Em época de copa, a febre dos selfs.Outrora era difícil tirar foto, tinha-se que pensar muito antes de "queimar o filme".Agora, inclusive, essa expressão perdeu o seu poder de outrora.E, no meio da farra das torcidas, um festival de exibicionismos, muitos engraçados e originais, muitos patéticos e sem gosto.Fotos mal tiradas, porque mal pensadas.O olho tem sua forma própria de pensar o que vê, diria Merleau Ponty.Um self que oculta o próprio self.
Diz-se que o brasileiro é descontraído.Também se diz que o mesmo é mal educado.Como conciliar educação com descontração?.Obviamente as duas coisas não são incompatíveis.Por outro lado, o excesso das duas coisas pode se transformar em coisas pouco agradáveis: secura e grosseria.Como tudo na vida, a convivência é um andar no fio da navalha, onde o controle, pouco ou grande, sobre as formas expressivas pode determinar uma conduta mais ou menos educada.Isto deveria ser em tudo.Até mesmo na arte.Nós, brasileiros, temos a fama e, em realidade, a praxis da descontração.Mas muito dela é originada de certa falta de "modos". Mas pelo menos numa coisa todo mundo, como se vê nessas condutas de torcedores de vários países, participa da mesma unicidade: o ridículo.Sim porque o ridículo é universal e democrático, atinge tudo o mais.Veja-se que nessa copa todo mundo parece posar, de fato.Todo mundo exagerando ao limite, num estilo expressionista, esteticamente falando, mais próximo do circo do que daquele famoso estilo de pintura trágica.O mundo como um circo, eternamente pegando fogo.Enquanto jogadores e torcedores se aprimoram ao máximo para aparecer na tela.A tela da tv é o grande irmão de hoje, abstrato, muito maior que o imaginado por Orwell.Um grande útero consumidor de imagens e, como útero, reproduzindo-as ao infinito.E nisso tudo, com frequência a educação vai para a cova. Pelo menos em seus componentes de formalidade.Todos irmanados no ridículo, de autoridades à patuléia.Democracia maior , apenas na morte.
Ah, o brasileiro não é educado!E não é mesmo, em média.Democraticamente em todas as classes, alguns mais, outros menos.O brasileiro meio fechado, introspectivo, não muito festivo, sempre é visto como estranho.Fora de São Paulo, como um ...paulista.Afinal é o país do carnaval.Não a Grécia tropicalizada das utopias antropofágicas oswaldianas, apenas o lugar onde certos desregramentos de conduta não são tão condenados .Yes, nós temos bananas, carnaval, descontração e linchamentos.Como seria possível em qualquer lugar do planeta, até no polo norte.
Mas agora, agora é hora de copa, de bola, histeria e....selfs.Nem sei quantos milhões foram mandados do Itaquerão para o resto do mundo.São tantas , tantas imagens, as quais, em sua maioria, jamais serão introjetadas em nossa memória.Diria que há excesso de exposição de todo mundo, até de quem não é famoso.Todo mundo de , usando a velha expressão, "filme queimado".
Dentre outras coisas, uma copa é um excelente espaço para o congraçamento de todos os ridículos.Sem a sensação de culpa, a qual sempre inibe o ridículo.Ou será que, no fundo, quando nos embebedamos, por exemplo, aspiramos a um ridículo espontâneo?São em horas assim que vejo como a existência humana é um padecimento.Uma simples sala de aula já revela o que é o mundo: são tantos os temperamentos quanto são as formas de agir de vários povos.Povo de sangue quente, de sangue frio?Mas no fim, o mais pacífico cidadão pode virar um monstro.
Mas para a criança não existe o ridículo.Um pouco de nossa nostalgia infantil vem daí, quem sabe.Ou não seria a atitude ridícula o primeiro sopro do comportamento histérico?Mas os selfs nos induzem ao ridículo consentido.Nessa hora, somos todos irmãos.Na copa e nos selfs.A velha ilusão da catarse.A ilusão de ser individualizado em meio à massa.Mas não seria melhor então ser meramente massa, sem ilusão ou self?Pelo menos por um momento.Um momento de copa.E educadamente, na medida do possível.
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