segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

sobre uma tragédia


Quando tinha quinze anos, morando perto do centro, fui ver o incêndio que ocorria no edifício Andraus, que fica na Avenida São João.Uma das impressões mais horripilantes que tive em toda minha vida.Pois bem;  precisou do incêndio do Joelma para que se tomassem precauções sobre incêndios em grandes edifícios, tanto é que eles diminuíram no país( não de todo).Precisou que um prédio desabasse no Rio, para que se tomassem noção de que reforma em edifício é coisa que precisa de estudo.Essa combinação de burrice, desmazelo e falta de controle legal e fiscalização produz tragédias desse nível.A imprensa fatura com isso pelo menos uma semana de noticiário farto; depois os lamentos e dores se perdem no tempo, como ruídos espalhados num amplo espaço.Isso tudo é muito absurdo, principalmente quando se leva em conta que podia ser evitado.Quantas pessoas foram punidas por todas essas tragédias, punições essas que nunca trariam os mortos de volta?
     Todo dia, quando saio de bicicleta, digo para mim mesmo , sem nenhum melodramatismo, apenas reforçando um processo de auto-sobrevivência : lá vou eu flertar com a morte de novo.Isso porque sei que não posso depender de um hipotético anjo da guarda para evitar mal maior.Se não resolve, ajuda um pouco; talvez por isso , usando bike há mais de vinte anos, ainda esteja vivo. Não querendo ser neurótico, apenas consciente, deveríamos sempre levar em conta os riscos que nos envolvem, denunciar esses riscos.É uma questão de solidariedade humana, como numa guerra.Isso tudo soa absurdo, a vida já é cheia de absurdos mas, não satisfeitos, nos esforçamos, consciente ou inconscientemente, em promover um pouco mais de caos nisso tudo.Como se o universo não fosse suficientemente caótico.Por isso, querendo ou não, temos que lembrar dos mortos, os que conhecemos ou não, tenham morrido da forma que for.Ando pela cidade e não é difícil passar em algum ponto onde houve tragédia ou morreu alguém estupidamente; paro, penso, lembro, ouço apenas o silêncio.Mas nossa memória nunca pode estar enterrada no silêncio.A vida não acaba necessariamente em estrondo, ela se finaliza no silêncio.E continuamos a viver como se não fôssemos morrer.Até que um tragédia nos lembre disso.Melhor seria fazer isso de manhã, melhor seria fazer antes de entrar numa porta de boate ou atravessar a rua.Mas somo sedentos pelo imponderável.

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