segunda-feira, 11 de março de 2013

Bergman e o nazismo


Que Ingmar Bergman é um dos maiores diretores de todos os tempos, isso todo mundo já sabe.Pessoalmente, não seria leviano de minha parte dizer que eu seria uma outra pessoa, sob certos aspectos, não tivesse visto seus filmes.Que esse extraordinário artista tinha flertado com o nazismo, durante sua juventude, disso fiquei sabendo mais tarde.Mais velho, Bergman narra esse fato em sua auto-biografia, nomeada Lanterna Mágica.Nada a causar espanto: na época da segunda guerra havia muitos simpatizantes de Hitler em terras de Strindeberg; afinal, a Suécia fazia jogo com os dois lados, os aliados e o eixo.
    Bergman diz que, ao final da guerra, sabendo dos horrores do nazismo, ficou ele mesmo horrorizado com sua própria pessoa, caindo quase em desespero.Consciência de que, inconscientemente, fora manipulado como tantos outros milhares, milhões, de sábios a zé-ninguéns, pela paranóia nacionalista-esquizofrênica do nazismo,o imbecil sonho de pureza universal, esse romantismo perverso de viés psicótico.Assim são os homens, assim é a humanidade.E Bergman era humano, demasiado humano para fazer algo como Morangos Silvestres, demasiado humano para ver Hitler no alto de um palanque, uma multidão em êxtase o saudando, e ele mesmo gritando o nome do ridículo homem de gabardine e bigodinho.Bergman, esse gigante, naquele momento era como qualquer pessoa simples, um personagem típico de uma peça de um outro grande, Brecht.Mas Brecht era judeu e comunista(na verdade, mais um socialista utópico que , por certas conveniências, dialogava com os comunistas), perseguido pelo nazismo, desde jovem com a consciência política inexistente no jovem Bergman.
     Imagino Bergman, velho, lembrando disso, meio envergonhado, pensando: que horror, eu, despersonalizado numa multidão embrutecida e movida a agressidade, a mesma agressividade que devia entrar em ressonância com agressividades outras residentes em meu interior; que fazia eu lá(Bergman estava num intercâmbio cultural em 1934 na Alemanha), como podia estar participando daquele evento, liberando tantos  monstros que habitam nosso interior?
     Bergman narra que acompanhou as vitórias de Hitler, entusiasmado, assim como as derrotas, desolado.Para no fim, com a derrota final, a cruel revelação do que o nazismo fizera para a civilizada Europa.
   O sueco viveu na carne a presença do niilismo transformado em atitude política, o que pode levar a manipulações por outros.Assim funcionava o nazismo, assim funciona a mentalidade fascista, a qual pode se desdobrar desde a orientação político-partidária até a questionamentos de ordem místico-religiosa.Pensemos nesses pastores oportunistas e suas seitas recolhedoras de dízimos, às custas da infelicidade humana.O jovem Bergman, ainda a caminho de ser o grande Bergman, foi isso: uma consciência perdida no meio da inconsciência da turba furiosa e manipulada pela mediocridade, ao som wagneriano de ódio e ressentimento, essas matérias primas que produzem o organismo e o etos fascista.Porém, ao contrário de outros artistas que também defenderam o nazismo, gente de altíssimo nível como Pound ou Dali, Bergman viu a ficha cair, percebeu o horror daquela jogada, dentro do horror maior que cerca a existência humana no caos de incerteza e dúvida que formam nossa vida.Acredito em suas palavras, ao se dizer desesperado por descobrir o que era o fascismo e o nazismo.Coitado de Bergman; na época dele ainda não havia aquele grande líder iraniano, o tal de nome para mim impronunciável, da tal revolução obscurantista islâmica(me recuso a apoiar qualquer idiota apenas porque desce o cacete nas idiotices imperalistas americanas), para livrá-lo do peso da culpa, às custas da negação da realidade, dos horrores da segunda guerra ou dos holocaustos da vida. Mas assim é a vida, manipulação de inconsciência pelos limitados mas ardilosos poderes da consciência.Falar mais sobre isso é bobagem, muito melhor é ver qualquer filme do Bergman.O qual, como todos nós, era humano, demasiadamente humano.Quem já não cometeu seus pecados de juventude, sejam eles ideológicos ou não?O que importa mesmo é o que se lega de construtivo à humanidade, apesar de tanto ódio, intolerância  e destrutividade cultivados no cotidiano, em nossos interiores profundos, a alimentar pequenos Hitlers escondidos nos porões de nossas inconsciências.Nesse ponto, a luta sempre continua...Pelo seu cinema, Bergman levou a bom cabo essa empreitada.Felizmente, o jovem Bergman tem menos a ver com coisas como o Sétimo Selo, O Silêncio, Gritos e Sussurros,Persona,etc,etc e etc....

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