quinta-feira, 5 de setembro de 2013

À desejada anônima

Como estou irritado ou desanimado, um tanto preenchido por um oco de ser um avesso de um outro ser que sou, procuro ao redor alguma coisa.Tivesse eu alguma motivação externa e me dirigiria como tábula rasa de salvação.Mas só nos salvamos quando nos encontramos.
    Certamente, tudo que não for sentimento é morte e, quando não estamos amando alguma coisa ou alguém, só podemos esperar pelo entorno da morte a nos envolver.
    Poderia sonhar com a felicidade, palavras caindo suavemente sobre meu colo como pétalas de flores numa tarde de primavera, poderia imaginar-te bela e livre, nua ou vestida, em terra ou flutuando no espaço, meus pensamentos a ti voltados, minhas mãos ansiosas por te tocar.Mas como em verdade não existes, quedo-me no silêncio da frustração, a imagem de todos os desejos e ânsias por ti velados e debruados em desesperança.Não existes, eu te querendo como uma projeção de futuro, além do cotidiano de margens escuras que me cercam, a velha senhoria da morada eterna me acenando um refúgio de paz.Tu não és nem uma , nem muitas,  nem todas, tu não passas da praia deserta que jamais alcançarei, naufragado que serei na busca incessante de teus olhos, teu sorriso, a  languidez de tua carne estendida do nascente ao poente de minha epiderme vertida em sangue,Redentora da minha alma esvaída em si mesma, na trânsfuga hesitação entre o silêncio e a sombra em que nos construímos, por instantes, quem sabe anos, milênios, te sonhei como algo além das desinências dos anjos, víscera demoníaca que me envolveu em calor de sonho.Sonhei-te como algo a me arrancar do que sou, para em mim mesmo retornar ao todo em que sou e me roubo de mim mesmo, narcisismo aceso de tolice masculina, a esperança solícita que a vaidade pruriginosa do dia a dia desconstrói em meio à razão.
   Mas te escapas por entre minhas mãos, escaparás sempre em teu destino de minha não seres porque o que foi jamais será aquele poderia ter sido apesar de não ter-te tido, a me fazer explodir em mim mesmo.E, ainda que tombe a sombra e, não em ruído mas em silêncio se faça essa aurora inexistente, para sempre, na eterna lembrança de uma frustração, serás o látego inapreensível a me lembrar, até o último silêncio, da verdade escondida que eras e perdi sem mesmo a ter.
    Assina, então, anonimamente teu nome, _____________, tanto faz que te conheça ou não.A simples satisfação de um triunfo, o triunfo de por mero acaso e  tempo roubar um homem ao seu próprio torpor.

Nenhum comentário:

Postar um comentário