domingo, 17 de março de 2013
Reflexão noturna andarilha em 16 de março
Noite correndo, nas costas um peso indelével do mundo, olhando as pessoas no deleite de serem algo além do que são.O que sou , mal sei.Uma intangível tranquilidade guia meus passos sem rumo, numa noite sem rumo, como sem rumo são tantas noites; afinal, o mundo mesmo não tem rumo certo.Gostaria de ter mais certezas, além de uma ou outra coisa que julgo ser um acerto.Gostaria de ter o coração mais alegre, encontrar quem sabe um coração maior desse universo do qual me esforço a ser como célula quase invisível num organismo amorfo.Gritos e sorrisos espalhados pelos bares.Tantas pessoas, sei que não as toco, nunca poderia tocá-las como um todo, nem mesmo sei se posso tocar a quem me é familiar ou próximo.Ah, as falsas fraternidade etílicas!Olho as pessoas, destinos indefinidos e desconhecidos, berros, estridências e beijos largados pelo espaço da noite, arquitetura de escuridão envolvendo as estruturas da cidade.Não verei o vazio disso tudo, enxergo apenas a transparência do que finjo ver.No ar, aquele ar de noite banhado a luzes artificiais, nos paraísos artificiais definidos pelas vontades falhas.Olho as pessoas, vejo bem, enxergo as linhas e as formas, daquilo que se define como corpo das pessoas, olhos das pessoas, sorrisos esboçados, num e noutro canto um bêbado semi-acordado, eu ébrio de um silêncio absconso, mortificação quase budista em meio ao festim de todos os impulsos animais, como o estrondo silencioso dessa multidão de pessoas que não toco, nunca tocarei.Passo a passo, como a flutuar numa nuvem de pedra, vejo as pessoas.O que são, para onde vão, de onde vêm, tudo faz de mim e delas todas esse silêncio que não se toca, de tantos seres que não se tocam, pela própria intocabilidade de todos os seres.De real mesmo, apenas o tempo.E esse não existe, não passa de algo medido por aparelhos por meio de convenções.Existem apenas as coisas que se transformam e se interferem, exceto se forem humanos, pois estes vivem de ilusão da tocabilidade, mais abstratos, de certa forma, que essa abstrata vontade de se tocarem.Afinal, eu toco as pessoas?Ora, deixem-me então ficar comigo mesmo, na intocabilidade do vazio que se preenche com esse ser de sonho e fúria que chamo de eu.E se o universo todo for uma só substância?Quanta bobagem!A noite passa, eu passo, a ânsia do toque também.
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