sábado, 23 de março de 2013

Luz na madrugada


                           Luz na Madrugada

Ah, a vida, a vida!Passa como um sopro e se estende como estrada invisível, ainda mais quando esta se abre como porta infinita pelos arroubos da juventude.Dessa incerteza toda , apenas a certeza de que o incerto sempre será uma supresa indefinível.
   A noite desfalecida, leve embriedade de álcool e luz de estrelas que não vejo.Sim, vou para casa, decidido, digo a mim mesmo, a rumar para a ilusão de morada - mas onde estaria a morada de minha alma? -, recostar-me e enfiar-me nesse simulacro de morte que chamamos sono.Tudo pronto, ainda preso à escuridão, a de dentro e a de fora, irei para casa, tarde da noite.
     Quando ela passa, uma espécie de raio de luz imprevisível que aparece nessa noite, noite ventre de veludos de negrume , antes dormentes, subitamente despertos, agora um frio percorrendo a alma pela luz de mulher que fende a madrugada.Surge como um demônio doce, daqueles que nos fazem descofiar do bem e do mal.E na loucura do artificial e do real,  nem ao menos noto que o dia amanhece, escuridão e luz, as duas devoradas pela claridade que vejo em torno dela.Ah, como sou ridículo, como adoro ser ridículo numa situação dessas!Por que será que sinto um sopro de eternidade ao passear ao seu lado acompanhado desse silêncio de nós e de tudo?Não sei, sei que nunca saberei.Os que não sabem que não sabem são cegos, os que sabem que não sabem procuram alguma luz.Projeção de ficções, esse meu coração se refestela com seu talhe doce de moça.
     Sim, eu sei, o sono será uma colcha de lembranças recentes, tanta beleza estreitada entre a treva e a luz da manhã albergada no sorriso de oceano de seu rosto.Lá fora o vasto mundo, tão pequeno e fútil em frente dos sonhos de sono e vigília em que me construo, ou que ela se constrói,moça-mulher-esfinge, um constante mistério nessa nuvem de dúvidas  que rompe a madrugada e se instala na pele.E serei obrigado a escrever algo, não contarei a ninguém, a não ser ao próprio coração, da curta felicidade arrancada às pedras  da vida fria. Equação sem solução na matemática estranha dessa existência mais estranha, do acaso de ver a luz na madrugada.Tudo é estranheza no curto reinado da felicidade.
                                                                              23 de março 2013

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