorrência de qualquer divergência das suas próprias linhas específicas de desenvolvimento envolvesse uma crítica delas e uma exigência da sua alteração. Não sabemos por que tal sensitividade deva dirigir-se exatamente a esses pormenores de diferenciação, mas é inequívoco que, em relação a tudo isso, os homens dão provas de uma presteza a odiar, de uma agressividade cuja fonte é desconhecida, e à qual se fica tentado a atribuir um carácter elementar.
Mas, quando um grupo se forma, a totalidade dessa intolerância desvanece-se, temporária ou permanentemente, dentro do grupo. Enquanto uma formação de grupo persiste ou até onde ela se estende, os indivíduos do grupo comportam-se como se fossem uniformes, toleram as peculiaridades dos seus outros membros, igualam-se a eles e não sentem aversão por eles. Uma tal limitação do narcisismo, de acordo com nossas concepções teóricas, só pode ser produzida por um determinado factor, um laço libidinal com as outras pessoas. O amor por si mesmo só conhece uma barreira: o amor pelos outros, o amor por objectos. Levantar-se-á imediatamente a questão de saber se a comunidade de interesse em si própria, sem qualquer adição de libido, não deve necessariamente conduzir à tolerância das outras pessoas e à consideração para com elas. Essa objeção pode ser enfrentada pela resposta de que, não obstante, nenhuma limitação duradoura do narcisismo é efectuada dessa maneira, visto que essa tolerância não persiste por mais tempo do que o lucro imediato obtido pela colaboração de outras pessoas. Contudo, a importância prática desse debate é menor do que se poderia supor, porque a experiência demonstrou que, nos casos de colaboração, se formam regularmente laços libidinais entre os companheiros de trabalho, laços que prolongam e solidificam a relação entre eles até um ponto além do que é simplesmente lucrativo. A mesma coisa ocorre nas relações sociais dos homens, como se tornou familiar à pesquisa psicanalítica no decurso do desenvolvimento da libido individual. A libido liga-se à satisfação das grandes necessidades vitais e escolhe como seus primeiros objectos as pessoas que têm uma parte nesse processo. E, no desenvolvimento da humanidade como um todo, do mesmo modo que nos indivíduos, só o amor actua como fator civilizador, no sentido de ocasionar a modificação do egoísmo em altruísmo. E isso é verdade tanto quanto ao amor sexual pelas mulheres, com todas as obrigações que envolve de não causar dano às coisas que são caras às mulheres, quanto do amor dessexualizado e sublimado, por outros homens, que se origina do trabalho em comum.
Sigmund Freud, in 'Psicologia das Massas e a Análise do Eu'
abaixo, o texto:
O Amor como Factor CivilizadorAs provas da psicanálise demonstram que quase toda relação emocional íntima entre duas pessoas que perdura por certo tempo — casamento, amizade, as relações entre pais e filhos — contém um sedimento de sentimentos de aversão e hostilidade, o qual só escapa à percepção em consequência da repressão. Isso acha-se menos disfarçado nas altercações comuns entre sócios comerciais ou nos resmungos de um subordinado em relação ao seu superior. A mesma coisa acontece quando os homens se reúnem em unidades maiores. Cada vez que duas famílias se vinculam por matrimónio, cada uma delas se julga superior ou de melhor nascimento do que a outra. De duas cidades vizinhas, cada uma é a mais ciumenta rival da outra; cada pequeno cantão encara os outros com desprezo. Raças estreitamente aparentadas mantêm-se a certa distância uma da outra: o alemão do sul não pode suportar o alemão setentrional, o inglês lança todo tipo de calúnias sobre o escocês, o espanhol despreza o português. Não ficamos mais espantados que diferenças maiores conduzam a uma repugnância quase insuperável, tal como a que o povo gaulês sente pelo alemão, o ariano pelo semita.
Quando essa hostilidade se dirige contra pessoas que de outra maneira são amadas, descrevemo-la como ambivalência de sentimentos e explicamos o facto, provavelmente de maneira demasiadamente racional, por meio das numerosas ocasiões para conflitos de interesse que surgem precisamente em tais relações mais próximas.
Mas, quando um grupo se forma, a totalidade dessa intolerância desvanece-se, temporária ou permanentemente, dentro do grupo. Enquanto uma formação de grupo persiste ou até onde ela se estende, os indivíduos do grupo comportam-se como se fossem uniformes, toleram as peculiaridades dos seus outros membros, igualam-se a eles e não sentem aversão por eles. Uma tal limitação do narcisismo, de acordo com nossas concepções teóricas, só pode ser produzida por um determinado factor, um laço libidinal com as outras pessoas. O amor por si mesmo só conhece uma barreira: o amor pelos outros, o amor por objectos. Levantar-se-á imediatamente a questão de saber se a comunidade de interesse em si própria, sem qualquer adição de libido, não deve necessariamente conduzir à tolerância das outras pessoas e à consideração para com elas. Essa objeção pode ser enfrentada pela resposta de que, não obstante, nenhuma limitação duradoura do narcisismo é efectuada dessa maneira, visto que essa tolerância não persiste por mais tempo do que o lucro imediato obtido pela colaboração de outras pessoas. Contudo, a importância prática desse debate é menor do que se poderia supor, porque a experiência demonstrou que, nos casos de colaboração, se formam regularmente laços libidinais entre os companheiros de trabalho, laços que prolongam e solidificam a relação entre eles até um ponto além do que é simplesmente lucrativo. A mesma coisa ocorre nas relações sociais dos homens, como se tornou familiar à pesquisa psicanalítica no decurso do desenvolvimento da libido individual. A libido liga-se à satisfação das grandes necessidades vitais e escolhe como seus primeiros objectos as pessoas que têm uma parte nesse processo. E, no desenvolvimento da humanidade como um todo, do mesmo modo que nos indivíduos, só o amor actua como fator civilizador, no sentido de ocasionar a modificação do egoísmo em altruísmo. E isso é verdade tanto quanto ao amor sexual pelas mulheres, com todas as obrigações que envolve de não causar dano às coisas que são caras às mulheres, quanto do amor dessexualizado e sublimado, por outros homens, que se origina do trabalho em comum.
