segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

últimas reflexões de 2012


Entre o amor de caserna e o de caverna, prefiro ficar com este último.A caserna é sempre estável, constante, repetitiva, a monotonia da disciplina, assim como a vantagem  da segurança do teto firme.Bem, muita gente se sente bem com a vida militar, nada contra.Mas prefiro a insegurança das trevas onde se tateia sem se saber para onde se vai.Não só na atitude de ação podemos viver em insegurança, as próprias relações humanas sempre são instáveis e nunca podemos garantir nada.
    Segundo o mito de Platão, o mito da caverna, vivemos nos orientando em meio a sombras.Por se preferir a caverna à caserna, corre-se, verdade  seja dita, o risco de se virar urso solitário.Mas, tal qual o bicho peludo, pelo menos segue-se a própria natureza interior, o privilégio mais ousado e perigoso de nossos tempos.

Não tenho nada contra as pessoas terem suas próprias mitologias. O problema se dá quando se tenta imputar a própria mitologia num outro, sem consentimento deste.Isso é fruto da crença em uma verdade absoluta, quando todas as verdades são relativizáveis, o que não implica que essa relativização impeça a vida prática.Prático mesmo é respeitar os princípios de tolerância.

As teorias marxistas sobre a luta de classe como motor histórico não me convencem mais.Acredito mais que o que move as coisas é a luta entre os adaptados e os inadaptados.Claro que, mantidas certas circunstâncias favoráveis e estatísticas, um mendigo adaptado pode se transformar  em rei, enquanto que alguém favorecido pelo destino econômico, mas não adaptado ao sistema, pode enveredar pela mendicância mesmo sem querer.O sistema pude sempre severamente a discordância quanto às unanimidades que ele chancela.

Converso com jovem mãe, 26 anos, filho de quatro meses, casamento de três anos já em estágio meia -boca - que, certamente, não será reabilitado pela nova criaturinha - mas com aquele deslumbramento amoroso e maternal que só existe nos olhos de uma mulher mãe.Ao saber que não tenho filhos, de forma um tanto ingênua e até estabanada, diz:" nossa!Você está ficando velho e ainda não teve filhos!" Sorrio e respondo:" e talvez nunca tenha, o que não é problema.Sabe, o filho é sempre mais da mãe que do pai, ainda mais hoje em dia, os homens tão enfraquecidos em seus antigos papéis já ultrapassados.Nem todo mundo nessa terra, seja homem ou mulher, irá procriar.Você não se justifica pela sua descendência mas sim pelas suas ações na vida.Nem toda mulher vai ser mãe, ainda que a maternidade seja um fenômeno extraordinário só acessível ao gênero feminino(não esquecer que já existe muita gente dizendo que esse negócio de gênero é totalitário e outras mumunhas de discurso...).Filho é sempre um pouco de acaso, por mais que se planeje.É a natureza agindo independente da vontade racionalizada do ser humano.E este, por mais racional que seja, sempre é um buraco sem fundo de coisas sem razão alguma.Inclusive com a vaidade procriativa, coisa estranha mas que existe...E, particularmente, em minha vida tenho visto tanto pai e mãe que são uma desgraça;  fico até pensando , nesse caso,se o filho(ou vítima) não teria sido mais sortudo se fosse fruto de uma chocadeira.Porque , fosse nossa sociedade realmente justa e racional, haveria preocupação não apenas com a saúde física mas também psíquica das pessoas, inclusive daquelas vitimizadas por paternidades desastrosas.Mas o sistema quer mais é que as pessoas apenas trabalhem e não perturbem.Terapia só para quem tiver grana.

Acho que só é possível se aquilatar sobre o quanto gostamos de uma pessoa de acordo como se vivencia o silêncio ao lado dessa pessoa.Nem sempre o falar constante é um dizer algo.E temos dificuldade em analisar as coisas ocultas entre tudo o que é dito ou desdito.
Quando criança acreditava que o mundo ia acabar no ano 2000, por isso não entendia o filme 2001 Uma Odisséia no Espaço.E o mundo não acabou, nem em 2000 e nem agora.Embora eu concorde com o fato de que muita gente vai continuar sonhando com o fim dele, muitos por já estarem acabados no e para o próprio mundo. Fico lembrando o velho Freud, de suas idéais sobre a coabitação de instintos de vida e morte dentro das pessoas(ideia atacada  por  suposta elucubração metafísica, como se o homem fosse um pensador exato...), e imagino se a ideia do fim do mundo não é uma projeção cosmogônica dos instintos mortais, uma solução simbólica para nossos egos saturados de realidade, de tantos princípios e normas, do amor ao estado e sobrevivência econômica,  organizando todos os afetos e relações com o mundo, com as pessoas, com nosso próprio interior. Se o mundo não é bom com a gente, melhor sonhar então com o fim dele?Ora, se viver em civilização implica em conviver com repressão, então que a civilização vá para o inferno, pelo menos dentro do imaginário de uma justiça metafísica das forças do universo! Claro que isso é mais fácil para quem acredita em deus ou no juízo final, não para quem se vê como vítima de acaso cósmico ou capricho de deuses sádicos que no fundo não existem.Para isso, ou melhor, contra isso , surgem as forças de vida criando essa expectativa ,tão louca e inexplicável quanto coisas como o amor ou a morte, que chamamos de esperança. E o que fazer se a esperança não se situar além das margens do fim do mundo? Ufa, pelo menos - grande alívio! – não vou pegar uma arma e matar criancinhas ou minha mãe!O mundo não acaba, a nossa vida sim.E se o universo vai entrar em colapso e desaparecer, então para quê sonhar em precipitar as coisas, mesmo em imaginação? Bem, ainda temos um pé, ou mais, na idade média...



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