sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Esse negócio de esporte é muito interessante.Assim como a arte, não tem utilidade prática; ou seja, a humanidade não dependeria dessas atividades para sobrevivência.Creio que tanto a arte como os esportes e suas práticas pertencem ao reino do imaginário lúdico, daí ser possível fazer-se uma ponte com o estético(é só pensarmos nas crônicas futebolística de Nelson Rodrigues, pouco tendo a ver com o jogo em si mesmo: mais vale a lenda que a realidade, nesse caso).Como tudo na vida envolve uma certa indeterminação, não deixa de ser um constante jogo o próprio existir.Acompanhamos os jogos esportivos, envolvendo-os numa áurea de drama e tragédia que, sem dúvida, pouco têm a ver com a realidade mesma da prática acompanhada.É o lúdico, o catártico, como ocorre no êxtase religioso ou estético.Uma interessante continuidade simbólica do imaginário guerreiro.Daí o uso(indevido, frise-se) do termo "herói", banalizando o termo em si: afinal, herói se sacrifica por uma causa, a própria vida, uma expansão de despojamento.De certa maneira, o esporte é mais próximo do religioso, nesse caso, sob o viés neurótico e sexual ;uma pena Dr.Freud não ter tido tempo de vida para analisar as psicogêneses neuróticas dos sentimentos de torcedores.Bertrand Russell tinha um grande amigo sábio e filósofo que encerrava qualquer discussão entre os dois, por mais complexa e urgente que fosse, se ela calhasse com o horário do jogo de beisebol de seu time do coração.Imagino a cara do Russell , na hora.Tenho amigos que ficam simplesmente alucinados pelos seus times.Já fui assim, perdi o toque faz tempo, ainda gosto do futebol(não o praticado atualmente aqui na terrinha) mas não consigo mais sentir a tal catarse que dura pouco(aliás, pouco a pouco, vão diminuindo minhas catarses ,a não ser as ligadas ao estético artístico: amadurecimento ou fenecimento?),  longe do encanto provado na infância ou adolescência.Enfim: não consigo mais me irmanar na histeria coletiva do gosto da vitória.Gosto mais dos aspectos técnicos envolvidos nos esportes, do treinamento e do uso da razão na preparação do atleta.Mas ainda me sensibilizo bastante com os derrotados, sempre em maior quantidade.Na era do capitalismo triunfante e competitivo, não levo muito a sério o lero-lero de que"o importante é competir"; isso é mais aplicável a quem não tem chance de ganhar.E já houve época em que ganhar era ganhar uma guerra, no caso.O fato é que , assim como na mercantilização artística, o esporte pode mexer com muito dinheiro.Mas a essência, talvez, tanto do esporte como da arte, tem pouco a ver com a imagem que se faz deles pelos poderes do capital e seus agentes de propaganda e consumo.Como tudo na vida, sempre temos que nos distanciar para melhor apreciar.

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