sábado, 2 de abril de 2016

resta persistir

 Há um certo viés pessimista na minha forma de ver o mundo.Às vezes vejo isso, em parte como algo misteriosamente filogenético, em parte por vivências ou leituras que, de certa forma, plasmaram minhas opiniões filosóficas.O otimismo veio por conta das leituras humanistas  as quais, principalmente na juventude, atuavam em conformidade com certo esplendor hormonal.Se a vida é fundamentalmente um eterno querer frustrado, nada pode nos espantar se a dor for a proeminência.
     Já se foi a época em que o ideário existencialista norteava minhas ações.Na verdade, sempre tive uma visão errônea dessas teorias filosóficas, confundindo a voluntariedade individual com a melancolia da asfixia pelo mundo. Contudo, nesse outono de minha vida, olhar para trás me deixa algo de luz no futuro. Não sei como, uma teimosia em construir uma esperança a partir das névoas melancólicas do dia a dia que nos corrói.O importante é essa estranha teimosia em persistir.
    Mas até que ponto a persistência realmente persiste, até que limites arrancamos do fundo da alma, dos porões sombrios de nossa inconsciência essa vontade de continuar?O mundo me parece uma grande esfera de onde não escapo, no inferno cotidiano de conflitos internos ou indisposições externas. Muito além desse mundo ser constituído pelo “inferno que são os outros”, fica-se na expectativa de que algo de ruim pode ocorrer sempre de forma inesperada.O inesperado é a certeza máxima, além das ilusórias bandeiras de paz fornecidas pelos limites da ciência.Sísifo sempre existiu, mas a rocha parece que cresce com o tempo.Asfaltariam até o topo da montanha?Ah, imaginar o Sísifo feliz, na orientação de Camus para que não nos percamos desse mundo ou dessa vida.A vida é o que nos resta , e nesse resto nos apegamos para escapar do impulso de nulidade e paz com que a morte tenta nos seduzir.Mesmo já estando meio mortos em vida.

     As guerras, o mundo social e o absurdo que nos cerca, os egoísmos sombrios de todos, as conveniências e as mentiras que vão desde o parente covarde até a vilania excrescente dos políticos profissionais, os egos acima de todas as vontades, as mesquinharias que estraçalham as paredes do coração, o mundo louco que nos cerca cheio de injustiças sociais absurdas, esse ódio imenso dentro da gente- e o que se faz com ele, santo deus!- podendo explodir por qualquer bobagem.O que está ruim sempre pode piorar.Resta apenas o quê? De que fiapo de esperança se pode imaginar um sol além de todos os limites de nossos desejos, da pura pele ardendo pelo desejo até os olhos secos de lágrimas de angústia que nunca se realizarão como dois faróis de esperança da alma?Restaria dançar ou se drogar.Como levar uma droga, a vida, sem outra droga?Sempre foi assim.Mas a vida, em si mesma, não está nem aí para a gente.Porque a vida não é uma droga.A vida simplesmente é o que ela é: a vida.Nós somos o acidente nisso tudo, o sonho frustrado dos deuses que nós cunhamos  a partir de nossa imagem e semelhança.Para  todo fim, eternamente, ternamente na coragem de uma só coisa: persistir.O resto é mistério.Viver nele não deixa de ser engraçado e dá um certo alívio, longe das certezas merencórias que nos iludem.Apenas uma coisa no fim: a vontade de resistir.Sofrendo pouco já somos muito mais do que felizes.Além de tudo, somos sempre uma nostalgia do que podia ser e nunca será, não é mesmo?A nostalgia de eternidade da qual nunca escaparemos, de onde viemos e para onde retornaremos.Sem perder o senso de humor, por favor!

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