Sempre gostei de futebol, acompanhando campeonatos e indo a estádios desde 1966(uau, como estou velho!).Sempre fui ruim de bola; acabava mais jogando no gol, em geral por ser o dono da bola.
Não vou mais a estádios há décadas.Virei torcedor de tv, malgrado o fato de aguentar a insuportável presença de locutores irritantes.Prefiro ouvir a tagarelice do rádio, onde se usa mais a imaginação.Todo mundo lá falando como se fosse dono da verdade, como se princípios de lógica e justiça fossem aplicados ao esporte dito bretão.
Ando meio desligado dos times e escalações, muitas vezes até do meu.Para me informar, por vezes, à guisa de ver como se manifesta o imaginário popular de baixa cultura, ouço alguns programas esportivos, plenos de baixarias e preconceitos.Lá acabo por me informar, inclusive acabando por me inteirar dos aspectos primitivos do torcedor de futebol.Assim como em política, o que prepondera em futebol é a paixão, não a razão.Um universo particular encerrado num mar de preconceitos e valores conservadores.A presença feminina nesse meio parece ter atenuado um pouco essas coisas.Mas o futebol parece ser uma dimensão primitiva de um universo mágico.Daí que as manias e o raciocínio mágico preponderem na cabeça do torcedor.Futebol, no fundo, é um jogo de guerra imaginário.Termos como mata, destrói, arrasa, ferra ou fode são comuns, acrescidos do estranhíssimo "chupa", usado até por mocinhas durante o frenesi da torcida.Pura paixão, com frequência de baixo nível, nesse esporte que se desenvolve a partir do nível mais baixo da cintura.Se o universo é um grande útero, o futebol é a grande pelvis a serviço do grande astro abstrato que é a bola.Bem, mas isto é injunção atropológica, psicológica, não vem ao caso.
O fato é que a Copa está aí e, paradoxalmente, eu não estou nem aí.Independente da estúpida discussão partidarizada em torno do evento, não sinto muito apreço em ver a copa por aqui.Já presenciei Copa: a de 98, quando morava na França.Os parisienses pouco se lixavam com ela, em verdade.Ao final, campeões, quase puseram fogo no Arco do Triunfo.Vai lá entender a psicologia das massas...Paixão, paixão coletiva.Coisa que pode ir para o bem...ou para o mal.Tudo é relativo.
Sempre fui contra a Copa por motivos de racionalidade econômica e por uma profunda antipatia pela máfia da Fifa, da CBF, dos bandidos que se encastelam nas direções do times e federações.O jogo vale mais do que o entorno e eles, assim como a arte do artista vale mais que a vida do próprio artista.
Se o Brasil ganhar, não vou ficar exultante.Será apenas um pretexto para ver muita gente alegre e bêbada na rua.Ainda gosto de ver multidões, embora não me dê vontade de ser ovelha de rebanho.Contradições da alma.Uma forma de ver o "espetáculo furioso e sem sentido" da vida aliviado por algum torpor.Mas já vibrei com Copa, no passado.
Sergio Marques 1970.Tinha treze anos.Esse foi o ano que me propiciou as maiores alegrias ligadas ao futebol, não suplantadas por nenhum outro momento em cinquenta anos de convivência com o futebol.Época do Brasil Ame-o ou Deixe-o, milagre econômico na era da ditadura, leitura diária da Gazeta Esportiva(sabia até a escalação do time de reservas do São Paulo), poster da seleção no quadro, o maior enxame de bandeiras que jamais vi parecido aqui em São Paulo, uma loucura!Os jogadores da seleção eram vistos por mim como heróis; mal acredito que alguns já tenham até morrido.Afinal, heróis morrem?Mas não simulava jogos em grupo, já que morava com irmãs(as quais arriscavam jogar futebol comigo no quintal, sempre no gol, claro!), tinha poucos amigos e pouca frequência de jogos no grupo escolar, exceto com os colegas na calçada(bem mais segura naquela época).Minhas partidas eram simuladas no quadrilátero de um tapete de meu quarto, as traves usadas do futebol de botão, uma pequena bolinha na mão, com jogadores imaginários ou reais correndo atrás dela.Nunca mais tive esse tipo de alegria.No mesmo ano o Brasil Tri-Campeão(A taça do mundo era definitivamente nossa, pelo menos até ser roubada...), meu time ganhando o primeiro título paulista(para mim ainda tem mais impacto na memória que o próprio mundial).Não senti nada parecido, nem em 94, nem na copa do Japão.Estranho, não?Só me ligo emocionalmente ao meu time, não mais à seleção.Embora haja muito mais coisas do país que amo hoje do que no passado.O passado, realmente, me parece um país estrangeiro...Coisas da vida.Acho que estou envelhecendo.Pelo menos no entusiasmo pelo futebol.Pudera: tanto comercialismo enche a paciência.E, tragédia minha!, acho que ainda sou muito romântico.Coisa não muito adequada ao futebol de hoje.
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