Sigmund Freud, in 'Psicologia das Massas e a Análise do Eu'
segunda-feira, 8 de julho de 2013
pessimismo, recusa sexual, vulgaridade
" O pessimismo, verifiquei, é muitas vezes um fenómeno de recusa sexual. É assim,
claramente, o de Leopardi e de Antero. Nesta construção de um sistema sobre os
fenómenos sexuais próprios, não posso esquivar-me a ver qualquer coisa de
implacavelmente grosseiro e vil. Todos os indivíduos grosseiros têm necessidade
da nota sexual; é ela, até, que os distingue. Não podem contar anedotas fora da
sexualidade; não sabem ter espírito fora da sexualidade. Vêem em todos os pares
uma razão sexual de serem pares.
Que tem o sistema do universo com as deficiências sexuais de cada qual? "(Fernando Pessoa)
Céus, que tantas vezes já me flagrei sendo pessimista, tantas vezes fui acusado de pessimista!Meu esforço é maior no sentido de ser um cético, mais do que um otimista.Haveria alguma recusa, nisso também?Pessoa cita Antero de Quental; este sofria de histerias constantes("um mal de mulher num corpo de homem", segundo palavras de um psicólogo famoso, Charcot, que o analisou em Paris), tentou se matar mais de uma vez por amor.Acabou morrendo pelas próprias mãos.Combatia o pessimismo com a prática da esperança socialista.
Como sempre estive incluso na categoria dos que têm dificuldades de fazer ou falar piadas sobre sexualidade, achei interessante esse pensamento de Pessoa.O que me leva a crer que ele reprimia muito de sua própria sexualidade, transformando essa energia instintiva em produção intelectual, criando estruturas simbólicas, viabilizando a abstração.
Desde moleque não me agradava a vulgarização de assuntos sexuais.Com o tempo fui induzido a crer, tanto por leituras como por palpites alheios, que tal coisa era proveniente de mecanismos psíquicos de controle e repressão. Mas, com o passar dos anos, fui forjando opinião própria a respeito do assunto.Hoje não tenho problemas com relação ao enfrentamento da vulgaridade comum do homem comum.Homens fazem muitas piadas sobre sexo, principalmente sobre homossexualismo, coisa que não me causa graça, não produz quase riso algum. Por outro lado, mulheres vulgares ou agindo de forma excessivamente vulgar, fora de um habitat adequado para tal coisa, considero-as desestimulantes.Estranho ,não? Mas uma pitada de vulgaridade sempre cria um interesse.Mais estranho ainda.As prostitutas parecem ser as únicas criaturas para as quais a vulgaridade é tratada de forma artística.Afinal, são profissionais, entendem bem das fantasias e frustrações alheias, conhecem bem coisas desconhecidas ou desprezadas por outras mulheres. Por fim, quem sabe o limite entre o erótico e o pornográfico?
Acho e sempre achei estranha essa fixação por piadas sobre homossexuais.Tenho certeza de que deve funcionar como alívio para algum problema mal resolvido sobre a homossexualidade dos que as fazem. Mas conheço homem que fica transtornado se for vítima de algum assédio de caráter homossexual.Nada estranhável.
A medida certa é sempre difícil.E o erotismo funciona com leis e dinâmicas que se contrapõem à lógica do cotidiano.Para todo mundo, a sexualidade é sempre um abismo.Ficamos tontos, por causa dela, tanto para fora como para dentro.A forma mais fácil de se enlouquecer.Tudo isso, apesar de tanta leitura e meditação, ainda me é muito estranho! Mas me alivia saber que o deve ser para todo mundo.
Sexualidade é sempre assim: como, vivendo em civilização, o ser humano não pode exercê-la em toda sua plenitude e transbordamento instintivo, precisa sublimá-la(termo bem psicanalítico), transformá-la em outra coisa, seja trabalho, criação intelectual, fé religiosa, qualquer coisa que alivie o peso do impulso não bem satisfeito.
Que tem o sistema do universo com as deficiências sexuais de cada qual? "(Fernando Pessoa)
Céus, que tantas vezes já me flagrei sendo pessimista, tantas vezes fui acusado de pessimista!Meu esforço é maior no sentido de ser um cético, mais do que um otimista.Haveria alguma recusa, nisso também?Pessoa cita Antero de Quental; este sofria de histerias constantes("um mal de mulher num corpo de homem", segundo palavras de um psicólogo famoso, Charcot, que o analisou em Paris), tentou se matar mais de uma vez por amor.Acabou morrendo pelas próprias mãos.Combatia o pessimismo com a prática da esperança socialista.
Como sempre estive incluso na categoria dos que têm dificuldades de fazer ou falar piadas sobre sexualidade, achei interessante esse pensamento de Pessoa.O que me leva a crer que ele reprimia muito de sua própria sexualidade, transformando essa energia instintiva em produção intelectual, criando estruturas simbólicas, viabilizando a abstração.
Desde moleque não me agradava a vulgarização de assuntos sexuais.Com o tempo fui induzido a crer, tanto por leituras como por palpites alheios, que tal coisa era proveniente de mecanismos psíquicos de controle e repressão. Mas, com o passar dos anos, fui forjando opinião própria a respeito do assunto.Hoje não tenho problemas com relação ao enfrentamento da vulgaridade comum do homem comum.Homens fazem muitas piadas sobre sexo, principalmente sobre homossexualismo, coisa que não me causa graça, não produz quase riso algum. Por outro lado, mulheres vulgares ou agindo de forma excessivamente vulgar, fora de um habitat adequado para tal coisa, considero-as desestimulantes.Estranho ,não? Mas uma pitada de vulgaridade sempre cria um interesse.Mais estranho ainda.As prostitutas parecem ser as únicas criaturas para as quais a vulgaridade é tratada de forma artística.Afinal, são profissionais, entendem bem das fantasias e frustrações alheias, conhecem bem coisas desconhecidas ou desprezadas por outras mulheres. Por fim, quem sabe o limite entre o erótico e o pornográfico?
Acho e sempre achei estranha essa fixação por piadas sobre homossexuais.Tenho certeza de que deve funcionar como alívio para algum problema mal resolvido sobre a homossexualidade dos que as fazem. Mas conheço homem que fica transtornado se for vítima de algum assédio de caráter homossexual.Nada estranhável.
