sexta-feira, 1 de março de 2013

pensamentos curtos de fevereiro


O problema é que viver uma vida sem vícios pode virar um vício.

   As pessoas mais velhas deviam se comportar, com relação aos sonhos dos mais jovens, como um jardineiro faz com o jardim.Há flores, assim como há sonhos, de todas as formas.Flores, há as mais estranhas ou exóticas, algumas de destino incerto no jardim; mas são flores, e como tais têm lá seu papel no mundo.Talvez, por terem seus jardins já estéreis e secos, onde só brota mato chato ou erva daninha- esses também filhos da natureza - cultive-se um certo rancor por orquídeas esdrúxulas; mas, mesmo esdrúxulas, são orquídeas.Sempre melhor flor natural do que flor de plástico.Sempre melhor um sonhador equivocado do que um apático normatizado. Melhor qualquer jardim do que terreno baldio.

Êta, mundo louco!O tal do "espetáculo furioso e sem sentido, significando absolutamente nada" é assim mesmo: deixamos de fazer algumas coisas, de falar algumas outras, passamos por uma calçada e um muro cai em cima.Ninguém ousaria perguntar ao falecido muro, já em destroços, nem à vítima do mesmo, cujo futuro próximo é virar apenas ossos, o sentido disso tudo.O que se deixa de fazer nada mais é que um suspiro no interior do coração da vontade.E essa cessa de vez com o silêncio definitivo do coração.O problema é o outro coração que silenciamos durante a vida.

Pensamento de um conhecido meu, de 61 anos:" antigamente, em função das relações de opressão sobre a mulher, nos relacionamentos predominava mais sordidez por parte dos homens.Hoje, as coisas estão mais "equiparadas", parecendo que o interesse prático predomina sobre o sonho." Não deixa de ser uma opinião que se respeita.Eu acredito que, nisso tudo, o sonho submeteu-se ao prático.Mas a vida -que fazer? - subsiste em função do prático.Muito sonho não passa de mentira disfarçada e, a cada dia que passa, vejo que as diferenças entre homens e mulheres são extremamente mínimas.Daí fico me perguntando se fico mais ou menos feliz ou infeliz com isso e não concluo nada.Apenas concluo que meus sonhos se afiguram melhor que a realidade.Mas como essa não é feita para meu gozo, só levando tudo isso na gozação.

Eu pergunto então a um camarada de minha época: quantas vezes você não receia olhar para as próprias mãos, e ver o sangue deixado pelo punhal, o punhal com que violamos o peito do anjo de nossa juventude?Queira-se ou não, todo homem faz algum pacto fáustico ; nunca temos certeza de como nossa alma entrou nessa transação.Muitos dos que não quiseram assassinar seu anjo, partiram cedo de encontro a outros anjos.

De tanto me cobrarem maturidade, acabei caindo do galho.Mas aí ninguém quer aguentar o cheiro do fruto podre.

A verdadeira história da esfinge é que, ao se defrontar com a misteriosa figura, o pobre Édipo já foi devorado por ela.Depois houve uma farsa de que ele escaparia disso se a decifrasse.Em seguida, um golpe demagógico da Esfinge, fingindo se jogar no precipício, apenas para instilar complexo de culpa no já confuso Édipo.Mas como o Édipo era um masoquista, ainda teve que se envolver com a mãe, depois de matar o pai(por sinal, um senhor de modos condenáveis!), tudo para salvar um povinho preconceituoso e chegado a misticismos obscurantistas.Ah, o povo, o povo...Sempre seguindo o" primeiro que ergue uma espada ou cruz"(Terra em Transe, Gláuber Rocha) ou que disse decifrar o segredo de uma esfinge.Bem, depois disso, só furando os olhos.Mas os gregos sabiam das coisas, e essa versão não funcionaria bem , do ponto de vista educativo, nem permitiria o surgimento de novas teorias na caixola do grande Sigmund.

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