O acaso me desespera.Mas que fazer, se eu
mesmo sou fruto do acaso? A vida é mesmo uma sombra que cruza essa aparente luz
que sonhamos ser nossa vida.No meio disso tudo vamos inventando nossas
certezas, ainda que tanta incerteza nos cerque.Não precisaria apelar para
teorias de física relativística ou coisa
parecida para temer por cada passo que damos ,desde que acordamos de manhã até
o fim do dia.Quando deitamos, ainda vivos, só nos restaria dizer: ufa! Mas o
acaso perdura por cima de nossa solidez, tão fluida que é como qualquer vapor incerto.
Qual artista não sentiu isso no que faz: uma palavra, um toque de cor,
uma pressão na frágil argila, uma nota imprevista e tudo se harmoniza.Um gesto
ou um olhar e nasce o amor...
Na dureza dos dias não conseguimos ocultar a
frequência de um acaso plasmando acontecimentos imprevistos.Um tropeço e,
pronto, já nos encontramos com a "velha senhora".
Ah,
tivesse eu feito isso ou aquilo - digo, tentando me consolar -, quem sabe tudo
seria diferente.Mas e os sopros de acaso que envolveriam a atmosfera dos atos?
Não
temos controle sobre quase nada.O que controlamos é apenas aquilo onde
diminuímos a frequência ou presença do acaso, sem que ele esteja excluído de
todo.Amor e ódio se encontram ligados,
dentro do coração humano, por laços tênues e sólidos, revestidos
pelo...acaso.Por acaso penso isso agora.Gostaria de sonhar com o destino, quem
sabe orientado por astros indiferentes à minha insignificância, ou por uma
inteligência superior e racional.Mas não consigo, vejo apenas o capricho de
deuses arbitrando ao acaso de suas paixões; essas, tiram sua matéria e energia
de acaso puro. As razões que a
"razão" desconhece, sem que haja equação ou partícula de deus que
elucide isso.E, no fundo, em parte a arte é anestesia para a vida e o amor a
única hora em que, inconscientemente, vivenciamos a morte sem que saibamos.Ao
acaso de tudo.Pode-se sair com destino traçado, mas as placas direcionais são
tocadas pelo acaso.
E, de acaso em acaso, reviro
minha vontade na busca de um rumo, indefinido como se o departamento de
trânsito de minha vida fosse controlado por um lunático.A mais sóbria e
equilibrada vida aderna por um oceano de acaso, apenas o capitão da nau se
encontra hipnotizado pela ilusão.
Truffaut dizia que gostaria de dirigir um filme, não como quem navega em
oceano imprevisível, mas como alguém que anda de trém pela sólida terra do
interior.Bela imagem, tanto para a arte, como para a vida. Mas as terras do
acaso podem nos levar a precipícios.Ou a alguma floresta de encantamento.Por
acaso, alguém tem a resposta?
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