A medida certa é sempre difícil.E o erotismo funciona com leis e dinâmicas que se contrapõem à lógica do cotidiano.Para todo mundo, a sexualidade é sempre um abismo.Ficamos tontos, por causa dela, tanto para fora como para dentro.A forma mais fácil de se enlouquecer.Tudo isso, apesar de tanta leitura e meditação, ainda me é muito estranho! Mas me alivia saber que o deve ser para todo mundo.
Sexualidade é sempre assim: como, vivendo em civilização, o ser humano não pode exercê-la em toda sua plenitude e transbordamento instintivo, precisa sublimá-la(termo bem psicanalítico), transformá-la em outra coisa, seja trabalho, criação intelectual, fé religiosa, qualquer coisa que alivie o peso do impulso não bem satisfeito.
domingo, 7 de julho de 2013
nota de auto-gnose(7 de julho)
Não consigo mesmo deixar de ser severo comigo mesmo.Mais ainda do que com outros, as expectativas em mim frustradas pelos projetos depositados por minha pessoa em minha trajetória nesta porca vida, lançaram-me na sensação absurda de não me reconhecer enquanto uma estratégia de emoções.Elas restaram e se desenvolveram, desde os primórdios infantis, até chegarem nesse ponto de estrangulamento em que se desdobram entre o ódio ressentido e o amor partido.Por que esperar tanto dos outros se a mim mesmo tenho decepcionado com tanta covardia? Sei, a severidade, esse exercício solícito de severidade, poupa-me das recriminações céticas de sempre.Por outro lado, esse patético cotidiano envolto em sonhos e ilusões me transformaram num personagem criado para mim mesmo, personagem esse forjado de profundo ridículo.Sou um homem ridículo, não tanto quanto à presunção, mas muito com respeito a toda emoção. Apesar do esforço, num me livrarei dos sentimentalismos fáceis e da justificativa vã de sua substância ética ou filosófica.Uma reles tolice auto-crítica.
Procurar um resto de pureza pode parecer exercício nobre; contudo, visto o que me cerca, tenho certeza de ser o patético tom mais adequado para dimensionar minhas atitudes gerais.Que fazer: a vontade sempre foi maior que os predicados.E , quanto a esses últimos, afundei-me na busca de excelência de coisas além de meus limites.Sinto-me, a partir daí, como uma nulidade que se absorve na busca de um cheio inexistente, projetando em tudo ao meu redor a áurea de sonho.
Dormir, desta forma, sonhar, essas coisas me dão sentido por serem atividades sem sentido prático, desdobrando-se na falta de sentido desse vertigem interior em que afundo de várias maneiras, valendo-me ou não de métodos artificiais.Um longo torpor de tempo desvanecido faz-me crer em missão cumprida no descumprimento de todos os valores mais significativos que antes deixava para a vida, deixava para meu livre arbítrio, sempre liderado por uma camada de esperança da qual nunca me desvinculo, nunca, talvez, me desvincularei.Sou condenado a uma esperança que o tempo esgota por falta de ar de ocorrências significativas, jogando em cima de idealismos estético-amorosos um peso de responsabilidade de difícil resolução.Uma forma patética de julgar-se herói à revelia dos fatos.E daí?Sou humano, como qualquer um.
Procurar um resto de pureza pode parecer exercício nobre; contudo, visto o que me cerca, tenho certeza de ser o patético tom mais adequado para dimensionar minhas atitudes gerais.Que fazer: a vontade sempre foi maior que os predicados.E , quanto a esses últimos, afundei-me na busca de excelência de coisas além de meus limites.Sinto-me, a partir daí, como uma nulidade que se absorve na busca de um cheio inexistente, projetando em tudo ao meu redor a áurea de sonho.
Dormir, desta forma, sonhar, essas coisas me dão sentido por serem atividades sem sentido prático, desdobrando-se na falta de sentido desse vertigem interior em que afundo de várias maneiras, valendo-me ou não de métodos artificiais.Um longo torpor de tempo desvanecido faz-me crer em missão cumprida no descumprimento de todos os valores mais significativos que antes deixava para a vida, deixava para meu livre arbítrio, sempre liderado por uma camada de esperança da qual nunca me desvinculo, nunca, talvez, me desvincularei.Sou condenado a uma esperança que o tempo esgota por falta de ar de ocorrências significativas, jogando em cima de idealismos estético-amorosos um peso de responsabilidade de difícil resolução.Uma forma patética de julgar-se herói à revelia dos fatos.E daí?Sou humano, como qualquer um.
sábado, 6 de julho de 2013
Um sorriso vale uma noite
Um
tanto desenxabido, peço uma cerveja, a madrugada meio fria lá fora.Uma ou outra
discussão; houve confusão e briga, agitação de reivindicação, passeata,
bomba.Hoje, outro dia, outra madrugada em que me encontro com os próprios
botões, devidamente perfilados pela indiferença da luz lunar.A noite, seus
tipos de noite, roupas de noite, figuras marcadas do exótico ao sereno, do
furioso ao delicado, os tipos da noite embalados por nuvens de cigarro e bafio
de álcool.E eu, mais uma criatura do orquideário noctívago; eu, de tantas horas
de pouco sono - sabe lá a hora em que ele me abandonará de vez, ou eu me
abandonarei em sonho maior além do próprio estranho sonho da vida -, apenas no
desprendido olhar contemplativo da noite, suas criaturas e os ruídos de abafada
estridência que ecoam por ela.E há as conversas, os homens e suas conversas, os
homens em suas mentiras de reis por instante , as mulheres em suas poses
extemporâneas de princesa por um instante.A vida sempre se fazendo de instantes
que se perdem na instância de todas as coisas.
