segunda-feira, 2 de junho de 2014

Experiência esquizofrênica?

Há pessoas que nos confundem, em certos momentos, não sabendo nós se elas são loucas ou estão momentaneante enlouquecidas.Vai lá  saber....Passei por isso no final  de semana.Uma experiência sem par em minha vida.Na madrugada do dia trinta e um, fiquei, entre as quatro e as dez da manhã, em companhia de uma moça, menos de trinta anos, loquaz, bonita e cativante.Falava sem parar.Inteligente,  misturava conceitos, idéias, nomes, citações, coisas de memória de seu passado, num fluxo contínuo de causar inveja a qualquer surrealista ou a qualquer monólogo introspectivo; no caso, extrospectivo, já que eu apenas me resignei em ouvir.Afinal, já mais maduro, pareço ter desenvolvido mais paciência para discursos femininos, de todos os matizes.Vinha de tudo: coisas do budismo e sua nomenclatura exótica, urbanismo, economia(a moça dizia ser formada em arquitetura e economia), autores acadêmicos, cantorias constantes(inclusive em hebraico, já que ela era judia), não dava tempo de interromper.No meio da madrugada terminando,  dançou de forma harmoniosa, fez posições de ioga, em plena praça pública, sob o sereno e o frio, com um vigor físico impressionante.Dizia ter tido uma formação esquizofrênica na infância e juventude.Nem precisava me dizer...Um autêntico furacão progesterônico.Sabe-se como homem é carne fraca, iludível facilmente por complexidades hormonais primitivas.Do jeito dela, algum tipo de mecanismo sedutor era desenvolvido pela moça.Depois de um interminável café matinal, onde falou e falou e falou, mostrou-me sua Lilith particular; não a demoníaca que a mitologia dizia haver enclausurada em toda mulher, mas sim uma árvore encravada em um parque próximo.Chorou muito ao tocá-la, depois de longa conversa animal-vegetal com a mesma.Também chorou em outros momentos de sua histérica , ao mesmo tempo serena,discursividade.Seria louca mesmo ou estaria chapada?Acho que nunca saberei.Olhos vivos mas um tanto indecifráveis.Vejo agora porque Modigliani se furtou a pintar o olhar de tantas de suas retratadas.Dizem que todo olhar diz alguma coisa.Mas o olhar da moça me parecia algo muito distante dali, quem sabe em outro mundo inapreensível de sua complexa mente.
     Uma mulher a cativar e a assustar ao mesmo tempo.Como pode uma mente trabalhar de forma tão on-line?Dizia-me que eu era maravilhoso, aéreo.Mas eu não falei nada , ou muito menos do que ela durante todo o tempo!Talvez maravilhoso por simplesmente ouvi-la.Maravilhado, sem   dúvida.Contudo, confesso não saber explicar se a moça era mesmo louca ou estava viajando por algum efeito de droga ou situação particular.Pouco importa.De toda maneira, durante algumas horas estive mergulhado nessa situação de loucura, consciente de estar consciente.Um misto de excitação sexual com curiosidade, naquele fascínio em que espírito e carne parecem duelar dentro do próprio ser.Ou teria sido tudo uma ilusão?Não, porque algum tipo de contato físico tinha havido, além do fluxo contínuo de palavras da moça.
   Então me perguntaram, depois, porque eu tinha tido tanta paciência em ouvi-la.Não sei explicar.Isso foi além da simples atração ou da possibilidade de algum desdobramento afetivo ou prático(?).Eu não iria muito longe porque, confesso, teria medo.Agisse eu de forma mais convencional e logo me desvincularia dessa "maluca".A loucura me fascina, mas tenho consciência do risco que corremos ao mergulhar em certos rios de águas estranhas.Em todo caso, dia a dia mais me certifico de que essa loucura, feminina à sua maneira, me causa interesse, daí que hoje converso mais com mulheres do que com homens, um pouco por circunstância, um pouco por tédio do imaginário repetitivo do mundo masculino.Sem contar que há um número infindo de beleza feminina a se olhar por aí.
   Uma amiga minha, curiosamente,  já me disse que tenho tido um tipo de atitude que ela qualifica de hétero-gay, onde, mesmo mantendo minha heterossexualidade convencional, acabo por ter atitudes de gay confessor, muito comum entre algumas mulheres.Ou teria eu me transformado num grande ouvido?Todo mundo quer um grande ouvido para despejar o que se passa na própria mente.Principalmente na relação entre homens e mulheres, paciência parece não ser uma marca presente no comportamento masculino.Exceto quanto aos profissionais da psicologia.Eu, não passo de um amador.No caso daquela moça, seria necessário algo mais, mais próximo da psiquiatria?Não sei, nem saberei.Pouco provável que a encontre nessa dimensão, quem sabe após cumprir o caminho que me leve ao "dharma" mais ajustado ao devir do próprio karma, usando a terminologia budista tão citada pela moça ao longo de seu vastíssimo solilóquio acompanhado de minha presença.Afinal, deixei-a no parque, fazendo exercícios, um corpo forte e ágil de dançarina brincando com barras, após perceber que ela repetia o longo discurso de novo, pela enésima vez.Sem qualquer troca de informações mais precisas,disse-me para que eu seguisse meu caminho e fizesse de conta que ela não existia.Então percebi que o grande "ouvido" não era mais necessário.Mas, provavelmente, jamais irei esquecê-la.


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