Olhe sempre ao seu redor com coragem e receio.Veja só o belo tipo faceiro que está ao seu lado, como dizia propaganda de idos tempos distantes, e acredite que, se não morreu de bronquite, pode ter matado sua alma, até mesmo a humanidade dentro de si, no amálgama de inferno e céu que faz a carne do coração humano, essa estranha ponte entre deus e o diabo.Nem anjo ou demônio, o homem é mais um abismo do qual não imaginamos o que reside em seu fundo, se flores ou espinhos, aromas sutis ou fétidos, esperança ou desalento.Em horas assim, nos momentos de crise ou interregno da história(esse termo tão belamente usado por Gramsci em seus ensaios), assusta-nos ver para onde vão as pessoas.Se é que elas sabem para onde vão.E surge um estranho transpirar de ódio, esse ódio que parece nos iludir a ponto de imaginarmos ser ele o melhor de nós mesmos, esse ódio que nos contamina de fora, vendo-o transpirar dos olhos e corações alheios como um pútrido rio de fel, amargor e desesperança.Esse ódio contra o qual temos que lutar antes que nos faça de marionete pelos dedos ocultos da morte, essa senhora de vastos tentáculos que nem ao menos nos redimirá, apenas nos lançará ao nada.
Há sempre um punhal de prontidão ao seu lado, a ser cravado na carne crua de sua vida insana e sem sentido.E aquele que antes era o angelical espectro de uma amizade, pode nada mais ser que a horrenda face da discórdia e desprezo disfarçada na melíflua e mentirosa linguagem da concórdia.Nesse momento fiquemos atentos, que as sombras tentam nos roubar toda a luz do céu.E no fim, até mesmo a política pode ser um duelo entre treva e luz.Para isso temos que ter os olhos, a razão e a mais profunda voz iluminada do coração abertos.Para o bem ou para o mal, somos condenados à esperança.
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