No
canto do balcão, converso um pouco com a moça que me serve.Súbito, um leve
fastio de tudo, do momento, daquele momento e do momento de tudo do mundo,
invade um pouco o que sobra da alma além da borda do copo.Poderia, penso eu,
acabar-me nesse silêncio contemplativo de nada, do nada que se faz a partir do
oco da noite, do oco do alarido do bar, as pessoas correndo de um lado para o
outro, silhuetas femininas espraiadas do oriente ao ocidente daquele
microcosmo, aquele bar como uma minúscula ameba no organismo do mundo,aquela
luz melancólica que tolda a superfície de todas as coisas e seres de um bar,
uma luz baça como se um verde estranho se acasalasse com tons vermelhos num
cinzento de bruma invisível.A escuridão de fora solidarizada com a de dentro;
que sou aqui, agora, que nada mais que aquele solitário de sempre com que teimo
em solidarizar todo dia, ao despertar de uma labuta que, como toda labuta,
precisa de muita imaginação para ter sentido?Bem, pelo menos, ao retornar,
encontrarei em algum momento o que sobra da imaginação, do sonho de auscultar
algo além da escuridão dessa noite que já passou, na grande noite do cosmo que
me envolve e que continuará além de quando dele eu me for.
Voltarei para casa como sempre, um pouco torporizado pelo vazio de
conversas vazias e de copos esvaziados para encher um pouco mais a alma drenada
por não sei o quê.Assim decorre a noite,
e os dias que se fazem noite, essa realidade que faz a abstração do dia pelos
reflexos da luz do sol.Ganhei e perdi tempo nisso, deveria fazer um saldo que,
por enquanto, me parece um tanto negativo.Nada de novo no front. Pelo menos,
penso, matei um pouco de tempo até tentar fazer as pazes com Morfeu, esse
agiota de meus sentidos desguarnecidos.Uma última cachimbada, e me perder no
traçado de ida ao lar, no rastro desse fumo que lanço ao ar.Estranho me sentir
meio besta, no meio de todas essas coisas bestas.Mas não é vazio, nem náusea ,
nada de abstração filosófica, nenhuma mentalização de misteriosa metafísica
retiradas dos alfarrábios do cérebro.Não passa de simples sensação de
solidão.Somos sempre solitários, mesmo quando não nos imaginamos solitários.
Perdi eu, perdi-me em mim, perdeu-me a noite ou, simplesmente, perdi a
noite?Ah, contabilizar o saldo, contabilizar o saldo...Positivo?Negativo?
Encosto no balcão, à espera de um novo trago que possa me tragar a outra
dimensão diversa desta daqui quando, ao lado, uma moça me lança um leve e
descompromissado sorriso.Um breve momento de sol na secura fria da noite.Em
seguida parte e leva consigo toda uma
imensidade de universo possível e impossível , o qual já se me escapou por entre as mãos.E assim
vai, ela e o calor de seu sorriso que, por instantes, dissolveu a crosta gelada
do coração.Um silêncio estranho então se apossa de mim, em meio à fuzarca
reinante, inebriado ainda com a alvura de seus dentes, as garras da noite em volta, o brilho suave de seu
olhar que jamais retornará aos meus.Vai-se para nunca mais.E a noite foi salva
por causa disso.A noite é simplesmente sempre um sorriso que se perde sem nunca
ter sido pedido.
quarta-feira, 3 de julho de 2013
Pessimismo e juventude: perigosa combinação
Então conversava com meu sobrinho sobre algumas questões políticas envolvendo nossa atualidade quando, sem perceber , acabei repetindo uma frase que ouvi de uma pessoa mais velha há muitas décadas atrás(ôpa!Denunciando a idade com isso...), numa outra distante conversa onde espelhava meu pessimismo juvenil.Sim, eu era um jovem bem pessimista, antes de meu engajamento político; com frequência passava por momentos de pessimismo, creio que muito influenciado por leitura de pensadores pessimistas.
A uma certa altura ele levantava o fato de que talvez nada mude mesmo, que o momento apenas se desperdiça em protesto e no final todos tendem à acomodação.Eu atalhava que talvez as coisas não mudem de forma tão acentuada assim, mas devemos ter sempre em vista progressos alcançados.Sempre que depositamos muitas expectativas em eventos ou pessoas, sem relativizar a situação ou os fatores envolvidos, corremos risco de grande decepção.Algo bem natural, por sinal.
Um temperamento romântico tende a ser pessimista.Falo do romantismo autêntico que é fatalista.Em política, o romantismo pode levar ao trágico com facilidade por criar situações de procedimento afoito.Em amores, só não dá tragédia ou muita tristeza se houver resignação com a impossibilidade de felicidade.Mas , afinal, o que é felicidade? Seria levar uma vida com pouco sofrimento?Em política, a felicidade talvez se resolvesse com a preponderância do mal menor sobre o mal maior.Mas tudo isso é meio pobre, não? Um espírito sequioso pelo mais radical, pelas paragens mais altas nos espaços mais difíceis, com maior risco, esse tipo de espírito não aceita as coisas e o marasmo tão facilmente.
A frase de Nelson Rodrigues ,"jovens,envelheçam!", consigo entender dela o significado, mas considero que deve ser relativizada.Principalmente porque foi lançada por pessoa velha.Ah, a tal sabedoria da velhice!Procuro com lupa e custo a achar; mais fácil achar a acomodação e a frustração nessa fase da vida, mesmo a olho nu.E então os que dizem : apenas espero da vida uma boa morte.Bem, uma parte da pessoa que disse isso já foi mesmo para o beleléu, para o reino da velha senhora de foice.Já adentrou a burocracia da fatalidade, a mesmice do dia a dia sem alma ou coração.
Claro que a juventude inspira mais crença em sonhos.Quanto mais o tempo passa, mais os sonhos parecem ser construídos com alicerces de vento.
Lasquei a seguinte frase para cima de meu sobrinho: mas se você não acredita em que se possa construir nada daqui para a frente, então se prepare para, daqui a uns vinte anos, muito desconsolo e desalento; daqui a uns vinte anos já estou morto; o mundo será de vocês, não meu.Aliás, o mundo nunca foi meu, eu sim é que fui dele.
Quem me disse aquele pensamento repetido por mim já morreu.Essa pessoa me dizia que talvez cada pequena vitória, seja na vida política, nas coisas do mundo , da história ou no plano individual, já conta muito.A frase latina "natura nunc facit saltum" (a natureza nunca dá saltos), sei lá se não esconde algum comodismo. Muito usada por pensadores e filósofos, além de cientistas, não funciona, por exemplo, para a Mecânica Quântica.Para algumas coisas funciona, para outras não.
