segunda-feira, 23 de setembro de 2013

A demonização da internet

     Para mim, quem julga que as pessoas se comunicam pior hoje do que no passado, em função da tecnologia, está precisando rever seus conceitos sobre natureza humana.Longe de mim, óbvio, escarafunchar este assunto delicado, entrar nos meandros sócio-psicológicos desta seara para lá de nova e pouco estudada.Deixo o trabalho para os especialistas de plantão, neste mundo de especialistas e discursos "competentes".Como sou, eu mesmo, incompetente para me julgar, como julgar os outros? Claro, tecnologia, internet, gente o tempo todo acionando i-pods e celulares, tudo isto está espalhado por aí.Para mim, temperamento pré-histórico criado pela visão analógica das coisas, vítima de um empirismo especulativo um tanto ultrapassado e corrompido por neuroses de nostalgia, o comportamento bestializado de todo mundo, o tempo inteiro, de entrar na rede, de estar ligado o tempo inteiro, isto me causa estranheza.Mas não me causa espanto.Talvez nem mesmo sentisse isso se, numa máquina do tempo, alguém me levasse para ver alguns jogos e passatempos no Coliseu.Não diziam: em Roma , aja como um romano?
    Eu mesmo participo de redes, não padeço de ¨ internetfobia ¨, acho isto muito útil, ainda que sempre insuficiente. Tudo na vida é insuficiente e frustrante, porque não?Mas, como sou do tipo ritualístico para quase tudo(quem não é?Alguns mais que outros), tenho hora para usar iternet, como tenho hora para comer , ler, desenhar, escrever ou pintar.Infelizmente, com tempo vago para sexo não utilizado; não que seja tempo desperdiçado, por ser usado para meditação, no caso.Prerrogativa de amadurecimento.Ou de  decaimento?Sei lá...
    Hoje temos esta tecnologia , a qual, no decorrer do tempo, será considerada tão obsoleta quanto sinal de fumaça.O qual ainda funciona, principalmente em brigas de casal, bastando olhar por cima das cabeças para perceber.Biologicamente somos como nossos ancestrais primitivos, usando um pouco mais de sinapses, mas tanta falta de bom senso médio quanto eles.
    A moda agora, em certas mentalidades intelectualizadas, é descer o cacete na tecnologia de comunicação usada atualmente, falando que isso afasta as pessoas.Bem, quando a coisa mais rápida que eu tinha, quando mais jovem, era telefone de ligação ruim ou telegrama, também não me comunicava bem com todo mundo.Exceto, quem sabe, durante os movimentos políticos, os quais envolviam certo clima de festa ou ritual envolvido.Não acho que o mundo era mais "fraternal" por causa disso.As relações eram tão mentirosas quanto as de hoje, os narcisismos e egoísmos os mesmos, o amor tão problemático quanto sempre o foi para todo mundo.Caso contrário, toda a poesia e arte de séculos passados nada nos diria, não é mesmo?Na era da tração à roda e da vela de chama, as pessoas sentiam as mesmas coisas que nós.Não é fascinante?Por isso acho que a melhor forma de comunicação humana, emocionalmente falando, é a arte; ainda que a mais intensa seja o sexo; mas este se desfaz como névoa em meio aos instintos satisfeitos bafejando a precariedade da condição humana.Tudo acaba, tudo passa, o tempo não perdoa.Nem tem que perdoar já que ele mesmo foi desmoralizado depois de Einstein.
       Por trás de tudo sempre tem interesse de poder, político ou econômico.O romantismo vulgar e comercializado nada tem de romântico; o verdadeiro romantismo é masoquista.O emocionalismo fácil vira fácil mercadoria.O sistema manipula bem nossos instintos e frustrações.O meio é mensagem, já antecipava MacLuhan.Que, por sinal, tinha um certo sentimento pessimista com relação a possibilidades idiotizantes da cultura de massa.E daí? A humanidade, em sua maior parte, sempre foi idiota, todo mundo querendo fazer parte de algum rebanho da moda(tanto faz que seja num deserto , no passado, ou num estádio moderno), a maioria das pessoas chatas, mentes criativas e generosas sempre uma exceção.Agora, apenas a idiotia é mais evidente, mais rápida de chegar ao nosso conhecimento.E a culpa não é da tecnologia, a qual apenas nos serve e pode nos auxiliar, facilitando a vida e impedindo que a gente morra por causa de bobagens ou gripes.Nem por isso seremos mais felizes, como acredito que os egípcios antigos não eram mais felizes  do que nós ao gastarem toda a energia e tempo do mundo para fazer uma inutilidade(por sina, bonita!) gigantesca como uma pirâmide.Quem diz que felicidade faz parte do projeto da natureza para com o ser humano.Se é que a natureza se importa com esse ser humano...
     Que a internet é uma ilusão em termos de relacionamento humano, não tenho dúvida disso.Como todas as relações humanas, ontem, hoje e sempre são ilusórias, já que a parte mais profunda das pessoas raramente aparece, exceto, em média, nos aspectos negativos.Que fazer, faz parte do que somos...
    Como não me iludo com mais nada ou ninguém, não vou ficar iludido com internet, a qual me ajuda muito culturalmente, principalmente em termos de informação inútil.Mas, afinal, o que é útil?Acabo virando um especialista em generalidades, um sonho acalentado desde os tempos em que ganhei minha primeira enciclopédia Barsa, a qual tenho até hoje e folheio com carinho.
    No fundo, qualquer forma de comunicação é melhor do que nenhuma.As formas antigas podem conviver com as novas, não vejo problema nisso.Estou até pensando em brincar com minha máquina de escrever antiga.Isso vale para tudo, desde arte até sexo; porque não?O que não funciona mais são os cânones em desuso ou paradigmas sem sentido.De resto, o mundo é uma grande anarquia ensandecida ,organizada tecnologicamente de acordo com interesses comerciais.Aparentemente, as utopias revolucionárias foram para o vinagre.
     E no meio desse vendaval de circunstâncias vamos levando a vida, de preferência sem anjos ou demônios, mais de acordo com nossa consciência e vontade.Internet não é demônio, nem uma maravilha angelical que nos indicará as portas do paraíso.Esse nós já o perdemos a partir do momento em que nascemos.Culpa do Adão.Ou seria da Eva?Não, não vou me arriscar em polêmicas com feministas(as mais antigas, claro!), já não tenho idade para essas pendengas.
    O essencial em qualquer meio, seja sinal de fumaça ou de satélite, é o que há de profundidade humana, emotiva, embutido dentro do uso desse meio.Coisa que sempre foi pouco usada, em pedra lascada, pergaminho ou carta.Mais comum em bons livros, boa arte e boas relações humanas.Contra a banalidade da vida comum(a vida não é banal e sim trágica!), qualquer coisa serve.E a tecnologia está aí para nos servir.Mas nós sabemos nos servir de nós mesmo?Esta é a questão.Por favor, agora toquem aquela obra de Charles Ives...

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