Passeio entre parques e ruas, algumas cheias, outras desertas.Sombras, que minha consciência diz serem pessoas, pairam nas calçadas, rastros do sol que são, enquanto este parece estourar como uma bolha amarela no alto do céu.Tudo é forma enredada por um silêncio absoluto, na turbulência furiosa que não se aquieta na cidade.Penso em sair daqui, disso tudo, longe dessas mazelas mesquinhas de cotidiano que me infernizam, esperando que o corpo melhore, a alma alivie.Assola-me uma gripe indigesta, dando-me a impressão de que vou morrer.A doença é sempre uma sombra, suspiro ou suor da morte que se apodera de nosso corpo, nossas tripas parecendo não ser nada mais que matéria votada à decomposição.Como pode?Como pode toda essa matéria frágil virar, por exemplo, algo de beleza num corpo feminino?Sei não...Vontade de não estar mais aqui, sonhar com um mundo além desse aqui, tão preso, encastelado em paredes e muros sombrios de melancolia escorrendo como limo em paredes cinzentas como certas tardes de outono.Lá fora, o ruído conduzido pelas sombras de sempre.
Aqui, dentro de mim, da sala, do quarto, no paredão esculpido nesse cordão sanitário de sentimentos alheios, fico pensando na vida, na morte, na gripe, que poderia inclusive me abrir um caminho para a morte.Ou seja, parcialmente morro agora e nem ao menos percebo.Quem garante que ela, gripe, como uma fêmea desejosa, não avançará de forma irreversível até consumir-me todas as entranhas ou restos de saúde?O vão sonho da ciência não explica todo acaso.Essa gripe não passa de um pedaço de morte que parcialmente grudou na epiderme de meu ser.Sou pele e órgãos asfixiados pelo ritmo da natureza que anseia por me devorar.Por dentro, apenas um estranho calor a me devorar, mais ou menos localizado no lado esquerdo do peito.Sempre esquerdo, sempre gauche na vida...ou na gripe.No fundo, minha alma permanece sempre gripada.
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