Com vinte anos via e sentia o mundo de uma forma absurdamente diferente de quando tinha vinte e três.Era mais pessimista quando mais jovem, estranhamente. Mas estou longe de sofrer do complexo de "poliana", de ser um Cândido enrustido.Ainda que muita coisa conspire a favor do pessimismo, acho-o tão nocivo quanto o excesso de otimismo.Todos vamos morrer mesmo, a vida é curta, ainda que nos pareça tão longa.Então não nos resta nada senão cultivar um pouco de esperança.Mesmo que tudo conte contra.Talvez o sentido de tudo não seja nada mais nada menos que a abstenção pela busca do sentido e a insistência na luta.Por tudo, seja na política,no amor ou nos sonhos.Salvar o sonho ou, pelo menos, lutar pela sua sobrevivência.Difícil mas inevitável.
O pessimismo na juventude só rende frutos se render versos ou arte.Senão, apenas cultiva o solo para o rancor da vida que nunca nos livrará do peso da morte.Afinal, viver em civilização implica em certo desconforto ou tristeza; mas também não dá para viver sem ela ,civilização, sem ela ,tristeza.Esta faz parte da matéria bruta de nossas ações.
Triste sim, às vezes ou frequentemente; esperançoso sempre.A gente briga contra a gente mesmo e contra o resto do mundo; briga para continuar vivo.Êta bicho teimoso, esse tal de ser humano...
A uma certa altura ele levantava o fato de que talvez nada mude mesmo, que o momento apenas se desperdiça em protesto e no final todos tendem à acomodação.Eu atalhava que talvez as coisas não mudem de forma tão acentuada assim, mas devemos ter sempre em vista progressos alcançados.Sempre que depositamos muitas expectativas em eventos ou pessoas, sem relativizar a situação ou os fatores envolvidos, corremos risco de grande decepção.Algo bem natural, por sinal.
Um temperamento romântico tende a ser pessimista.Falo do romantismo autêntico que é fatalista.Em política, o romantismo pode levar ao trágico com facilidade por criar situações de procedimento afoito.Em amores, só não dá tragédia ou muita tristeza se houver resignação com a impossibilidade de felicidade.Mas , afinal, o que é felicidade? Seria levar uma vida com pouco sofrimento?Em política, a felicidade talvez se resolvesse com a preponderância do mal menor sobre o mal maior.Mas tudo isso é meio pobre, não? Um espírito sequioso pelo mais radical, pelas paragens mais altas nos espaços mais difíceis, com maior risco, esse tipo de espírito não aceita as coisas e o marasmo tão facilmente.
A frase de Nelson Rodrigues ,"jovens,envelheçam!", consigo entender dela o significado, mas considero que deve ser relativizada.Principalmente porque foi lançada por pessoa velha.Ah, a tal sabedoria da velhice!Procuro com lupa e custo a achar; mais fácil achar a acomodação e a frustração nessa fase da vida, mesmo a olho nu.E então os que dizem : apenas espero da vida uma boa morte.Bem, uma parte da pessoa que disse isso já foi mesmo para o beleléu, para o reino da velha senhora de foice.Já adentrou a burocracia da fatalidade, a mesmice do dia a dia sem alma ou coração.
Claro que a juventude inspira mais crença em sonhos.Quanto mais o tempo passa, mais os sonhos parecem ser construídos com alicerces de vento.
Lasquei a seguinte frase para cima de meu sobrinho: mas se você não acredita em que se possa construir nada daqui para a frente, então se prepare para, daqui a uns vinte anos, muito desconsolo e desalento; daqui a uns vinte anos já estou morto; o mundo será de vocês, não meu.Aliás, o mundo nunca foi meu, eu sim é que fui dele.
Quem me disse aquele pensamento repetido por mim já morreu.Essa pessoa me dizia que talvez cada pequena vitória, seja na vida política, nas coisas do mundo , da história ou no plano individual, já conta muito.A frase latina "natura nunc facit saltum" (a natureza nunca dá saltos), sei lá se não esconde algum comodismo. Muito usada por pensadores e filósofos, além de cientistas, não funciona, por exemplo, para a Mecânica Quântica.Para algumas coisas funciona, para outras não.
Com vinte anos via e sentia o mundo de uma forma absurdamente diferente de quando tinha vinte e três.Era mais pessimista quando mais jovem, estranhamente. Mas estou longe de sofrer do complexo de "poliana", de ser um Cândido enrustido.Ainda que muita coisa conspire a favor do pessimismo, acho-o tão nocivo quanto o excesso de otimismo.Todos vamos morrer mesmo, a vida é curta, ainda que nos pareça tão longa.Então não nos resta nada senão cultivar um pouco de esperança.Mesmo que tudo conte contra.Talvez o sentido de tudo não seja nada mais nada menos que a abstenção pela busca do sentido e a insistência na luta.Por tudo, seja na política,no amor ou nos sonhos.Salvar o sonho ou, pelo menos, lutar pela sua sobrevivência.Difícil mas inevitável.
O pessimismo na juventude só rende frutos se render versos ou arte.Senão, apenas cultiva o solo para o rancor da vida que nunca nos livrará do peso da morte.Afinal, viver em civilização implica em certo desconforto ou tristeza; mas também não dá para viver sem ela ,civilização, sem ela ,tristeza.Esta faz parte da matéria bruta de nossas ações.
Triste sim, às vezes ou frequentemente; esperançoso sempre.A gente briga contra a gente mesmo e contra o resto do mundo; briga para continuar vivo.Êta bicho teimoso, esse tal de ser humano...
Tem-se o que se pode(poema)
Tem-se o que se pode
Posso olhar as árvores, mas nunca as terei.
Tenho-as em meus olhos, sempre as sonhei.
Falo delas como de belas mulheres floreando no
mundo
Louvá-las
todas me resta, no mistério delas me infundo.
Vejo suas copas floridas, os galhos arqueados
em flor
Mas são árvores, comigo não falam nunca - ah,
que dor!
Falassem comigo e não seriam árvores, outra
coisa sim
basta-me o olhá-las, a mim um segredo de
marfim.
E as belas mulheres que olho e venero, não
insisto
basta-me vê-las , observá-las, fingir que
existo.
