domingo, 8 de maio de 2011





Só dirige e comanda quem não sente ou sente pouco.Talvez os regentes de orquestra pudessem  escapar disso.Porque quem comanda ou dirige deve sim antecipar o que os outros sentem para melhor dominá-los.Isso porque sentir pode inibir a ação.Sentir demais pode apenas nos desviar daquele instinto natural de passar por cima de tudo e todos para alcançar os objetivos.Assim é a vida, assim funciona esse abjeto mundo dos homens que somos todos nós.

Se a frase “a mulher faz o homem” se aplicasse a mim, imagino  em que laboratório de patologia teria eu fincado moradia.

Não sei bem como ou por onde anda minha geração, mas sei bem como anda sua degeneração.

Quando persistentemente sonhamos a mesma coisa, esse sonho passa a ser tão importante quanto aquilo que não é sonho, ou seja, a realidade.E se chega a um ponto em que não podemos mais distinguir entre sonho e realidade.Daí a multidão de alucinados que compõe a humanidade.E o medo que cada sonhador desperta nos demais.

Às vezes sou atingido por síncope de ninfolepsia(termo usado por Nobokov, o autor de Lolita, e que nada tem a ver com pedofilia), talvez   por baixa de defesas de caráter.Mas isso é facilmente contornável com uma terapia intensiva à base de pílulas de senso do ridículo.








     Os amantes entusiasmados deveriam, ocasionalmente, passear por cemitérios, para sentirem o quão efêmero pode ser o que sentem, o quão frágil é a vida e todas as coisas, nessa coisa tão passageira que é a existência.O problema do mundo moderno é o tédio, porque se vive muitas coisas em mais tempo, enquanto no passado tinha-se que viver as coisas em menos tempo.Hoje queremos a vida eterna.Seria interessante se o corpo não sofresse muito.Mas como ficaria nossa paciência?
     Melhor do que ser pós-moderno é ser pré-arcaico.Isso porque, historicamente, não temos garantias sobre como se desenrolarão as relações entre homem e tecnologia.O fascínio pela técnica ou pelo progresso pode ser enganoso desde que não se relevem valores humanísticos(embora haja pessoas, inclusive intelectuais, que abjuram dos humanismos!), arduamente adquiridos ao longo de nossa evolução.Para quem acredita que a história da humanidade não passa de um moto-contínuo onde nada se modifica, é melhor encostar o burro na sombra e esquecer de tudo, vendo a carruagem passar, o tempo e os fatos tudo devorando, ficar rezando esperando o nirvana chegar a bordo de uma tv a cabo.Com isso se contempla uma estranha vontade inconsciente de se estar longe de tudo e de todos, embora se imaginando próximos.Como não podemos para o tempo-  embora o que  está no passado já esteja parado- podemos desconfiar mas nunca ser presas fáceis do pessimismo, porque este não está de acordo com as leis da sobrevivência.Freudianos ortodoxos podem ser  entediantes...Talvez pela falta de humor.A arte pode aliviar um pouco.
     A natureza pouco está aí para o que acontece com a gente.Sorte de quem tem fé e acredita em coisas transcendentes além da hora de se cruzar o último rio.Se o destino genético quiser, o que podemos fazer?Quem sabe mexer na genética.Acabaremos por viver mais, sofrer menos com o acaso biológico.Outros problemas de nossa existência talvez nem tenham solução.Porque, queira-se ou não, a solução final será a mesma, no silêncio do vazio que nos espera além das terras de onde viajante algum retornou, além do último rio, seja ou não com ponte.




Quem pode garantir sobre os resultados e efeitos da cultura “internáutica” na espécie humana?A relação entre o homem e a tecnologia implica sempre em incertezas, afora o fato de que possibilita um controle maior sobre o universo material  que nos cerca.De acordo com Lavoisier, tudo se transforma; de acordo com a entropia , a energia tende a se dissipar e se espalhar por todo o sistema(o que em si nos faz ter dúvidas sobre a avareza ou bancos!), de maneira que todos os instrumentos que desenvolvemos nos servem para controlar(em parte!) a natureza, possibilitar um pouco mais de liberdade para nela atuar e, inevitavelmente, sucumbir.
     Queiramos ou não , a natureza não está nem aí para o que somos ou fazemos.Se destruirmos a biosfera e com isso nossa própria espécie, o planeta vai continuar aí e, quem sabe, nasça algo parecido com o que hoje chamamos de vida. E se formos para as estrelas, se isso for nossa vocação natural para restabelecer o princípio da entropia?Teremos de construir outras línguas, outras formas de comunicação.Nossos mecanismos cognitivos se desenvolvem paralelamente aos nossos sistemas perceptivos.
    O que se discute hoje pelos especialistas são os limites colocados pelos recursos “internáuticos”, suas influências sobre a cultura, a democratização das idéias e dos pensamentos, a falta de profundidade na formulação desses últimos.Mas tudo ainda cai na especulação , na carência de dados e pesquisas mais conclusivas.Um alarmismo de plantão vaticinará que é o fim do mundo e que regrediremos aos estágios de cultura dos pitecantropos, apertando botões e mouses, enquanto otimistas tecnofílicos defenderão o contrário.Que seja...Só o ceticismo e o equilíbrio podem oferecer alguma clareza.O entusiamo(ter um deus em seu coração!) é bom como motivação, não como reflexão.Essa necessita de distância o frieza.O resto é arte, essa outra face da moeda misteriosa da existência.

     Será nossa racionalidade prisioneira de sistemas energético-cognitivos fora do nosso controle?Teremos que pensar menos?E como ficam nossas feras e demônios domados por séculos de domesticação civilizatória?
    Sei apenas que essas respostas ainda não estão disponíveis no google.




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