Então é
assim mesmo.Tão enfurnado na “poltrona de minha melancolia” tenho que ver isso
tudo que está aí.O tempo passou e caiu como uma pedra na cabeça e tenho que ver
tanta coisa degradada dentro e fora de mim.Será que a história tem uma
filogenética própria nos moldes da biologia?
Assoberbado em minha sempre viciosa
subjetividade pequeno burguesa, a mesma que me causava outrora certo remorso na
inação política(“seu anarquismo, sua irresponsabilidade!”), vejo um momento em
que os ares parecem assumir tons bem mais sombrios. Essa nossa terra cheia de
sol é cheia de sombras lançadas por nuvens de cretinice. Nada a me causar
surpresa, exceto pela rapidez estranha dos acontecimentos. No Brasil só
sacanagem é que anda rápido. Para esses corvos, abutres e hienas políticas,
resta-lhes a ejaculação precoce de sempre. De certa maneira, julgo-me
presunçosamente sábio por me espantar com tudo, ao mesmo tempo que nada mais me
surpreende. Ainda mais em política institucional que atua em meio ao
analfabetismo político da população.Pior que as ilusões são os erros cometidos.
Nós os cometemos frequentemente, os grupos aos quais pertencemos também, com a
vantagem da culpa ser dividida.Com isso o remorso é menor?Agora estamos nisso
aí, eu, aqui na solidão de meu quarto, tentando me aliviar com brumas
imaginárias pela fumaça de meu cachimbo. Se ligar o rádio temo por uma súbita
náusea que me mostraria o que almocei.Querendo ou não, o mundo lá fora vai me
pegar, independente de minha vontade. Eu, assim como essa frágil porcariazinha
que chamam de mundo pouco representamos para o universo.Sorte de quem acredita
em deus. Eu, sou um homem de azar.E azares.
Os poderosos sempre estão ativos em suas
cavernas e escritórios, discutindo as formas como o poder, a grana e outras
coisas serão divididas. E que o resto, a raia miúda, a turba ignara que produz
o grosso da riqueza do mundo venha
atrás. O Brasil parece ainda ser uma hipótese em andamento, um experimento
criado em bases laboratoriais deficientes e com metodologia errada.Quando os fins
justificam os meios, esses últimos podem
gerar fins não imaginados. Dificilmente o resultado é bom.E toda “democracia”
tem algo de farsesco.Cabe agora fazer o balanço, em meio a sabe lá o que virá.Ser
otimista agora seria ser algo além de mal informado, seria convicção na própria
burrice.Quando se fica acomodado as forças externas passam por cima da gente.
Somos sempre vítimas de nossa ação ou inação.Talvez esse tenha sido o erro de
tanta gente, gente como eu e que continua sendo gente que espera alguma coisa.
O que nos resta: esperar.Quem não espera por algo morre logo, já que passamos
toda a vida esperando por apenas uma certeza, a morte.
Em todo caso, o país não vai morrer, as
coisas vão prosseguir, muita gente vai entrar numa fria e a grande senzala
natural continuará sendo mantida em seus estábulos de inércia, no diminuição da
ração de angu.É o que sonham os poderosos, os de ontem, hoje e sempre.Nossa
história e seu tecido são plenos de tragédias, grandes e pequenas.
Vou ficar aqui, vou sair daqui.Amanhã,
como tudo nessa vida, terá que haver muita vontade e imaginação para se continuar.Andamos para a frente, andamos
para trás.O problema é definir se o movimento que prevalece é progressivo ou
regressivo.Não haverá guerra explícita, mas batalhas não faltarão.Como meus
ancestrais, serei eu apenas mais um de uma geração vencida, como me diziam avós
e outros mais velhos?Não sei.Mas sei dos erros que cometi e ainda
cometerei.Talvez a esperança seja apenas mais um deles.Mas preferível é errar tentando,
como em tudo, como na arte, como na vida.Possível é que tudo, absolutamente
tudo ocorra.Inclusive nada.Mas a vida é assim mesmo.Se até mesmo revoluções
muitas vezes resultam em poucas coisas ou mudanças....
Mas estando ou não enfurnado nessa tal “poltrona
melancólica”, nada anula o nojo ou desprezo que brota fundo, como um secreção
de ferida na alma.Esperar que o pior não venha.Mas pode vir, por que não?
Ainda bem que há jovens no mundo.Os futuros
erros podem ser menores que os atuais.Todos cúmplices e vítimas nesse circo, pelo menos não aceitei usar o
nariz de palhaço.
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