Porque nesta vida nada se tem, seja árvore,
seja mulher
senão sua beleza ,seja da forma ou jeito que vier.
terça-feira, 2 de julho de 2013
O amor é como uma bruma
E se o amor for, tal como vi tantas vezes em imagens poéticas, como uma bruma?Uma bruma que se desfaz com os primeiros raios de sol que a atingem.Frágil, diáfano, inapreensível, essência volátil da transitoriedade de todas as coisas, de todas as brumas,imagens de brumas, todas as inespecificidades aquosas de todas as névoas em que nos mergulhamos e delas saímoas sem tocá-las, sem que sua aérea imparmaência se mantenha dentro de nós.Será isso o amor?Uma névoa , uma bruma por onde passamos mergulhados por momentos no véu gasoso que nos inebria, ao mesmo tempo aflitos, uma estranha sensação de sufocamento, a visão turva, a esperança de encontrar algo seguro por trás dos vultos que emergem do seio da branquitude? E se a própria matéria nevoenta for ilusão, projeção de devaneios criados por outras brumas ocultas, vaporosamente passeando por nosso sangue e nossos nervos?
Perdidos, sem norte ou sul, sem farol de neblina a esclarecer o caminho, nosso coração nunca tem um radar adequado, nosso sonar mental não funciona para certos meios gasosos de sentimentos.Seria então, na perdição dessa bruma que se desfaz tão fácil, como um sopro caprichoso da meteorologia do acaso de nossas vontades, seria na absoluta incopreensão do que se faz no vazio branco a nos toldar a visão, seria por aí o destino nosso?Caminhar em meio a brumas, esperando que o sol venha e nos ilumine a razão e...depois, depois,depois.Depois o quê, após o sol?Ele trará mesmo a luz por trás da névoa?Na esperança de outra cegueira por nova bruma, quem sabe.Quanto tempo mais até a próxima, quanto durará?Nunca se sabe.Assim é, assim somos: vocacionados aos silêncios brancos das atemporalidades das brumas, das cegueiras brancas das brumas.
Nas brumas, onde não vemos as estrelas - onde o céu, onde o brilho delas no alto? -, onde se respira e se sufoca o mesmo e todo branco de tudo, como um nirvânico firmamento onde podemos sonhar uma paz branca, leve e frágil como a própria matéria brumosa, facilmente desfeita pelo calor do sol da razão ou do cotidiano.Na bruma, nunca a visão, apenas o aroma esbranquiçado roçando nossos olhos e nossa pele, a umidade envolvendo esta como um tecido de desejo perdido.
Sim, o amor é como uma bruma.Algumas duram mais, outras menos.Talvez algumas partam mas voltem, atravessando oceanos de incertezas e mares afoitos, retornem a nós com pássaros delicados perdidos em suas entranhas brancas, naus desgovernadas guiadas por almas aflitas, dores flutuando em sargaços, restos de naufrágios que ocorreram em outros recintos brumosos.Restos de restos nossos, quem sabe.Talvez essas brumas sejam um pouco do que chamamos arte, uma bruma mais consistente, cheia de matéria densa e colorida flutando em meio ao vento capilarizado pelos caprichos do branco brumoso.
Onde estão as brumas do mundo? Que o que quero mais é a cegueira do branco, que o turvo e preciso da vida me arde aos olhos; o silêncio do branco é o ruído maior que nenhum oceano ou vulcão comportaria.Quero fugir da secura dos desertos, minha alma já oscila muito entre eles, entre o frio gelado da noite e o calor infernal do dia.
Sei que o sol virá, a bruma irá findar.Tudo finda, nessa vida que a todos nós nos parece infinda.Pudesse eu me desfazer como bruma que se desfaz sob o peso do sol, da vida porejando pelo calor e a luz deste sol.Que a bruma desfeita é outra forma de luz; perde-se no céu de verdades imprecisas, reflete e refaz aquela luz do sol que a matou, a ela, bruma, vaporosamente esbranquiçada na etérea matéria porejante do ar e do próprio amor que sempre foi e será nada mais que uma bruma que não se enxerga, não se toca ou cheira, mas sempre se sonha.
Perdidos, sem norte ou sul, sem farol de neblina a esclarecer o caminho, nosso coração nunca tem um radar adequado, nosso sonar mental não funciona para certos meios gasosos de sentimentos.Seria então, na perdição dessa bruma que se desfaz tão fácil, como um sopro caprichoso da meteorologia do acaso de nossas vontades, seria na absoluta incopreensão do que se faz no vazio branco a nos toldar a visão, seria por aí o destino nosso?Caminhar em meio a brumas, esperando que o sol venha e nos ilumine a razão e...depois, depois,depois.Depois o quê, após o sol?Ele trará mesmo a luz por trás da névoa?Na esperança de outra cegueira por nova bruma, quem sabe.Quanto tempo mais até a próxima, quanto durará?Nunca se sabe.Assim é, assim somos: vocacionados aos silêncios brancos das atemporalidades das brumas, das cegueiras brancas das brumas.
Nas brumas, onde não vemos as estrelas - onde o céu, onde o brilho delas no alto? -, onde se respira e se sufoca o mesmo e todo branco de tudo, como um nirvânico firmamento onde podemos sonhar uma paz branca, leve e frágil como a própria matéria brumosa, facilmente desfeita pelo calor do sol da razão ou do cotidiano.Na bruma, nunca a visão, apenas o aroma esbranquiçado roçando nossos olhos e nossa pele, a umidade envolvendo esta como um tecido de desejo perdido.
Sim, o amor é como uma bruma.Algumas duram mais, outras menos.Talvez algumas partam mas voltem, atravessando oceanos de incertezas e mares afoitos, retornem a nós com pássaros delicados perdidos em suas entranhas brancas, naus desgovernadas guiadas por almas aflitas, dores flutuando em sargaços, restos de naufrágios que ocorreram em outros recintos brumosos.Restos de restos nossos, quem sabe.Talvez essas brumas sejam um pouco do que chamamos arte, uma bruma mais consistente, cheia de matéria densa e colorida flutando em meio ao vento capilarizado pelos caprichos do branco brumoso.
