sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

criação e sofrimento


Ninguém nasce  pronto um criador.A criatura faz-se criadora e com isso se recria.

    O cinema, convencionalmente e para atender a um certo gosto médio de publico,  com frequência trata os personagens de forma idealizada, sem contradições ou com conversões abruptas, como se não houvesse sempre um processo envolvido por trás de qualquer transformação. O sofredor genial é bem um exemplo, ignorando com isso toda um avanço nos estudos da psicopatologia e criatividade, parâmetro banalizado no estilo " a criação só vem com a dor", quando melhor seria dizer que ela vem com a dor inclusive.
     Essa idéia cristã, presente em muitos filmes de cinema, associando sofrimento a criatividade me causa muito enfado.Acho que Nietzsche, esse adversário visceral das religiões, e em especial do cristianismo, concordaria com isso, ele que tanto odiava as estéticas do sofrimento, amava tanto as estéticas da busca da energia mais profunda da existência dentro do mistério do coração humano, enxergando a busca da felicidade trágica como vocação humana, o homem como um herói em potência na própria luta contra as impotências.Não que o processo criativo, qualquer que seja, não implique em sofrimentos e percalços, não que os criadores não possam passar por sofrimentos, ter a vida crivada por sofrimentos.Mas a criação se dá, apesar do sofrimento.Algo que se dá além dos parâmetros de senso comum de vida ou morte, numa visão cosmopsicológica quase que inconsciente dentro de todos os seres.Se o criador atua no sentido de resolver problemas psicológicos pessoais através de sua obra, esta não é feita apenas por isso ou para isso, mas por uma necessidade de transcendência do próprio criador em relação às limitações de sua vida, no sentido de "corrigir" a vida pelo poder da vontade humana, humanização esta da realidade desumana onde nascemos(o mundo, o universo não foram feitos para a felicidade e o bem estar humano), que poderíamos chamar de verdadeira atitude de amorosidade humana para com o universo(e o amor é uma criação humana, e como toda criação, até mesmo aquela que fingimos nos ter feito à imagem e semelhança, é sempre um mistério do qual nos afastamos e nos aproximamos ao mesmo tempo), uma aceitação de um destino forjado pela independência da vontade de consciência, frente a neutralidade inconsciente do resto do universo que pouco faz de nós.Ninguém nasce totalmente criador.A criatura faz-se criadora.

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