Onde estão as brumas do mundo? Que o que quero mais é a cegueira do branco, que o turvo e preciso da vida me arde aos olhos; o silêncio do branco é o ruído maior que nenhum oceano ou vulcão comportaria.Quero fugir da secura dos desertos, minha alma já oscila muito entre eles, entre o frio gelado da noite e o calor infernal do dia.
Sei que o sol virá, a bruma irá findar.Tudo finda, nessa vida que a todos nós nos parece infinda.Pudesse eu me desfazer como bruma que se desfaz sob o peso do sol, da vida porejando pelo calor e a luz deste sol.Que a bruma desfeita é outra forma de luz; perde-se no céu de verdades imprecisas, reflete e refaz aquela luz do sol que a matou, a ela, bruma, vaporosamente esbranquiçada na etérea matéria porejante do ar e do próprio amor que sempre foi e será nada mais que uma bruma que não se enxerga, não se toca ou cheira, mas sempre se sonha.
segunda-feira, 1 de julho de 2013
pensamentos de junho(ano 2013)
É, acho que o Pessoa tinha razão: a vida ou
não presta , ou é insuficiente; daí haver arte.Poderia acrescentar: arte ruim
em massa, para sensibilidades arruinadas em massa pelo sentido de massa.Mas
isto é significativo da condição humana, a qual só escapa do sofrimento pelo
trabalho(argh!), pela ilusão ou pela intoxicação.Seria a tal bebida, poesia ou
virtude do poema de Baudelaire?
Excesso de expectativa acalenta desilusão; falta
total de expectativa mortificação.
Para bom pessimista, meia tragédia basta.
O problema do pessimista é levar a vida a
sério demais; ainda que, em demasia, a vida seja mesmo um caso sério.
Os filmes de zumbis são a auto-crítica
cinematográfica do mundo moderno?Um aspecto em que o mundo moderno continua
como o antigo?
Fascínio pelo velho, o velho fascínio pela
ausência do fascinante?
Toda violência reprimida acaba sendo vomitada
ou dejetada por algum organismo excretor da consciência.
Às vezes me pergunto se não vivo algum tipo de
evasão imaginária criando um mundo imaginário, onde não passo de um ser
imaginário de minha imaginação.Fico imaginando isso...
A pergunta que não quer calar é sempre algo
que, em algum momento, já nos calou.
Pensamento sobre o nosso maio que veio em
junho:
Podemos até transformar a utopia numa
distopia, mas nunca acabar com a lei da entropia.As leis da história – se é que
as há – para nós são mais enigmáticas que as próprias leis da natureza, essas
por nós apenas resvaladas pelo
conhecimento.Tentamos avaliar fenômenos espontâneos com o mesmo
determinismo com que julgamos um
fenômeno sub-atômico com recursos apenas da mecânica newtoniana, esquecendo os
pressupostos da mecânica quântica.Por isso, a falta de reflexão na ação
política é como a falta de projeto de um partido: dá em nada.Mas há a situação
do partido que quer que tudo fique mesmo no nada, assim como há aquele para o
qual é o tudo ou nada.E assim ficamos nadando na nadificação.
Saio da
servidão das companhias e entro para o claustro de meu reinado, meu quarto, meu
reino e mundo.O mundo lá fora explodindo, abro a janela estranha que é o
computador.Tudo corre e arrepia, serpenteando de desejo a minha inércia.Então,
pouco me basta este silêncio em que me julgo rei e lá me jogo, aos portões
sombrios da realidade. Sinto-me solitário no mundo, mas o mundo corre lá fora
em sua solidão maior em meio ao cosmo gigantesco. Posso sonhar ser o senhor do
castelo mas ainda sou servo.Exatamente, não sei de quê....
A
bela noite tem uma lua ornamentando de pérola a indescritível massa de carne
humana, não consegue abafar os gritos.Multidão
e gente, juventude iridescente em hormônios e insatisfação, essa carne e alma
que fazem dela própria juventude. Nunca se sabe exatamente onde se vai, ninguém
sabe exceto os poderosos em sua arrogância de pretensa imortalidade,seja lá em
multidão ou solidão, na multidão em que somos sempre solidão acompanhada.Tanto
faz: de riso e ruído, grito e revolta, sonho e ilusão também se faz a
vida.Ainda que multidão possa rimar com ilusão, nada de mal ao se ver o irreal
desmanchado no ar.Nossa vida pode mudar por uma simples casca de banana que nos
colhe em desaviso, o que se pode dizer de asneira de político em sobreaviso?Tudo
pode ser um castelo de cartas, ainda que haja sempre a tentativa de engessar e
colar essas cartas.
E
corro para multidão que hoje me recebe, amanhã me rejeita,assim sempre são as
coisas nesse mundo em que sempre somos um outro entre outros, uma solidão que
sempre mergulha na multidão; e corre lá o mar de gente, um conluio
erótico-ilusório de corpos e mentes numa busca de algo além das
palavras.Simples, algo como a vida, uma ação e reação constante, como uma
grande ameba que se tornou autônoma de tudo e voou aos céu como astronauta.Porque
não? Até amebas sonham.E tantos nos tratam como amebas...Sem sonhos, lógico.
E que
essa multidão seja uma ilusão em que mergulho, pouco me importo, no curto espaço que pode existir entre esse
momento e a morte, essa grande democracia do tudo que acaba de vez com os
absurdos que os homens criam para si. A multidão que reina em mim me transforma
no rei da multidão.E viro vassalo da alegria.E que seja mesmo um sonho, sem
problema: talvez tudo nessa vida não passe de um sonho rumando ao grande sonho
indescritível que se sonha maior que tudo.E nisso todos nós somos, tenhamos
talento e treinamento ou não, artistas: temos dever de salvar nosso sonho.Salvar
o sonho da ilusão de realidade que empedra nossa alma.O resto não passa de pura
morte.
E
quando voltar de alma lavada, às plagas solitárias do reino em que me imagino
me encontrar, tolo que sou por sonhar em
me encontrar,quem sabe sinta os sonhos meus dentro do grande sonho do mundo,
essa grande ameba que encerra a luta da vida contra a morte, ao movimento
amoroso de uma eterna multidão.
Ditados latinos são bonitos como forma de
citação mas, com frequência, encerram dentro de si erros e falseamentos da
realidade.Um exemplo é um , frequentemente citado, que diz que a natureza nunca
dá saltos.Isto funciona para certas margens de nossos universo sensível, como
no caso de biologia ou história natural, mecânica newtoniana; não funciona para
física quântica, senão não usaríamos telefones celulares ou lâmpadas
fluorescentes ou de led.A explicação é complexa.Mesmo no caso de pessoas,
muitas não dão saltos mas também não passam por transformações contínuas; não
crescem, apenas fenecem.Aliás, como muitas espécies vegetais, muita vida
"vegetativa" só difere da morte por certo acaso circunstancial.
Mas,
afinal, o que é a realidade? E o que é concretamente real nas relações humanas,
no discurso que enviesa as coisas e não define a precisão, apenas imprecisa os
fatos e os sentimentos?Difícil saber, já que não temos laboratório para isso,
instrumento matemático que quantize os afetos, os impulsos, as irracionalidades
que produzem a energia de nossas atitudes, do trabalho ao sexo, do amor ao
ódio, todas essas coisas construídas por trás de tecidos ilusórios de
convenções sociais. Construções mentais.O homem é fruto de uma abstração que
cria para si mesmo, daí quem sabe, a busca desesperada pelo que é incorporal,
seja usando a ilusão, o sonho, a intoxicação, a sensação perene da morte da
alma e um fingimento de uma não existência dela.
Não
vemos coisas como o elétron, fóton, essas partículas malucas, sejam elas de
Deus ou do Diabo, que os físicos tentam esmiuçar em misteriosas e complexas
pesquisas.Todos lidam apenas com as emanações das mesmas, com os traços de
energia que elas deixam no espaço. O espaço que é decorrência de um tempo não
mais medido em intervalos mas sim em espacializações incorpóreas.O sentido convencional de matéria
foi para o espaço.O que ocorre nessa
relação entre ciência e realidade pesquisada, também ocorre no dia a dia, no
trato com as pessoas, entre as pessoas.As emanações intercambiam-se, não os
centros de irradiação dessas emanações( entenda-se: dimensão inconsciente dos
seres ou de sua coletividade).No final, temos os efeitos dos processos, os
quais são sempre imprevisíveis.Ainda que, dentro de um laboratório ou de um
atelier, apesar de toda indeterminação envolvida, posso ter mais controle da
situação do que frente à indeterminação que envolve relacionamentos
humanos.Esta só diminui se for envolvida em regras estritas, em restrições, em
suma, em castrações assumidas que venham a podar o inesgotável egoísmo das
partes.Assim é que é, assim é que foi; assim até quando será? Temos margens
estreitadas dentro de nossas intencionalidades.O que sou , o que somos, tudo
pode ser apenas projeção num espelho de nossa consciência adaptada às relações
interpessoais.Construir a casa até que é fácil, difícil mesmo é colocar as
pessoas lá dentro convivendo.Por isso há os que buscam refúgio em laboratórios,
ateliers, palavras,etc,etc,etc.Mais fácil de lidar.
A fama é como o vento: passa e não traz
nenhuma resposta; desfaz-se como o próprio vento, este que pouco sabemos de
onde surgiu nem onde vai acabar.
Fato estranho é que todas, absolutamente todas
as pessoas são diferenciadas; em suma, são diversidades que têm dificuldade em
manter a unidade, apesar de todas as pessoas serem feitas da mesma matéria. Mas
não dos mesmos sonhos ou objetivos, já que não nos moldamos apenas às
necessidades dos instintos.Mais fácil conseguir unidade organizando
notas(sons), cores(luz) ou palavras(simbolos), para se conseguir uma
unidade.Apesar de, assim como ocorre entre as pessoas, as combinações dessas
coisas ainda continue um mistério.Mas essas coisas só funcionam em conjunto, como
a humanidade.Atualmente, ainda vivemos em estilo Quadrado Branco sobre Fundo
Branco de Malevich. A humanidade tem um bom chassi , uma boa tela e boa
moldura; só não conseguiu ainda fazer a pintura.
Temos que cair na real e
colocar de lado o conceito antigo de "homem cordial", usado no
passado em referência ao brasileiro.Nossa sociedade é mais urbanizada, o país é
mais capitalista do que nos anos vinte ou trinta do século passado, trazendo
com isso todas as neuroses e violências urbanas e modernas.Nossa sociedade é
tão violenta quanto qualquer outra por aí; não é porque é mais fácil se
arrancar um sorriso do rosto por essas bandas, porque diz-se que somos mais
"descontraídos", que devemos desconsiderar a violência que pode
pairar em todos os estratos sociais.Acrescente-se a isso uma dose de
irracionalidade meio anárquica e , pronto, está feito o cenário para uma grande
"bi-polaridade" nacional, indo da euforia à depressão, da soberba à
auto-depreciação em segundos. Confesso que isto me assusta, assim como o baixo
nível médio cultural e educacional das grandes massas; setores
"formadores" de opinião que pouco formam e são alienados, um certo
ressentimento "fascistóide" disseminado por aí - podendo facilmente
ser alavancado por uma ciclotimia emocional coletiva -, uma maneira inercial de
comportamento que se torna muito perigosa numa nação com tanta gente .O que
acontece na seara política, isso não dá para desvincular do resto do tecido
social e cultural do país.Até onde a "gente vai levando"? Mas, enfim,
já houve épocas piores no passado...
Todo dia acordo como quem vai para uma
batalha.Na verdade, quem sabe a guerra real fosse assim; em parte, uma
monotonia cercada de cotidiano de incertezas. De onde vim, nessa face estranha
da vida que é o sono – uma sombra da morte, talvez? -, para onde vou, depois de
escovar os dentes e estabelecer uma rota(?) para os afazeres, isso é sempre um
projeto indefinido.Posso pensar que defini algo, quando a definição, em si
mesma, foi a indefinição de uma outra parte minha que se definia pelo
alheamento confuso dos sentimentos e da razão construída por estratégias por
mim não concebidas, a não ser pelo acaso que nos rege.Mas isso tudo é confusão
indefinida, uma fusão com a própria vida.
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